quinta-feira, 10 de abril de 2008

OS PESCADORES DA CANTAREIRA, FOZ DO DOURO, ESTÃO DE PARABÉNS



Ancoradouro/varadouro da Cantareira por volta de 1900 ( (c) imagem de autor desconhecido).

Ancoradouro/varadouro da Cantareira - antigas e degradantes arrecadações, 2001,((c) imagem do mensário O Progresso da Foz).
Ancoradouro/varadouro da Cantareira, 04/04/2008 ((c) imagem do autor do Blogue).

Ancoradouro/varadouro da Cantareira, 04/04/2008 ((c) imagem do autor do Blogue).

Varadouro da Cantareira e as novas infra-estruturas, 04/04/2008 ((c)imagem do autor do Blogue).

Ancoradouro/varadouro da Cantareira com artes de pesca - 04/04/2008 ((c)imagem do autor do Blogue).

Varadouro da Cantareira e o alpendre coberto - 04/04/2008 ((c)Imagem do autor do Blogue).


Muita tinta foi gasta por nós, desde alguns anos atrás, a escrever em jornais e periódicos, como chamadas de atenção para a preservação dos pescadores do lugar da Cantareira, nesse seu cantinho da freguesia da Foz do Douro, localidade Portuense de grandes tradições marítimas e muito particularmente pesqueiras. Nós próprios, nascido e residente, descendemos de gente da classe marítima, fosse das pescas, marinha mercante, lamagem ou da pilotagem das barras.
A Foz do Douro, que foi morada de grandes vultos da literatura ligada ao mar, particularmente Raul Brandão, com a sua obra “Os Pescadores”, que versa alguns episódios de cenas passadas na barra do Douro. Vulto esse, que tem um monumento escultórico à sua memória, ali junto da sua barra. Só por isso, e como homenagem a tão respeitável figura e aos seu literários pares, que foram Ramalho Ortigão e António Nobre, merecia que os seus pescadores continuassem a utilizar o ancoradouro/varadouro da Cantareira, contudo com a substituição dos velhos e degradantes contentores, que serviam de arrecadações de apoio, e muito mais agora, que com a nova barra, muito em breve consolidada, a agitação marítima deixará de os importunar, invadindo a sua área de trabalho.
É, que esses profissionais das pescas, quase que foram compelidos a rumar com artes e embarcações para o ancoradouro/varadouro da Ínsua, já na vizinha freguesia de Lordelo do Ouro, também terra de grandes tradições marítimas, nomeadamente das pescas.
O ancoradouro/varadouro da Cantareira além de servir a pequena mas laboriosa e mal compreendida comunidade piscatória local, serve também de ancoradouro de embarcações recreativas e ainda das embarcações salva-vidas. Antes da transferência para Leixões dos serviços de pilotagem, servia de base ao seu material flutuante, às amarrações, plano inclinado para fabricos, oficina própria e parqueamento de ancorotes, além da sua estação-sede.
No pontal da Cantareira existe o Marégrafo e a respectiva escala, além da Casa da Consulta da Pilotagem, a Ermida-farol de S. Miguel-o-Anjo (um dos mais antigos faróis da Península e talvez da Europa, operacional desde 1527 a 1882), a antiga estação Semafórica e Telegráfica, a casa da Alfandega, em cuja ala Oeste, estivera localizada a primeira estação da Corporação de Pilotos da Barra do Douro e do Porto Artificial de Leixões, onde agora está instalada a Estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, mais tarde transferida para a rua contigua em habitação arrendada pela Corporação, e alguns anos depois para edifício vizinho próprio, o Farolim metálico que servia de marca ao enfiamento da barra e na artéria fronteiriça encontra-se a capela privada em honra de Nossa Senhora da Lapa, Padroeira dos pilotos da barra e dos pescadores da Foz do Douro, a qual em ocasiões de naufrágios, as suas portas eram abertas e os crentes faziam as suas preces para que a Virgem acudisse aos naufragados.
Embora não tivéssemos contribuído em nada, com os nossos escritos, para a permanência dos pescadores na Cantareira, ficamos deveras felizes por continuar a ver o bulício e o colorido daqueles profissionais no amanho das suas artes e preparo das suas embarcações para novas e desejáveis promissoras marés, agora com um belo espaço e modernas infra-estruturas condignas, apresentando a configuração de uma embarcação edificada em aço cortene (aspecto enferrujado) com 40mx8m, comportando cinco arrecadações, tantas quantos os pescadores daquela zona típica da Cidade Invicta e ainda os respectivos sanitários, além de um alpendre coberto, cujo feliz projecto foi da autoria do Eng. Rui Mealha. Essas arrecadações, não teriam sido de mais, se tivessem ficado um pouco mais amplas.
Estão de Parabéns a APDL, o Projectista, a Freguesia da Foz do Douro, a Cidade do Porto e em particular os Pescadores da Cantareira. Bem-haja!
Rui Amaro

quarta-feira, 9 de abril de 2008

PESCA DESPORTIVA AO ROBALO PELO SISTEMA DA BORRACHA OU BORRACHINHA

Por volta de 1960, aqui na barra do Douro, desenvolveu-se um sistema de pesca desportiva ao robalo chamada de “pesca à borracha ou borrachinha” e que teve grande procura dos amantes da pesca e com óptimos resultados. Essa forma de pescar à cana, anteriormente eram com canas da Índia ou de fibra de vidro, bastante pesadas, coincidiu com o aparecimento e utilização das varas de “conolon”, consistia de uma dessas canas, bastante leves, aliada a um bom carreto, linha de nylon, respectiva chumbada e aparelho de anzol, onde era enfiada uma pequena porção de borracha em tubo de cor acastanhada ou amarelada, imitando um género de amostra, e lançado consecutivamente, raramente não deixava de trazer bons exemplares de robalos, espécie piscícola muito apreciada gastronomicamente. Haviam aqueles pescadores muito experimentados, que quando resolviam mudar de local de pesqueiro, devido a alteração de correntes ou maré, todos os outros lá os seguiam na expectativa de uma boa pesca de bons exemplares.
Esta pesca tinha um senão. È, que os carretos por melhor marca que fossem, em pouco tempo ficavam inoperantes e a razão era muito simples. Os carretos foram projectados para pescas lúdicas com lançamentos espaçados, ao contrário da pesca à borracha, que era de lançamentos intensivos, pois haviam pescadores que levavam quase o dia e a noite a lançar a borracha água, e isso desgastava as rodas dentadas, que não eram de aço. Houveram carretos que em dois a três meses foram-se desta para melhor. Nós próprios estabelecido com loja de artigos de pesca desportiva e profissional, que muito raramente nos dedicavamos à pesca desportiva, apesar de na família haver bons amantes da pesca de cana, dentre eles o nosso avô Manuel Picarote e os seus filhos Alfredo, António (este mais interessado na pesca nocturna do congro) e o Paulino Picarote, um dos mais conhecidos e experimentados, particularmente no sistema de pesca que estamos a relatar, tivemos imensas reclamações pelas avarias nos carretos que nós transaccionávamos, que eram da famosa marca MITCHELL, simplesmente a fábrica não aceitava a reclamação, assim como os outros fabricantes de marcas tão conhecidas como LUXOR, SONAFI, RU-MER e outras.
Na Foz do Douro, felizmente havia um profissional de metalurgia, que resolveu a situação por conta dos interessados, substituindo as rodas dentadas em fibra dura por outras em aço e os carretos lá continuaram por muitos anos na “inovadora pesca do robalo à borracha ou borrachinha”! Pesca essa hoje em dia em desuso.
Rui Amaro

Molhe de Felgueiras, barra do Douro, mostra a pesca desportiva ao robalo pelo sistema da borracha ou brorrachinha por volta de 1960. /Fotos do autor do Blogue/.