quinta-feira, 10 de maio de 2012

O NAVIO-MOTOR INGLÊS "BENCRUACHAN" SOFRE EMBATE COM VOLTA DE MAR DESCOMUNAL, "FREAK WAVE", AO LARGO DA COSTA ORIENTAL DA ÁFRICA DO SUL

 BENCRUACHAN / autor desconhecido - Photoship Co., UK /.

Finais de 1974, escalava o porto de Leixões, em rota do Extremo Oriente para Inglaterra, como tantas vezes o fazia, o belíssimo e excelente navio-motor Inglês BENCRUACHAN, imo 6814829/ 170,2m/ 12.092tb/ 21,5 nós, lançado à água a 16/04/1968 pelos estaleiros Charles Connel & Co., Ltd., de Scotstoun, Glasgow, e pertencente à importante e vetusta casa de navegação Ben Line Steamers Ltd., Leith, ao serviço do grupo BenOcean, Liverpool, onde descarregou entre uma grande variedade de mercadoria, CKD (caixas c/ elementos para montagem de automóveis), borracha para artefactos e pneumáticos, etc. Nada de interesse haveria a relatar, salvo um grave e invulgar acidente ocorrido, numa das suas rotas “homeward".
Ás primeiras horas de 02/05/1973, durante a viagem do porto de Djakarta para o de Londres, pela rota do Cabo, devido ao bloqueio do Canal de Suez, o BENCRUACHAN, um navio de sólida construção, esteve na iminência de sofrer um golpe fatal, quando navegava com a máquina à velocidade de 19,5 nós, a cerca de 80 milhas a sudoeste do porto de Durban, foi imprevisivelmente batido por uma volta de mar descomunal, sem que ninguém contasse com uma onda de tal magnitude, que subiu ao nível da ponte de comando.
O navio meteu-se de proa na referida volta de mar, a qual quebrou dentro do navio e levou borda fora três contentores, um dos querenos e outros materiais, que se encontravam estivados no convés, capazmente peados, e quase destruiu ou arrancou, completamente a sua proa, a qual ficou alquebrada por detrás do porão nº 1. Note-se que o castelo de proa era bastante alongado. Foi um grande milagre ter resistido, caso contrário teria perdido a sua proa e muito possivelmente ter-se-ia afundado com perda de 52 vidas.
O petroleiro Inglês FLOWERGATE, navegando nas proximidades, e aos primeiros pedidos de socorro acorreu ao local, e preparava-se para lançar as baleeiras ao mar, o que foi desnecessário, visto a situação no navio acidentado se ter estabilizado, todavia um helicóptero recolheu um casal de passageiros, levando-os para terra, além disso um rebocador e um salva-vidas zarparam de imediato um porto algures na costa Sul Africana. O FLOWERGATE ficou a pairar junto do navio sinistrado até à chegada de rebocadores, os quais tentaram conduzi-lo de regresso ao porto de Durban, contudo a autoridade marítima impediu a sua entrada, como é óbvio, devido ao navio estar muito metido de proa e como tal não haver água suficiente mas também por o porto se encontrar muito congestionado, que foi uma das razões, porque o BENCRUACHAN, que vinha de rumo àquele porto para bancas, e impedido de entrar, prosseguiu a sua rota para sul, a fim de demandar o porto da Cidade do Cabo e acabou por encontrar aquele imprevisto vagalhão de cerca de 14 metros.
O BENCRUACHAN ficou ancorado ao largo de Durban, onde baldeou a sua carga para outras embarcações, conquanto, apesar de estar localizado em águas calmas, continuava sujeito a submergir. Passados dez dias foi levado para o porto, tendo recebido reparações provisórias e colocadas placas metálicas de protecção em toda a zona afectada e então iniciou a viagem para a Europa em lastro, pelos seus próprios meios, tendo recebido as reparações finais pelo estaleiro Rotterdamsche Droogdock Mij., Roterdão, continuando a fazer a rota do Extremo Oriente, escalando também o porto de Leixões na sua rota “homeward”, até à sua venda em 08/1980 a sucateiros de Kaohsiung, Taiwan, onde acabou os seus dias, após 12 anos do lançamento à água no Clyde.
Felizmente nessa viagem acidentada, contra o usual, não escalava Leixões, o que a efectivar-se teria sido uma grande trabalheira com a obrigatoriedade dos recebedores e seguradoras das mercadorias terem de apresentar os usuais "average bonds" e os respectivos depósitos das verbas "ad valorem" estipuladas pelos P & I, aos agentes consignatários da BenOcean, a firma Soc. Com. Garland, Laidley, do Porto.
O BENCRUACHAN tornou-se também, um de uma longa lista de acidentes, que incluíram, nos últimos anos, o transatlântico Inglês EDINBURGH CASTLE (avarias bastante graves), o petroleiro Liberiano WORLD GLORY e muito provavelmente o desaparecimento do paquete Inglês WARATAH há cerca de cem anos. A Union Castle Line, armadora do EDINBURGH CASTLE passou a instruir os seus capitães para navegarem mais ao largo, nas 200 braças, onde a agitação marítima não é tão perigosa.
Consta que alguns meses depois, um moderno navio da Neptune Orient Line, Singapura, julga-se que fosse o NEPTUNE  PEARL, 222m/ 31.077tb, também foi notícia de ter sido atingido por uma dantesca volta de mar que lhe causou danos graves, na mesma área onde se deu o acidente do BENCRUACHAN, se bem que em ambos os casos não houvesse vitimas.

 O BENCRUACHAN ao largo do porto de Durban, vendo-se a sua proa alquebrada por detrás do porão nº1 / Gravura de artigo do Fairplay International Shipping Journal, 20/09/1973 (by Nicholas Dudley) /.

Também o paquete Português VERA CRUZ, 186m/ 21,750tb, da CCN, Lisboa, não foi excepção às chamadas ondas sísmicas gigantes da costa Sul Africana, corrente das Agulhas, quando na madrugada de 26/05/1970, com cerca de 3.000 pessoas a bordo, na sua maioria militares, que regressavam à metrópole, após a sua dura e longa comissão de serviço em território de Moçambique, perto do Cabo das Tormentas, nas 100 braças, foi apanhado por uma onda descomunal, que além de fazer avarias graves nas estruturas daquele enorme navio, fez quebrar os vidros temperados de todas as janelas da ponte de comando e ainda fez desaparecer mapas, cartas de marear, réguas, esquadros, compassos, etc. dos armários da casa de navegação e por aí além. Note-se que aquelas estruturas estavam a 20 metros acima do nível do mar.
Apesar do grande susto de todos a bordo e muito mais da tropa, praticamente não houve sinistrados. O navio retrocedeu para o porto de Lourenço Marques, a fim de receber as reparações provisórias. Segundo relato do imediato, ao semanário Noticias Magazine, de 31/03/2002, que na ocasião do embate ia de quarto, juntamente com um marinheiro, se vem uma segunda volta de mar de igual magnitude, muito possivelmente o VERA CRUZ não resistiria.
No inicio dos anos 50, o paquete Português SERPA PINTO, 137m/ 8.267tb, da CCN, Lisboa, transportando passageiros e carga para o Brasil, já por fora do farol do Esporão de Leixões, quando ia de saída, também sofreu o embate de uma volta de mar descomunal, se bem que própria de tempestade, que lhe causou danos nas estruturas da proa e ferimentos em alguns tripulantes. Em face desse incidente esteve a pairar ao largo até a situação acalmar, prosseguindo a viagem para o porto de Lisboa sem mais percalços.
Agora recue-se alguns séculos e veja-se as naus, caravelas ou galeões da carreira da Índia, verdadeiras cascas de nóz, os sacrifícios, que aquelas gentes devem ter passado e aqueles que por ali ficaram, como o Bartolomeu Dias, quando tentavam fazer aguada nas costas da hoje África do Sul, Madagáscar ou de Moçambique, etc.
Fontes: Freak Waves; Fairplay International.
Rui Amaro

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1 comentário:

Anónimo disse...

Foi há quarenta e três anos(26/05/70)
Eu estava a bordo do Vera Cruz.
Carlos Nabeiro.