sexta-feira, 4 de junho de 2010

RECORDANDO O LUGRE Á VELA “MARIA CARLOTA”


O MARIA CARLOTA fundeado em Belém, estuário do Tejo, diante da Exposição do Mundo Português em 05/1940, pronto para a cerimónia religiosa da Benção dos bacalhoeiros /(c) foto de autor desconhecido /.


À BARRA DO PORTO


A 03/10/1935, pelas 12h00, avistou-se na linha do horizonte, a Oés-sudoeste da barra da cidade do Porto, um puro lugre de três mastros do interessante tipo de lugre Inglês da Terra Nova, que navegava a todo pano, com Nortada fresca e em pouco tempo colocava-se de capa ao vento a uma milha por sotavento da barra. Esse era o lugre bacalhoeiro Português MARIA CARLOTA, 42m/ 230tb/ 4.631 quintais de bacalhau salgado, que cruzara o Atlântico Norte, vindo dos pesqueiros da Terra Nova, e que mostrava a sua linha de água bastante afogada, prova de uma boa campanha de pesca.

Às 14h00, o piloto Joel da Cunha Monteiro saltou a bordo e às 14h30 passava a barra conduzido pelo rebocador NEIVA, muito saudado por populares em terra, nomeadamente pelos familiares dos tripulantes e pescadores, indo amarrar no lugar da lingueta do Bicalho, tendo sido o primeiro navio da frota bacalhoeira Portuense da campanha de 1935 a demandar o seu porto de armamento.


O NAUFRÁGIO


04/11/1947, a tripulação do navio-hospital USAHS CHARLES A. STAFFORD, 1944-1948/ 135m/ 11.298tb/ 17,5 nós, hoje teve de fazer duas abordagens na sua baleeira salva-vidas, a fim de resgatar uma tripulação de 31 homens capitaneados pelo Cmdt. António F. Matias, do lugre Português MARIA CARLOTA, que se afundou no meio do Atlântico sob mar tempestuoso.

A “US Coast Guard” anunciou o salvamento da tripulação depois de ter recebido um rádio do comandante do USAHS CHARLES A. STAFFORD, Capt. Gunnar Van Rosen, de Brooklyn.

A companha do lugre à vela de três mastros MARIA CARLOTA, que se encontrava em rota dos pesqueiros dos Grandes Bancos da Terra Nova, pegaram fogo ao seu navio antes de o abandonar com água aberta e aparentemente alquebrado e deixaram-no afundar,

A “US Coast Guard” fez seguir para a área do naufrágio socorro aéreo e naval, localizada a cerca de 640 milhas náuticas a Lés-nordeste do porto de Argentia, na Terra Nova, e comunicaram ao RMS QUEEN ELIZABETH para alterar o seu rumo, a fim de prestar assistência ao lugre em dificuldades, seguindo mais tarde para Southampton, porto de destino daquele transatlântico, e entretanto o navio-hospital Norte-americano, que transportava militares doentes desde Bremerhaven, levou os naufragos de rumo à sua base em Nova Iorque.



O QUADRO DOCUMENTAL DO NAUFRÁGIO PINTADO PELO CAPITÃO DO NAVIO SALVADOR


Foi noticiada pelos jornais de todo o mundo a tragédia do lugre Português MARIA CARLOTA, afundado no Atlântico quando regressava à Pátria, após uma campanha de pesca nos Bancos da Terra Nova. Os seus 21 tripulantes foram salvos pelo transporte hospital Norte-americano USAHS CHARLES A. STAFFORD, quando estavam já em sério risco, extenuados pela luta desesperada que travaram contra a tempestade durante três dias.

O barco perdeu-se, mas, felizmente, nem uma só vítima houve a lamentar. Até o gato-mascote de bordo foi recolhido, para depois ser gentilmente ofertado à tripulação salvadora.

Um naufrágio. Afinal, como tantos outros, e de que em breve poucos se lembrarão – dir-se-á. No entanto, o momento culminante do afundamento do Maria Carlota não será esquecido facilmente, muito pelo contrário, será assunto obrigatório de uma conversa, sempre que o barco Norte-americano entre em qualquer porto e ao camarote do seu capitão sejam feitas visitas.

È que numa das paredes vê-se agora um quadro pintado pelo Capt. Gunnar van Rosen, que é um artista de invulgar sensibilidade, apesar da profissão rude que escolheu.

Quando o barco mergulhava para sempre, o marinheiro-artista fez uma fotografia cheia de oportunidade. Depois, sobre aquele documento, pintou o quadro, acrescentando-lhe o navio que comanda para registar também o salvamento dos 31 pescadores portugueses.


http://www.ibiblio.org/hyperwar///OnlineLibrary/photos/sh-us-cs/army-sh/usash-sz/siboney.htm

http://library.mysticseaport.org/ere/odetail.cfm?id_number=1951.419


NB - A história completa do lugre MARIA CARLOTA e seu data.-base poderá ser consultada no explicito blogue NAVIOS E NAVEGADORES


Fonte: José Fernandes Amaro Junior: Lloyds Register of Shipping; The Newa and Courier, Charleston, SC.; O Comércio do Porto.

Rui Amaro

domingo, 30 de maio de 2010

LUGRE “SENHORA DA SAÚDE” EX “HELGA”

O SENHORA DA SAÚDE demanda o porto de Leixões em 1950, a fim de ratificar o seu calado de água para de seguida rumar ao rio Douro / (c) Foto Mar - Leixões /.


O lugre escuna HELGA /(c) cortesia Museu maritimo de Elsinore /.


À saida da barra do Douro a 05/04/1948 - piloto da barra José Fernandes Amaro Júnior; imediato; capitão da Madalena; segundo motorista /foto do primeiro motorista /.


À saida da barra do Douro a 05/04/1948 - piloto da barra José Fernandes Amaro Júnior e o primeiro motorista /foto do primeiro motorista /-

Caso alguém saiba p.f. adicione os nomes em falta e obrigado.


SENHORA DA SAÚDE – lugre-motor bacalhoeiro construído em madeira/ 50,38m/426,37/ 48 dóris/ 7.000 quintais de bacalhau salgado, lançado à água em 11/1920 pelo estaleiro Fano Skibsvaerft A/S, Nordby, Fano, Dinamarca, como lugre-escuna a motor HELGA (357tb) para E. B. Kromann. Marstal; 1924/35 navegava à vela sem motor auxiliar; 1935 comprado por Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz., Lda., Aveiro, que lhe fez instalar um motor auxiliar; 1943 reconstruído em Aveiro, tendo feito parte da famosa “Portuguese White Fleet” e alguns anos mais tarde, já no pós-guerra, aquele imponente lugre, passou a fazer parte do armamento Portuense, embora registado na capitania do porto de Aveiro. Na campanha de 1951, devido a avaria na máquina, chega ao Porto a 01/10 com cerca de 30 dias de navegação à vela, entrando a barra a reboque do VANDOMA; A 08/09/1952 naufragou na Groenlândia por água aberta, tendo sido salva toda a sua tripulação, que estava sob as ordens do capitão José Augusto Malhado.

Em 1955 a empresa Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz., Lda, a fim de colmatar a falta do SENHORA DA SAÚDE aparece com o navio-motor de pesca à linha VILA DO CONDE, 53,8m/714tb, construído por Benjamin Bolais Mónica, na carreira da Gafanha da Nazaré., pertencendo à praça do Porto, e fazendo parte do seu armamento.

Numa certa saída da barra do Douro, tempo de bonança, era usual quando os navios bacalhoeiros passavam diante da Estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, B. V. Portuenses, os bombeiros de piquete accionarem a sirene de alarme, cujo som era idêntico à sirene de nevoeiro do SENHORA DA SAÚDE, a fim de saudarem o navio, resultando desse facto, que pelas ruas vizinhas, só se viam bombeiros em correria para o quartel, ainda a acabarem de se fardar, de capacete e casaco nas mãos, tal era o naufrágio que estava a ocorrer naquele "mar de calmaria"!



O SENHORA DA SAÚDE fundeado no estuário do Tejo, durante o periodo da Segunda Guerra Mundial /(c) foto de autor desconhecido /.


O SENHORA DA SAÚDE demanda a barra do Douro a reboque devido a avaria na máquina - 01/10/1951 / gravura da Imprensa diária /.




Sequência fotografica da construcção do lugre escuna a motor Dinamarquês HELGA / (c) cortesia de www.mitfaroe.dk - Torben Gromer /.


Fontes: Miramar Ship Index; Torben Garmer, Fano.

Rui Amaro