À BARRA DO PORTO
A 03/10/1935, pelas 12h00, avistou-se na linha do horizonte, a Oés-sudoeste da barra da cidade do Porto, um puro lugre de três mastros do interessante tipo de lugre Inglês da Terra Nova, que navegava a todo pano, com Nortada fresca e em pouco tempo colocava-se de capa ao vento a uma milha por sotavento da barra. Esse era o lugre bacalhoeiro Português MARIA CARLOTA, 42m/ 230tb/ 4.631 quintais de bacalhau salgado, que cruzara o Atlântico Norte, vindo dos pesqueiros da Terra Nova, e que mostrava a sua linha de água bastante afogada, prova de uma boa campanha de pesca.
Às 14h00, o piloto Joel da Cunha Monteiro saltou a bordo e às 14h30 passava a barra conduzido pelo rebocador NEIVA, muito saudado por populares em terra, nomeadamente pelos familiares dos tripulantes e pescadores, indo amarrar no lugar da lingueta do Bicalho, tendo sido o primeiro navio da frota bacalhoeira Portuense da campanha de 1935 a demandar o seu porto de armamento.
O NAUFRÁGIO
04/11/1947, a tripulação do navio-hospital USAHS CHARLES A. STAFFORD, 1944-1948/ 135m/ 11.298tb/ 17,5 nós, hoje teve de fazer duas abordagens na sua baleeira salva-vidas, a fim de resgatar uma tripulação de 31 homens capitaneados pelo Cmdt. António F. Matias, do lugre Português MARIA CARLOTA, que se afundou no meio do Atlântico sob mar tempestuoso.
A “US Coast Guard” anunciou o salvamento da tripulação depois de ter recebido um rádio do comandante do USAHS CHARLES A. STAFFORD, Capt. Gunnar Van Rosen, de Brooklyn.
A companha do lugre à vela de três mastros MARIA CARLOTA, que se encontrava em rota dos pesqueiros dos Grandes Bancos da Terra Nova, pegaram fogo ao seu navio antes de o abandonar com água aberta e aparentemente alquebrado e deixaram-no afundar,
A “US Coast Guard” fez seguir para a área do naufrágio socorro aéreo e naval, localizada a cerca de 640 milhas náuticas a Lés-nordeste do porto de Argentia, na Terra Nova, e comunicaram ao RMS QUEEN ELIZABETH para alterar o seu rumo, a fim de prestar assistência ao lugre em dificuldades, seguindo mais tarde para Southampton, porto de destino daquele transatlântico, e entretanto o navio-hospital Norte-americano, que transportava militares doentes desde Bremerhaven, levou os naufragos de rumo à sua base em Nova Iorque.
O QUADRO DOCUMENTAL DO NAUFRÁGIO PINTADO PELO CAPITÃO DO NAVIO SALVADOR
Foi noticiada pelos jornais de todo o mundo a tragédia do lugre Português MARIA CARLOTA, afundado no Atlântico quando regressava à Pátria, após uma campanha de pesca nos Bancos da Terra Nova. Os seus 21 tripulantes foram salvos pelo transporte hospital Norte-americano USAHS CHARLES A. STAFFORD, quando estavam já em sério risco, extenuados pela luta desesperada que travaram contra a tempestade durante três dias.
O barco perdeu-se, mas, felizmente, nem uma só vítima houve a lamentar. Até o gato-mascote de bordo foi recolhido, para depois ser gentilmente ofertado à tripulação salvadora.
Um naufrágio. Afinal, como tantos outros, e de que em breve poucos se lembrarão – dir-se-á. No entanto, o momento culminante do afundamento do Maria Carlota não será esquecido facilmente, muito pelo contrário, será assunto obrigatório de uma conversa, sempre que o barco Norte-americano entre em qualquer porto e ao camarote do seu capitão sejam feitas visitas.
È que numa das paredes vê-se agora um quadro pintado pelo Capt. Gunnar van Rosen, que é um artista de invulgar sensibilidade, apesar da profissão rude que escolheu.
Quando o barco mergulhava para sempre, o marinheiro-artista fez uma fotografia cheia de oportunidade. Depois, sobre aquele documento, pintou o quadro, acrescentando-lhe o navio que comanda para registar também o salvamento dos 31 pescadores portugueses.
http://www.ibiblio.org/hyperwar///OnlineLibrary/photos/sh-us-cs/army-sh/usash-sz/siboney.htm
http://library.mysticseaport.org/ere/odetail.cfm?id_number=1951.419
NB - A história completa do lugre MARIA CARLOTA e seu data.-base poderá ser consultada no explicito blogue NAVIOS E NAVEGADORES
Fonte: José Fernandes Amaro Junior: Lloyds Register of Shipping; The Newa and Courier, Charleston, SC.; O Comércio do Porto.
Rui Amaro