quarta-feira, 2 de julho de 2008

«ANTÓNIO PINTO D'ALMEIDA "PANTALEÃO" UM VERDADEIRO LOBO DO MAR DA FOZ DO DOURO »



O piloto-prático da barra António Pinto d' Almeida "Pantaleão" exibindo várias condecorações, dentre as quais à direita, aquela que lhe foi atribuida pela Rainha Regente do Reino de Espanha

O piloto-mór do Douro e Leixões José Pinto d' Almeida

A 06.07.1888, dia de nevoeiro cerrado, navegavam muito encostados à terra, perto da Foz do Douro, duas pequenas canhoneiras da Armada Real Espanhola, a “PERLA” e a “RUBI”, que há dias eram esperadas na barra do Douro, possivelmente em visita de cortesia ou para abastecimento de carvão e viveres, as quais estavam a aproximar-se demasiado da costa, que no local é formada por imensa penedia bastante perigosa.
Na ocasião, António Pinto d’Almeida “Pantaleão”, marítimo, que se encontrava por casualidade perto da praia do Ourigo, receando o encalhe das então desconhecidas embarcações, que assinalavam a sua marcha e posição com toques compassados das suas sirenes de nevoeiro, ele e um outro comparsa, não hesitaram e lançaram-se às águas e nadando no meio da forte cerração, sujeitos a perderem-se, ele conseguiu alcançar o alvo com enorme espanto dos comandantes e das guarnições daqueles vasos de guerra, conquanto o seu companheiro havia desistido, regressando à praia. Recolhido a bordo da “PERLA” e uma vez reconfortado, ordenou marcha à ré evitando assim o encalhe e possível perda das duas embarcações.
Passado o perigo de encalhe e sempre sob denso nevoeiro e sua orientação, a “PERLA” e a “RUBI” demandaram a barra do Douro, tendo então subido a bordo os respectivos pilotos da barra, que substituíram aquele arrojado marítimo e prático nato da área, indo as duas canhoneiras dar fundo no lugar do Bicalho, Massarelos, sem mais percalços.
Em face desse nobre, arrojado e espectacular feito, a Rainha Regente de Espanha agraciou com uma das mais elevadas condecorações do Reino aquele destemido marítimo, um verdadeiro lobo do mar da Foz do Douro, que também era um exímio nadador de competição.
A canhoneira “PERLA” afecta ao comando naval de Cadiz, pertencia â classe DIAMANTE da qual faziam parte a “RUBI” e a “DIAMANTE” e como estas, também fora construída em Espanha para o serviço de patrulha em zonas de baixios e vias fluviais de Espanha e devido ao seu reduzido calado, mais tarde, foi colocada no serviço de fiscalização do rio Minho internacional até à fronteira de Tuy/Valença. Em 1925 passou à disponibilidade, tendo então sido desmantelada para sucata.
Características principais: Casco em ferro; 19m/42tb; força de máquina 110hp; velocidade 7 nós; raio de acção 400 milhas; bancas 5tons; hélices 1; equipagem 26 homens: metralhadora 1 de 25mm/cal. 42.
Na eventualidade do episódio acima assim se ter passado, possivelmente deve ter sido um dos casos em todo mundo, se não o único, em que um marítimo abordou a nado uma embarcação para evitar o encalhe das duas unidades navais na costa e as fazer conduzir a bom porto.
O António Pinto d’Almeida “Pantaleão”, herói e destemido protagonista do episódio acima relatado, tempos mais tarde candidatou-se e foi admitido a piloto da barra da Corporação de Pilotos da Barra do Douro e do Porto Artificial de Leixões.
No dealbar do século XIX para o século XX foram admitidos a pilotos práticos das barras do Douro e Leixões dois candidatos de nome José Pinto d’Almeida e António Pinto d’Almeida, ambos irmãos, também eles conhecidos por “Pantaleão” e familiares daquele a que se refere o texto. O José foi empossado no cargo de piloto-mor a 16.11.1925, tendo sido um chefe carismático, que defendia os seus subordinados, quando por qualquer motivo eram chamados à presença do capitão do porto, por quem era muito respeitado, tendo dado um certo dinamismo à sua corporação, pois foi à Alemanha adquirir a primeira lancha-motor, a “P1” e tal como o seu ascendente foi um verdadeiro lobo do mar no salvamento de inúmeros náufragos e também era muito capacitado no lançamento de foguetões para estabelecer o cabo de vaivém para resgate das tripulações das embarcações em perigo, pois assim sucedeu aquando do encalhe do paquete inglês “VERONESE”, ocorrido em 1913 junto do lugar da Boa Nova e em que a sua participação foi muito activa e meritória no salvamento dos náufragos.
Conta-se, que um certo dia, quando um capitão do porto advertia aquele piloto-mor, por um piloto se ter visto obrigado a fazer uso da sirene do vapor que conduzia. Pois na altura esse superior hierárquico assim proibira de as embarcações fazerem uso da sirene, o que era, verdadeiramente contra producente. O dito piloto-mor insurgindo-se contra o capitão do porto, frisou-lhe que a partir de então, os seus subordinados passariam a fazer uso da sirene, quando para tal o entendessem e ainda mais lhe disse “Menino, aqui (na Capitania) mandais Vós, mas lá em baixo (na barra e no rio), quem manda sou eu” e indignado abandonou o gabinete do capitão do porto.
Há uns tempos, numa reportagem de canal de televisão, mostrava o prático do porto Brasileiro de Aracajú - Sergipe, já perto da reforma, de seu nome José Martins Ribeiro Nunes, mais identificado por "Zé Peixe", que para desembarcar do navio que conduzia, não utilizava as usuais escadas de quebra-costas, pois tinha por mania lançar-se à água e então aí, era recolhido pela lancha de práticos, que o conduzia a terra, ou nadava mesmo até à costa. Aquele prático é que era um autêntico “crazy pilot”. Nem ao diabo lembrava tal acto!
Rui Amaro

Ver video em Prático Zé Peixe
Fontes: 1) Pedro Reis

2) http://www.spanawar

A canhoneira "PERLA" amarrada no rio Minho, junto a Tuy. /Postal ilustrado-Colecção privada/.