quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

UMA BALEEIRA DO N/M NORUEGUÊS “CYPRIA” EM DIFICULDADES JUNTO DO ESPORÃO DE LEIXÕES



CYPRIA , década de 40.


Ano de 1949, um Domingo invernoso, vento forte de Sudoeste e mar tempestuoso, o navio-motor Norueguês CYPRIA, “long time charter”, ao serviço da Fabre Line, Marselha, na carreira do Mediterrâneo/costa Leste dos E.U.A., há dias que se encontrava fundeado ao largo do porto de Leixões, aguardando cais, e não podendo demandar aquele porto, a fim de se abrigar do mau tempo na Bacia, por esta se encontrar superlotada de navios, uns a aguardar lugar na doca nº 1 e outros à espera de melhoria de mar para demandarem o rio Douro.
O CYPRIA, cuja despensa estava a ficar esgotada, suspendeu e sem que ninguém o previsse, veio até junto do Farol do quebra-mar do Esporão, embalado pela forte ondulação dando enorme balanço, e chegado aí, fez marcha à ré, e lançou ao mar uma baleeira a remos, tripulada com nove homens, a fim de vir a terra buscar mantimentos.
Entretanto, o vento cambou para Noroeste e a baleeira começou a descair, perigosamente para a zona de forte rebentação, junto da penedia da praia do Castelo do Queijo, embora retrocedendo, tentasse fazer-se ao largo para ser recolhida pelo navio.
O CYPRIA, um visitante regular do porto de Leixões desde 1931, salvo o período da guerra mundial, fez várias tentativas arriscadas de aproximação à baleeira, apitando continuamente por socorro. No entanto, para não ser atirado para a costa fazia marcha à ré e voltava de novo, sem conseguir pegar na baleeira, até que de bordo da traineira IBÉRIA PRIMEIRO, alguém se apercebeu do perigo iminente daquelas almas virem a ser despedaçadas na penedia da costa, e sem perda de tempo, visto aquela embarcação de cerco se encontrar fundeada à rebeça do molhe Norte e com fogo aceso, saiu do porto, suportando bastante mar lateral e salvou aqueles nove camaradas Noruegueses de morte certa, já “in extremis”, levando a baleeira a reboque para dentro do porto. O CYPRIA fez-se de novo ao largo da costa e só entrou em Leixões ao fim da tarde, após um ou outro navio ter deixado o porto. Estranhamente não se vislumbrou a presença do salva-vidas CARVALHO ARAÚJO!
À tripulação da IBÉRIA PRIMEIRO foi concedida pelo ISN, Diploma e Medalha de Cobre, na pessoa do camarada chefe de quarto, pelo acto de heroísmo, em que arriscaram as suas próprias vidas. Estava eu nos meus doze anitos, e recordo-me, perfeitamente deste episódio.
O CYPRIA, 120m/4.366tb, 22/04/1931 entregue por Burmeister & Wein, Copenhaga, por encomenda de A/S D/S Hassel (A/S Rederiet Odfjel) Bergen; 22/12/1950 CURIE SKLORDOWSKA, Polskie Linie Oceaniczne, Gdynia; 1969 utilizado como pontão (store ship) MPH GDY MP4, em Gdynia; 23/05/1986 o seu casco chegou a Naantaly, Finlândia, para demolição.
Gémeo do INGRIA, A/S Inger (Jacob Kjod, Bergen, que encalhou no porto de Leixões, devido ao ciclone de 27/01/1937 e se perdeu em 04/02/1943 devido a ataque por torpedo lançado pelo U-600, quando em viagem de Hull para Nova Iorque, o CYPRIA que saíra de Sines, Portugal, no inicio da 2ª Guerra Mundial, onde carregara para Willmington e Nova Iorque. conseguiu navegar por todos os oceanos sem ter sido atingido pela arma de guerra do Eixo e do Japão, particularmente por submarinos e no pós-guerra voltou a escalar portos Portugueses, ao serviço da Fabre Line.


O INGRIA encalhado na bacia do porto de Leixões

http://www.pol.com.pl/?sub=3&sub2=c&statek=203

Imagens: CYPRIA - autor desconhecido; INGRIA – imprensa diária.
Rui Amaro

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