O "KAI" encalhado na praia de São Jacinto /Jornal O Comércio do Porto /.
Salvadego "COMENDA" / imagem de autor desconhecido, gentilmente enviada por Nuno Bartolomeu, Almada /
09/02/1991 – Ao princípio da madrugada de anteontem, o navio-motor KAI, de bandeira conveniência Cipriota, deu à costa a norte de São Jacinto, Aveiro, com sete tripulantes a bordo (dois Alemães e cinco Polacos), que nada sofreram. O navio de um armador Alemão, procedente do porto Italiano de Livorno, encontrava-se fundeado ao largo da barra de Aveiro, a aguardar ordens do seu armador quanto ao seu destino. Em lastro, o navio, provavelmente devido a descuido da tripulação de quarto, acabou por ser arrastado pelas fortes correntes, dando à costa sem sofrer quaisquer avarias, ficando de proa virada a sul e totalmente em seco. A capitania, a Guarda-fiscal e a Policia Judiciária estiveram a bordo, não tendo verificado nada de anormal. Para tentar safar o navio, foi requisitado, o serviço do salvadego Português COMENDA, da Rebosado – Reboques do Sado, Lda, de Setúbal, que era esperado, ontem ao fim da tarde, em São Jacinto. Segundo revelou à comunicação social o comandante da Capitania de Aveiro, José Manuel Gouveia, técnicos Ingleses e um representante do armador Alemão irão esta manhã estudar no local as possibilidade de salvamento do navio. Apesar do mar estar com pouca ondulação, a altura das marés não garante o êxito das operações. Quanto à tripulação, encontra-se a bordo, aguardando instruções do armador.
O KAI continua varado na
praia de S. Jacinto, e durante o dia e a noite de ontem, fizeram-se algumas
diligências para safar aquela unidade capitaneada por um Alemão, tendo a bordo
um outro seu compatriota e ainda mais cinco Polacos, que se encontram livres de
perigo.
Segundo informações do
capitão do porto de Aveiro, chegaram ao princípio da noite a Aveiro os
armadores do KAI e, hoje, pelas 9 horas, haverá uma reunião entre a autoridade
marítima, a seguradora e os armadores, a fim de se encontrar soluções para
salvar o navio.
Possivelmente, e segundo o
comandante Gouveia, a primeira tentativa terá lugar ainda hoje, às 11,48 horas,
na altura da preia-mar. Uma operação que, em princípio, parecia fácil, mas que,
ao que se apercebe, se está a tornar um pouco complexa.
As autoridades marítimas
de Aveiro e os técnicos Ingleses, que se deslocaram ao local vão tentar, hoje
ou amanhã, com auxílio de um rebocador, retirar o KAI. Para o efeito, segundo o
responsável pela Capitania de Aveiro, será escavado um sulco em direcção ao
mar. Uma outra medida entretanto tomada, o levantamento de uma barreira de
areia entre o mar e a costa – para que o barco que está muito leve, não venha
mais para cima do areal, provocou já uma reacção, como já é vulgaríssimo,
mesquinhamente ocorrer nestas situações, da associação ecológica “Quercus”, que
receia pelas dunas da reserva natural de São Jacinto. Segundo um dirigente da
“Quercus”, o navio encalhou na chamada “reserva integral”, onde é proibida a
circulação de pessoas e máquinas, estando-se a “desrespeitar a lei e os
interesses ambientais”. Por outro lado, disse ainda, “os buldozers”, estão a
retirar areia das dunas, que são protegidas, quando a menos de 500 metros
existe uma unidade de extracção de areia. A versão do comandante Gouveia, da
capitania de Aveiro, é diferente, já que, segundo diz, “estamos a retirar a
areia junto à água do mar”. Isto, para além de estar a ser retirada “para sul
da placa de reserva, com o conhecimento da directora do parque”. Ainda segundo
o comandante, a “Quercus” está “a levar um bocado à letra as exigências da
lei”, argumentando ainda que “mais perigosas serão as consequências ambientais
se não se conseguir retirar o navio”.
O KAI que desde a
madrugada de quinta-feira, estava encalhado no areal da praia de São Jacinto,
foi ontem, 12 de Fevereiro, ao principio da tarde, posto novamente a flutuar,
tendo rumado ao porto de Leixões, e os representantes da “Quercus”, todos
felizes, deixaram de ter um enormíssimo “TITANIC” a criar problemas à “reserva
Integral”, e parece não compreenderem que há uma autoridade marítima a
controlar essas ocorrências indesejáveis para todos nós, mas que surgem por
esse mundo fora, e infelizmente continuarão a surgir.
A operação de salvamento
do KAI processou-se pouco depois das 13,30 horas, com condições de mar
consideradas pelos peritos como excepcionais.
O KAI estava em seco no
areal e o facto de se encontrar sem qualquer carga ajudou bastante a operação
de ontem à tarde, desenvolvida pelo salvadego COMENDA, 42,1m/686tb/2xdiesel/13nós,
do porto de Setúbal. O navio sinistrado entrou nas águas do mar de proa e a
ondulação era a necessária suficiente para a operação de salvamento se
desenrolar.
Por motivos que se
desconhecem, mas que se presume tenham a ver com os descuidos da tripulação. O
KAI encalhou na madrugada de quinta-feira no areal a norte da praia de São
Jacinto, não tendo no entanto, sofrido quaisquer prejuízos nem a tripulação
sido atingida. O navio encontrava-se ao largo, como acima foi dito, a aguardar
instruções do seu armador qual o porto a rumar, situação normal, até poderia
ser o porto de Aveiro.
Na operação de salvamento,
concretizada pelo salvadego Português COMENDA. Houve necessidade de escavar
areia no local onde o navio se encontrava e o recurso a duas embarcações de
pesca para o estabelecimento do cabo do salvádego para o navio sinistrado.
As autoridades marítimas,
como não poderia deixar de ser, presenciaram a operação de salvamento do KAI.
KAI – imo 6804305/
73,4m/ 500tb/ 11,5nós; 03/1968 entregue por Bodewes Hoogezand Shipyard, Bergum,
Holanda, como DORRIT LEA, Rederi I/S Lea l, Copenhagen; 1979 DORRIT LEA, Rederi
I/S Sanved V, Copenhagen; 1979 LEONARDO, Co. Tra. Mar., Nápoles; 1983 GEORGE
JUNIOR, G. Zervas Carriers Ltd, Limassol; 1990 KAI, Hydroserve Marine Co., Ltd,
Limassol; 1996 KAI (1.152tb), Geest Shipping Co., Ltd, Limassol; 2000 SOPA, Med
Express Inc, San Lorenzo, Honduras; 2003 SANDRI, Sokrat Sava, Durres, Albania;
2009 SCUTARI, Sokrat Sava, Durres, Albania; 23/06/2009 chegava a Aliaga para demolição.
Fontes: Jornal de
Noticias; O Comércio do Porto; Miramar Ship Index.
Rui Amaro
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