domingo, 7 de dezembro de 2008

« NAVIOS DE PAVILHÃO PORTUGUÊS ATACADOS OU AFUNDADOS POR UNIDADES NAVAIS OU AÉREAS BELIGERANTES EM CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO MUNDIAL DE 1939/1945 » (3)



CASSEQUEL –
ex Português PANGIM, ex Alemão NUMANTIALongo curso 1901 – 122m/4.751tb – Companhia Colonial de Navegação, Lisboa.


O Vapor CASSEQUEL ainda com três mastros, década de 20 /(c) foto de autor desconhecidos - colecção de F. Cabral/.

A 13.12.1941, pelas 12h00, o vapor CASSEQUEL deixava o Tejo com destino a São Tomé, Luanda e Lobito com escala por Ponta Negra, Congo Francês, transportando carga diversa. A sua tripulação era constituída por 48 elementos e levava 9 passageiros (2 senhoras e 7 cavalheiros). Pela tarde foi abordado por um navio patrulha Aliado e nessa mesma tarde foi sobrevoado por aviões.
A 14, logo ao alvor, foi questionado por um submarino. A todos mostrava no costado, superstruturas e à popa as cores Portuguesas e os sinais convencionais de identificação de navio neutro. Às 21h57 o CASSEQUEL navegava a 250 milhas a Sudoeste do cabo de S. Vicente, posição 35.08N e 11.14W, quando, traiçoeiramente foi alvejado sem aviso prévio, por um torpedo do submarino Alemão U-108 do comando do korvettenkapitan Klaus Scholz, que entre outras avarias destruiu a porta do leme e o hélice, não havendo por tal motivo perda de vidas.
Na ponte, de quarto de navegação, estavam o 3º oficial Jara de Carvalho e o praticante Fonseca Sequeira, que de imediato accionaram o sinal de alarme geral, tendo o capitão do navio, Comandante Sebastião Augusto da Silva, ordenado o abandono do CASSEQUEL, provocando um certo pânico mas que acabou por ser controlado pelos oficiais. Foram arriadas as quatro baleeiras mas a amarra de uma delas rebentou, fazendo com que todos os seus ocupantes se precipitassem no mar. Colocada a baleeira a flutuar, foram todos recolhidos sem mais percalços. Passados vinte minutos, já com as quatro embarcações salva-vidas distanciadas do vapor sinistrado, um segundo torpedo foi lançado pelo U-108, o qual atingiu o local onde 900 tambores de gasolina se encontravam estivados, fazendo deflagrar um enorme incêndio por todo o navio, seguido duma descomunal explosão que partiu o navio a meia-nau, envolvendo-o num mar de chamas e acabando por se afundar. Segundo se sabe, o vapor Português apresentava iluminação razoável, contudo as bandeiras e marcas da sua nacionalidade não eram muito perceptíveis à distância de 1.000 metros, pelo que o comandante Alemão arriscou afundar o navio, que lhe era estranho, uma vez que não tinha autorização de fazer parar um navio suspeito durante a noite.
O U-108 submergindo desapareceu da área, pelo que os quatro salva-vidas fizeram rumo a Nordeste no sentido de alcançarem as costas do Algarve, cada qual sob a orientação de um oficial. Ao alvor do dia 15, a baleeira do capitão e a do imediato tinham-se distanciado uma da outra e ambas, por sua vez, das outras duas, que continuavam a mover-se à força de remos, fazendo rumo a Nordeste.
Ainda a 15, um outro submarino Alemão, o U-131, sob o comando do Korvettenkapitan Arend Baumann, cruzou-se com dois dos quatro salva-vidas, fornecendo água e pão aos náufragos, os quais lhe pediram reboque até à costa do Algarve, pedido esse, que foi declinado. Dois dias depois, dia 17, aquele submarino era atacado e afundado a Nordeste da Madeira, por cinco contratorpedeiros Britânicos e por aeronaves do porta-aviões HMS AUDACITY, que lançaram cargas de profundidade e o alvejavam pela acção da artilharia, sem que poucos minutos antes não deixasse de ter tido a primazia de ser o primeiro U-Boot a abater uma aeronave Aliada durante a guerra de 1939/45. A totalidade dos 47 membros da tripulação do U-131, incluindo o seu comandante, foram salvos e consequentemente feitos prisioneiros de guerra.
Só dois dias mais tarde, dia 17, foram encontrados os primeiros náufragos do CASSEQUEL pelo salvadego da Royal Navy HMT CHAMPION, um ex rebocador de alto mar Francês, que encontrou a baleeira do imediato Rodrigues Passos com 13 elementos, conduzindo-os para Gibraltar, onde desembarcaram no dia seguinte.
Nesse mesmo dia, o salva-vidas do 2º oficial Dias Furtado e o do 3º oficial Jara de Carvalho eram sobrevoados por dois aviões da Royal Air Force, que comunicaram a posição dos náufragos ao vapor Português MARIA AMÉLIA, que de Lisboa rumava ao Funchal. Após 42 horas de mar eram recolhidos pelo dito vapor. 24 tripulantes e 7 passageiros, que foram desembarcados no Funchal a 18, pelas 14h00. Passados 6 dias vieram para Lisboa no paquete Português LIMA.


O vapor MARIA AMÉLIA que tomou parte nas operações de busca e resgate dos náufragos /(c) foto de autor desconhecido - colecção Reimar/.


A 19, pelas 12h00 foi avistada a cerca de 92 milhas do cabo de S. Vicente, por um avião da aeronáutica Portuguesa a baleeira do Comandante Sebastião Augusto da Silva, que acomodava 11 tripulantes e 2 passageiros. Em face disso, o contratorpedeiro NRP DOURO, que se preparava para largar com destino aos Açores, deixou o Tejo às 14h00, a fim de socorrer os náufragos. Pelas 06h00 do dia seguinte, após intensas buscas, já parecia pouco provável a localização do salva-vidas em causa, sem que as mesmas jamais deixassem de ser interrompidas e às 07h00, já com alvores, era avistado, ainda que com incerteza, um fogacho vermelho, pelo través de estibordo. Finalmente 20 minutos mais tarde foram observados novos fogachos de tom vermelho de uma embarcação, que desta vez eram da baleeira procurada, a qual às 07h32 já estava atracada ao portaló do NRP DOURO, que de imediato, a 25 nós, se fez de rumo a Lisboa, indo amarrar à sua bóia no dia 20, pelas 15h07. Os 11 tripulantes e os 2 passageiros foram desembarcados, pelo que todos os náufragos do CASSEQUEL se encontravam a salvo e em terra firme.


O NRP DOURO, que também tomou parte nas buscas e resgate dos náufragos, década de 30 /(c) foto de autor desconhecido - colecção de F. Cabral/.


O CASSEQUEL foi construído em 1901 pelo estaleiro William Gray & Co., Ltd., West Hartlepool, para o importante armador Alemão Hamburg Amerika Packet A/G (HAPAG), Hamburgo, que o baptizou com o nome de NUMANTIA. Em 1914 refugiou-se em Mormugão, Goa, onde em 1916 foi requisitado e apresado pelo governo de Portugal, para fazer face à falta de transportes marítimos devido à conflagração mundial, recebendo o nome de PANGIM. Após a falência e liquidação do seu armador TME – Transportes Marítimos do Estado, Lisboa, foi adquirido em 1925 pela Companhia Colonial de Navegação, Lisboa, passando a chamar-se CASSEQUEL e a fazer a carreira da Africa Ocidental Portuguesa.
Aquele vapor teve de origem três mastros, estando a chaminé colocada entre o mastro de vante e o de meia-nau. Em Agosto de 1933, quando navegava de Angola para S. Tomé, deflagrou um incêndio a bordo nos fardos de palha para alimentação do gado, que transportava para a Metrópole e que se teria propagado a uns barris de óleo, produzindo tal calor, que o mastro de meia-nau veio abaixo, As superstruturas ficaram destruídas, contudo manobrou-se o vapor de capa ao vento e limitou-se o incêndio, que entretanto foi debelado com os meios de bordo. Fez a viagem para Lisboa pelos seus próprios meios e mais tarde sofreu uma transformação nos Estaleiros Navais do Porto de Lisboa (CUF), ficando apenas com dois mastros e em substituição do mastro de meia-nau perdido, foram instalados um par de mastros reais.


O vapor CASSEQUEL, década de 30, após a alteração na sua mastreação/ (c) foto de autor desconhecido - colecção de F. Cabral/.

O U-108, sob o comando do Korvettenkapitan Rolf-Reimar Wolfram, abandonou a base de Lorient em 01.04.1943 alcançando a base de Stettin, Báltico, a 16.05.1943, após seis semanas e meia de mar. Durante esse período, atacou com 4 torpedos, após combate renhido o vapor americano ROBERT GRAY, 7,176tb. (liberty ship), que seguia isolado do seu comboio naval, acabando por explodir devido à grande quantidade de munições transportadas, perdendo a vida toda a sua equipagem de 62 elementos, entre tripulantes e artilheiros. Aquele submarino afundou-se no porto de Stettin, devido a bombardeamento aéreo inimigo. Posto a flutuar foi dado como incapaz e por tal motivo a 17.07.1944 foi metido a pique no mar Báltico.
O Korvettenkapitan Klaus Scholtz, que deixara o comando do U-108 em Outubro de 1942, foi promovido a Fregattenkapitan e passou a comandar a 12ª flotilha de submarinos da base de Bordéus, a qual foi dissolvida em Agosto de 1944 e o pessoal afecto a essa base, cerca de 220 elementos a 26.08.1944 retiraram e encaminharam-se por terra para a Alemanha, porém foram interceptados e capturados pelas forças americanas em Beaujancie, Loire, França. O Fregattenkapitan Klaus Scholtz passou 18 meses num campo de prisioneiros de guerra nos E.U.A.
Após a rendição da Alemanha Nazi aos Aliados e a sua libertação, serviu no período de 1953/56 na arma naval “Bundesgrenzschutz” (Guarda Fronteiriça Federal) e mais tarde foi transferido para a “Bundesmarine”. Tendo sido comandante de várias bases navais da nova marinha de guerra da Alemanha Federal, tais como Kiel, Cuxhaven e Wilhelmshaven. Em 1966 passou à disponibilidade, reformando-se como Kapitan-zur-zee e a 01.05.1987, aos 79 anos de idade, falecia em Bad Schwartau.


http://www.uboat.net/men/scholtz.htm

http://www.elgrancapitan.org/foro/viewtopic.php?f=10&p=410078


COIMBRA – Petroleiro de longo curso – 1937 – 129m/6.768tb – Standard Vacuum Transportation Co., Ltd., Londres.


O petroleiro inglês COIMBRA mostrando as cores de situação de guerra/desenho visionado por Rui Amaro/.

O relato do torpedeamento e afundamento do petroleiro Inglês COIMBRA nada teria de interesse para este texto, se aquele navio não tivesse sido encomendado e construído para substituir um seu antecessor do mesmo nome, que arvorava as cores de Portugal e por consequência viria a hastear a bandeira Portuguesa, o que não se concretizou devido à eclosão da 2ª guerra mundial, acabando por ser útil ao esforço de guerra dos Aliados.
A 15.01.1942, pelas 09h41, navegava o COIMBRA de Nova Iorque para o Reino Unido com um carregamento de 9.000 toneladas de óleos lubrificantes, sem qualquer escolta, quando ao largo de Long Island foi atingido por um torpedo lançado pelo submarino Alemão U-123, que era comandado pelo Kapitanleutnant Reinhard Hardegen. O deflagrar do torpedo no costado de estibordo formou uma enorme explosão, que iluminou os céus durante a noite, tendo a carga pegado fogo e as chamas espalharam-se através das águas. Habitantes da localidade de Hamptons, Long Island, podiam ver o fogo no mar a 27 milhas para Leste e alertaram as autoridades locais. Um segundo torpedo alcançou o petroleiro e a sua popa, imediatamente desapareceu nas águas e a proa ficou eriçada ao lume de água e mais tarde afundou-se por completo.
O capitão John Patrick Barnard, 29 tripulantes e seis artilheiros desapareceram no desastre. Dez sobreviventes, seis deles feridos foram retirados do mar embravecido. Dois tripulantes foram salvos pelo contratorpedeiro Americano USS ROWAN (DD 405) e foram levados para Argentia, Terra Nova. Os restantes sobreviventes foram salvos por um outro contratorpedeiro Americano e desembarcados em St. John’s, também na Terra Nova.
Passados tantos anos, os destroços daquele petroleiro, que é visitado por profissionais da arqueologia subaquática e amadores do mergulho, ainda hoje continuam a derramar o produto contido nos seus tanques de carga, segundo vestígios de óleo chegados às águas e praias de Long Island.
Em 1937 os estaleiros Alemães Howaldtswerke AG, Kiel lançavam à água o COIMBRA, que fora encomendado pela Socony Vacuum Transportation Co., Ltd., Montreal para a Standard Vacuum Transportation Co., Ltd, tendo sido registado em Londres, contudo sob bandeira Portuguesa viria a substituir o antigo petroleiro Português COIMBRA, 114m/4.779tb, ex Inglês WANDSWORTH WORKS, que pertencia à Empresa de Navegação Luso Marroquina, Lda., Lisboa.


http://robinfante.blogspot.com/2006/08/coimbra-august-5-2006.html

http://www.solomaquetas.com/forum/index.php?showtopic=10693

http://www.exordio.com/1939-1945/militaris/batallas/paukenschlag.html


CATALINA – ex inglês FALCONER, ex inglês HMS KILKEEL – Longo curso – 1918 – 52m/632tb – C.A.Moreira & Cia., Lda./Soc. Exploradora de Transportes., Lda. – Porto.


O vapor CATALINA ostentando as cores da sua neutralidade Portuguesa, 1940 /(c) foto de autor desconhecido - Imprensa Diária /.


A 15.01.1942, pelas 11h34, quando em viagem de Fortune para St. John’s, ambos portos da Terra Nova, foi torpedeado na posição 47.00N e 52.00W, aparentemente por engano pelo submarino Alemão U-203, comandado pelo Kapitanleutnant Rolf Mutzelburg, acabando por explodir, não dando qualquer hipótese de salvamento à desventurada tripulação, que foi para o fundo com o seu vapor, o qual era comandado, interinamente pelo capitão terranovense Henry (Harry) Thornhill, que também desapareceu no afundamento. O CATALINA, julga-se que ia de rumo a St.John’s, onde iria recolher o capitão Português, que se encontrava hospitalizado por doença súbita.
De acordo com os diários de bordo do submarino, consultados após a guerra, o CATALINA foi interceptado, quando estava a navegar em águas inimigas e transportava mercadorias carregadas em portos de nação adversária da Alemanha ou seja o Canada, contudo após o afundamento, o Kapitanleutnant Rolf Mutzelburg ficou convencido, que tinha afundado um transportador de munições.
Durante a primeira guerra mundial o capitão Henry (Harry) Thornhill passou dois anos em Portugal como agente promotor de venda de bacalhau, onde aprendeu a falar o português fluente e se os lugres bacalhoeiros Portugueses escalavam St. John´s, muitos dos seus capitães e tripulantes eram visita de sua casa. Aquando do seu falecimento, aos 56 anos de idade, era proprietário de um pequeno mas rentável negócio em Hickman Street. Henry (Harry) Thornhill foi também um experimentado capitão de palhabotes bacalhoeiros, tais como o CHRISTIE AND ELEANOR, que era um navio de 143tb do armador William Forsey e ainda do DOROTHY P. SARTY de Fortune.
O CATALINA, gémeo do OURÉM, ainda que com ligeiras diferenças, era o antigo caça-minas da Royal Navy HMS KILKEEL, o qual após o conflito foi transformado em navio mercante com o nome de FALCONER e em 1929 foi comprado pelo armador C.A.Moreira & Cia. Lda., Porto, tendo servido vários tráfegos. O CATALINA suportou uma enorme cheia no rio Douro em Dezembro de 1935, quando se encontrava amarrado no lugar da Ribeira do Porto.
O OURÉM, ex HMS KILDARY, também adaptado a navio de carga com o nome SORCERER e, igualmente comprado em 1933 pelo mesmo armador do CATALINA, naufragou por encalhe na costa da Islândia devido a forte temporal em 27.02.1941, tendo sido dado como perda total e mais tarde foi recuperado por um armador estrangeiro para mais serviço. O CATALINA, em Outubro de 1941, foi registado em nome da Sociedade Exploradora de Transportes Lda.
Aqueles dois navios, que devido à sua excelente velocidade para a época, eram adequados ao tráfego de Portugal com a Terra Nova, Islândia e Noruega, transportando sal e no regresso bacalhau seco e ainda com Cuba, onde carregavam açúcar, importado pelos armazenistas da rua de S. João, Porto. Entretanto, a legislação restritiva à livre importação de bens alimentares, promulgada em 1933 e que foi cometida, em exclusivo, aos grémios, retirou capacidade competitiva aos pequenos armadores, pelo que aqueles dois vapores passaram a operar carreiras regulares – Moreira Line – entre Portugal, Bélgica, Holanda e Alemanha, até que, devido à Segunda Guerra Mundial, retomaram o tráfego de bens alimentares, passando a escalar novamente a Terra Nova e a Islândia.


O vapor OURÉM amarrado no lugar do Sandeman, Gaia, Rio Douro, 1939/(c) foto do armador . colecção de F. Cabral/.

O Kapitanleutnant Rolf Mutzelburg faleceu em 11.09.1942 num acidente deveras invulgar a sudoeste dos Açores, quando tivera a oportunidade de se banhar em pleno Atlântico em tão má hora, que ao lançar-se da torre de comando do submarino, devido ao forte balanço daquele foi bater com a cabeça e um dos ombros no convés ficando bastante traumatizado. O submarino U-462 chegou no dia seguinte com o seu médico para tratar do ferido, todavia o Kapitanleutnant Rolf Mutzelburg já havia falecido, pelo que foi sepultado no mar a 12.09.1942. O submarino U-203 foi afundado por unidades inimigas em 25.04.1943 a Sudoeste do Cabo Farwell, Groenlândia, levando para o fundo toda a sua tripulação.


http://www.uboat.net/men/muetzelburg.htm

http://www.naval-art.com/u203.htm

http://www.uboat.net/types/viic.htm


CABO DE S. VICENTE – ex português CABO CARVOEIRO, ex inglês DARRACQ, ex inglês H. A. L. RUSSEL – Vapor de pesca do arrasto – 1910 – 44m/269tb – Sociedade Comercial Marítima., Lda.
Quando se encontrava no pesqueiro, em plena costa de Portugal, ao Noroeste do cabo da Roca, pelas 18h30 de 10.03.1942, nas coordenadas 38,56N e 09.57W avistou-se um quadrimotor que se dirigiu ao vapor de pesca e quando estava a 50 metros passou em voo rasante e largou dois torpedos pequenos, acertaram no costado de bombordo, provocando enorme explosão. A visibilidade era clara e o “CABO DE S. VICENTE” exibia as marcas convencionadas da sua nacionalidade bem visíveis, o que não sucedia com o avião atacante, que não mostrava a sua identidade, apenas se testemunhou, que era um quadrimotor e estava totalmente pintado de cinzento claro.
Aquela aeronave não se contentou em lançar os torpedos mas ao passar sobre o vapor, descarregou algumas rajadas de metralhadora, que por sorte não feriram quem quer que fosse. Dado que o vapor se estava a afundar, foi arriada a baleeira, que felizmente não fora atingida pela metralha, por isso a tripulação pode salvar-se. O último a saltar foi o capitão José Ethelredo Morais, que através da fonia tentou um pedido de S.O.S., que pelo posto ter ficado avariado, não foi escutado.
Rumaram então, à força de remos, para a Ericeira, enquanto se verificava afundamento do navio. Na madrugada de 11 foram recolhidos pelo vapor de pesca AÇOR, que os levou para Lisboa.
Não se compreende a razão porque um avião, que não mostrava as marcas da sua nacionalidade, atacou e afundou uma embarcação de nacionalidade neutral, em seu mar territorial!
O CABO DE S. VICENTE foi lançado à água em 09.1910, estaleiro Cochrane & Sons, Ltd, Selby, como DARRACQ e mais tarde adquirido por outro armador inglês, tendo recebido o nome de H.A.L.RUSSEL. Já depois da guerra de 1914/18 foi vendido a armadores Portugueses tomando o nome de CABO CARVOEIRO, porém em 1930, já estava matriculado como CABO DE S. VICENTE.
Rui Amaro
(A CONTINUAR)