Às 12h20 de 01/07/1970, a estação dos Pilotos da Barra do porto de Viana do Castelo, através da sua instalação de radiotelefonia, recebeu um apelo do lanchão-motor português SADINO, cujo mestre comunicava, que devido ao denso nevoeiro, o seu navio havia batido no conhecido baixio da Eira, a umas 4 a 5 milhas ao sul daquele porto, e que se encontrava com água aberta, ameaçando não o poder atingir, para onde rumava, procedente do porto de Setúbal, com uma carga de 300 toneladas de cimento ensacado, consignado a uma firma local.
Comunicado o caso à capitania, o comandante Miranda Gomes, capitão do porto, deu ordem para a imediata saída do salva-vidas ALMIRANTE FERREIRA DO AMARAL, que pouco depois, se fazia ao mar capitaneado pelo patrão António Rodrigues, ao mesmo tempo que os pilotos da barra, lançavam chamada geral, solicitando o auxilio dos barcos de pesca Vianenses, que estavam a entrar a barra de regresso de mais uma maré; assim, os barcos DIVINO MAR, SANTISSIMO SACRAMENTO, ARCA DE DEUS, VIRGEM DAS GRAÇAS, Nª Sª DA AGONIA, FABIOLA e PEDRO SALVADOR retrocederam ao encontro do SADINO, tendo os pilotos seguído para o local numa dessas embarcações.
Entretanto, o mestre do navio, Manuel de Lemos, depois de ter navegado em precárias condições cerca de duas milhas, verificou que o barco já não atingiria o porto de Viana do Castelo, por estar a meter muita água, e, assim, resolveu aproar à praia, no local situado entre as Pedras de Anha e da Návia, duas milhas e meia ao sul de Viana do Castelo, para aí encalhar, talvez não esperando por autorização de quem quer fosse. Decisão inteligente!
È que hoje em dia, com receio das poluições e dos fantasmas dos Tollans, Reijins, Courages, CP Valours e outros que tais, faz-se afastar da costa e dos portos de refúgio as embarcações em dificuldade e deixá-las soçobrar ou melhor “afundá-las”, casos do KASSEMBA, PRESTIGE, NAUTILA, quando poderiam ser varadas em areal acessível ou recolhidas no porto mais próximo disponível, como outrora se procedia.
Quando os barcos de pesca de Viana chegaram ao local, já o SADINO se encontrava varado na praia, estando toda a tripulação, composta do mestre e oito homens, perfeitamente calma, embora naturalmente aborrecidos com o percalço. O capitão do porto, que foi a primeira pessoa a chegar à fala com o mestre, inteirou-se do sucedido e tomou as providências indicadas, que consistiam em tentar aliviar o barco da sua carga, a fim de se averiguar das consequências do acidente e das subsequentes medidas a adoptar.
Com a ajuda dos dois barcos SANTISSIMO SACRAMENTO e FABIOLA, a tripulação iniciou o transbordo dos sacos de cimento que não fora atingida pelas águas, e, desse modo, durante a tarde, se conseguiu aliviar o navio duma parte da carga, sendo os sacos transportados para o porto de Viana do Castelo.
Entretanto, ficou decidido, que na baixa-mar seguinte, seria realizada uma vistoria ao casco, para se resolver acerca do que se poderia vir a fazer para resgatar o navio. A tripulação desembarcou, tendo ficado hospedada em Viana do Castelo.
No dia 5, após um árduo trabalho que durou desde o alvor até às 16h20, e em que foi posta à prova a competência, quer do capitão do porto e sobretudo dos pilotos da barra, foi possível, finalmente safar da praia o lanchão-motor Sadino, e trazê-lo para o porto de Viana do Castelo, onde ficou ancorado perto do cais dos pilotos.
Essa tarefa foi possível com a prestimosa ajuda do rebocador MONTE XISTO do porto de Leixões e mercê dum bom trabalho conjunto realizado pelos Bombeiros Voluntários e Municipais que, trabalhando com cinco moto-bombas levadas para bordo, equilibraram o esgotamento com a entrada da água pelos rombos e assim com as devidas precauções o barco foi trazido para bom porto.
Trabalharam a bordo mais de trinta homens e houve a solicita colaboração do barco de pesca SANTISSIMO SACRAMENTO do arrais Telmo Marques da Silva, que desde a madrugada esteve no local prestando toda a espécie de serviços. O mestre do SADINO, Manuel de Lemos, e a tripulação, bem como os pilotos Agostinho e Josué tiveram também trabalho extenuante.
Durante toda a noite piquetes permanentes de bombeiros continuaram a esgotar a água, a fim de manter o navio à superfície para que na manhã seguinte, se pudesse completar a descarga do cimento e pôr o navio em dique para ser reparado.
O SADINO, 34m/193tb, construído em madeira em 1952 como iate-motor por Arménio Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, porto de Aveiro, por encomenda do armador Chaves & Mateus, Lda., Setúbal. Depois de ter passado por várias alterações à sua estrutura e aparelho, em 1977 após bastantes meses de imobilização no rio Douro, junto do estaleiro da Cruz, V.N.de Gaia, que originou alguma degradação, subiu à carreira do mesmo, a fim de ser realizada uma grande reparação e o seu casco vir a ser pintado de cor preta. Constava que fora vendido a interesses estrangeiros, a fim de ser utilizado como “yacht cruiser” e assim parecia ter sido!
Agora de acordo com a informação de Luis Filipe Morazzo no “Blogue Navios e Navegadores”, o SADINO chegara ao Seixal, mais propriamente ao estaleiro Venamar para ser reparado, entretanto passados cinco anos (1992), perante o desaparecimento do proprietário do navio, e por esse facto, sem sofrer qualquer intervenção da parte do estaleiro, o pobre do SADINO lá continuava a apodrecer encalhado no lodo. Triste fim do belo e excelente navio, que foi o derradeiro dos “mohicanos” construídos em madeira para o tráfego costeiro nacional e que de facto daria um belíssimo “yacht” ou mesmo um pequeno “tall ship”.
Fontes: Jornal O Comércio do Porto
Rui Amaro
Comunicado o caso à capitania, o comandante Miranda Gomes, capitão do porto, deu ordem para a imediata saída do salva-vidas ALMIRANTE FERREIRA DO AMARAL, que pouco depois, se fazia ao mar capitaneado pelo patrão António Rodrigues, ao mesmo tempo que os pilotos da barra, lançavam chamada geral, solicitando o auxilio dos barcos de pesca Vianenses, que estavam a entrar a barra de regresso de mais uma maré; assim, os barcos DIVINO MAR, SANTISSIMO SACRAMENTO, ARCA DE DEUS, VIRGEM DAS GRAÇAS, Nª Sª DA AGONIA, FABIOLA e PEDRO SALVADOR retrocederam ao encontro do SADINO, tendo os pilotos seguído para o local numa dessas embarcações.
Entretanto, o mestre do navio, Manuel de Lemos, depois de ter navegado em precárias condições cerca de duas milhas, verificou que o barco já não atingiria o porto de Viana do Castelo, por estar a meter muita água, e, assim, resolveu aproar à praia, no local situado entre as Pedras de Anha e da Návia, duas milhas e meia ao sul de Viana do Castelo, para aí encalhar, talvez não esperando por autorização de quem quer fosse. Decisão inteligente!
È que hoje em dia, com receio das poluições e dos fantasmas dos Tollans, Reijins, Courages, CP Valours e outros que tais, faz-se afastar da costa e dos portos de refúgio as embarcações em dificuldade e deixá-las soçobrar ou melhor “afundá-las”, casos do KASSEMBA, PRESTIGE, NAUTILA, quando poderiam ser varadas em areal acessível ou recolhidas no porto mais próximo disponível, como outrora se procedia.
Quando os barcos de pesca de Viana chegaram ao local, já o SADINO se encontrava varado na praia, estando toda a tripulação, composta do mestre e oito homens, perfeitamente calma, embora naturalmente aborrecidos com o percalço. O capitão do porto, que foi a primeira pessoa a chegar à fala com o mestre, inteirou-se do sucedido e tomou as providências indicadas, que consistiam em tentar aliviar o barco da sua carga, a fim de se averiguar das consequências do acidente e das subsequentes medidas a adoptar.
Com a ajuda dos dois barcos SANTISSIMO SACRAMENTO e FABIOLA, a tripulação iniciou o transbordo dos sacos de cimento que não fora atingida pelas águas, e, desse modo, durante a tarde, se conseguiu aliviar o navio duma parte da carga, sendo os sacos transportados para o porto de Viana do Castelo.
Entretanto, ficou decidido, que na baixa-mar seguinte, seria realizada uma vistoria ao casco, para se resolver acerca do que se poderia vir a fazer para resgatar o navio. A tripulação desembarcou, tendo ficado hospedada em Viana do Castelo.
No dia 5, após um árduo trabalho que durou desde o alvor até às 16h20, e em que foi posta à prova a competência, quer do capitão do porto e sobretudo dos pilotos da barra, foi possível, finalmente safar da praia o lanchão-motor Sadino, e trazê-lo para o porto de Viana do Castelo, onde ficou ancorado perto do cais dos pilotos.
Essa tarefa foi possível com a prestimosa ajuda do rebocador MONTE XISTO do porto de Leixões e mercê dum bom trabalho conjunto realizado pelos Bombeiros Voluntários e Municipais que, trabalhando com cinco moto-bombas levadas para bordo, equilibraram o esgotamento com a entrada da água pelos rombos e assim com as devidas precauções o barco foi trazido para bom porto.
Trabalharam a bordo mais de trinta homens e houve a solicita colaboração do barco de pesca SANTISSIMO SACRAMENTO do arrais Telmo Marques da Silva, que desde a madrugada esteve no local prestando toda a espécie de serviços. O mestre do SADINO, Manuel de Lemos, e a tripulação, bem como os pilotos Agostinho e Josué tiveram também trabalho extenuante.
Durante toda a noite piquetes permanentes de bombeiros continuaram a esgotar a água, a fim de manter o navio à superfície para que na manhã seguinte, se pudesse completar a descarga do cimento e pôr o navio em dique para ser reparado.
O SADINO, 34m/193tb, construído em madeira em 1952 como iate-motor por Arménio Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, porto de Aveiro, por encomenda do armador Chaves & Mateus, Lda., Setúbal. Depois de ter passado por várias alterações à sua estrutura e aparelho, em 1977 após bastantes meses de imobilização no rio Douro, junto do estaleiro da Cruz, V.N.de Gaia, que originou alguma degradação, subiu à carreira do mesmo, a fim de ser realizada uma grande reparação e o seu casco vir a ser pintado de cor preta. Constava que fora vendido a interesses estrangeiros, a fim de ser utilizado como “yacht cruiser” e assim parecia ter sido!
Agora de acordo com a informação de Luis Filipe Morazzo no “Blogue Navios e Navegadores”, o SADINO chegara ao Seixal, mais propriamente ao estaleiro Venamar para ser reparado, entretanto passados cinco anos (1992), perante o desaparecimento do proprietário do navio, e por esse facto, sem sofrer qualquer intervenção da parte do estaleiro, o pobre do SADINO lá continuava a apodrecer encalhado no lodo. Triste fim do belo e excelente navio, que foi o derradeiro dos “mohicanos” construídos em madeira para o tráfego costeiro nacional e que de facto daria um belíssimo “yacht” ou mesmo um pequeno “tall ship”.
Fontes: Jornal O Comércio do Porto
Rui Amaro
O Lanchão-motor SADINO varado entre a praia da Anha e da Návia, junto vê-se o salva-vidas ALMIRANTE FERREIRA DO AMARAL. /(c) gravura de noticia do jornal "O Comércio do Porto"/.
O iate-motor SADINO saindo a barra do Douro, acompanhado pela lancha de pilotos P9 em 1953, mostrando o aspecto primitivo das duas embarcações. /(c) imagem de L. Moraes Sarmento).
O iate-motor SADINO, em lastro, cruzando-se de entrada com o lanchão-motor CARLOS AUGUSTO (ex iate-motor EDUARDO XISTO), que vai de saída, década de 60. /(c) imagem de Rui Amaro, em tempos publicada na publicação do Reino Unido, intitulada SEA BREEZES/.