sexta-feira, 11 de outubro de 2013

REBOCADOR PORTUGUÊS “PALENÇA (R-11) ”

O PALENÇA navegando ao largo de Sesimbra em 08/2013, a fim de prestar assistência a um navio tanque

 O PALENÇA na doca nº 1 do porto de Leixões em 2002

 O PALENÇA manobrando para acostar ao cais da Liscount em 1986

 O PALENÇA em construção na Lisnave, Margueira, em 1982

 O PALENÇA sofrendo fabricos na doca seca 22 dos estaleiros da Mitrena em 2013

 O PALENÇA prestando assistência a um navio-tanque à saída da doca nº 13  da Marqueira em 1979

O malogrado CHARNECA na doca nº 1 do porto de Leixões em 1985 / F. Cabral, Porto /   

Rebocador Português PALENÇA (R11), imo 821278/ cff 34,9m/ cpp 31,00m/ boca 9,40m/ Pontal 5,00m/ calado máximo 5,10m/ / 320,75tb/ 58,30tl/ 1xdiesel 8 cilindros, 3.300 bhp (Kw 2.429), 170 rpm/ 13 nós/ tracção 45 tons; 04/1982 posto a flutuar pelo Estaleiro Navalis de Lisboa, Lisnave, Margueira, estuário do Tejo, para a sua subsidiária LISNAVE- Industrias Navais SA., Lisboa, para utilização nas docagens; 16/02/1986 o PALENÇA e o seu gémeo CHARNECA, que tinham saído do porto Lisboa de véspera, a fim de prestarem auxilio ao navio-motor Alemão Oriental MANSFELD, 152m/8.609tb, que encontrava em dificuldades ao largo da Figueira da Foz. Chegados à fala com o MANSFELD não conseguiram resolver a situação devido ao forte temporal que se fazia sentir, pelo que em face disso, resolveram rumar ao porto de Leixões, a fim de se abrigarem do temporal desfeito com vaga de cerca 8 metros. O CHARNECA apesar da grande maresia, fez-se ao porto, já ao fim do dia, e foi apanhado por duas voltas de mar de 8 metros e a segunda de 10 metros, as quais entraram pela casa do leme, originando avarias graves, particularmente na fonte de energia, pelo que lhe paralisou a máquina e ficando sem governo, mesmo muito próximo da entrada do porto, e indo à deriva foi embater no quebra-mar, a norte, afundando-se, depois de a tripulação tentar o salvamento numa balsa, perdendo a vida 8 homens e salvando-se um que foi arrojado à praia de Matosinhos.
O MANSFELD, após o resgate da sua tripulação por um navio de nacionalidade Alemã Ocidental, foi à deriva encalhar na localidade da Leirosa, a sul da Figueira da Foz; 1998 PALENÇA, Rebocalis – Rebocadores e Assistência Marítima, Lda., Lisboa/Setúbal; 2000, a Lisnave encerrou o estaleiro da Margueira e passou a funcionar no estaleiro da Mitrena, estuário do Sado, Setúbal, assim o PALENÇA foi transferido para o porto Sadino, para prestar assistência às docagens naquele estaleiro; 10/10/2013 continua a operar no estuário do Sado.
Note-se que ambos os rebocadores já prestaram serviço no porto de Leixões, nomeadamente na acostagem de petroleiros ao posto A do Terminal de Petroleiros.
Fontes: Miramar Ship Index, Net e Nuno Bartolomeu, Almada.
Imagens: autor desconhecido – amavelmente transmitidas por Nuno Bartolomeu, Almada.
Rui Amaro
                                                                                     
ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s) em NAVIOS Á VISTA, o que muito se agradece.

ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on NAVIOS Á VISTA, which will be very much appreciated.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

REBOCADOR "NEIVA" EX "PUNTA TAMBO"

Rebocador NEIVA navegando no estuário do Tejo em 1987, juntamente com o SOBREDA da APL /foto de autor desconhecido enviada amavelmente por Nuno Bartolomeu, Almada/
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Rebocador PUNTA TAMBO no estuário do Tejo em 1980 /foto de autor desconhecido enviada amavelmente por Nuno Bartolomeu, Almada/

O rebocador PUNTA TAMBO acompanhado pelo LINHÓ, da ETE, e ao fundo o PIONEIRO, da Emp. Júlio da Cruz, assistindo um porta veículos da Mitsui OSK Lines, do Japão /foto de autor desconhecido enviada amavelmente por Nuno Bartolomeu, Almada/

Os rebocadores NEIVA e EMPURRA da Lisbontugs em 2000 na doca da Rocha, Lisboa / foto de autor desconhecido enviada amavelmente oir Nuno Bartolomeu, Almada/


Rebocador Português NEIVA, imo 7321702/ cff 27,17m/ boca 07,90m/ pontal 03,90m/ calado 03,30m/ 194tb/ lotamento 4 no Tejo e 8 em mar/ água doce 56m cúbicos/ combustivel 112m cúbicos/ 1 x Burmeister & Wain 14V23HV 1750 BHP a 800 rpm/ linha de veios com hélice de 4 pás fixas em tubeira Kort/ 12 nós/ força de tracção 28,2tons/ água doce 56m cúbicos/ combustivel 113m cúbicos/ Sistema de Combate a Incêndios - 200 m cúbicos h/ rádios e ajudas à navegação - HF/MF, VHF (2), Radar (2); 1974 entregue por Astilleros de Murueta, Guernica, Espanha, a Remolques Maritimos SA (Remolmar), Madrid; 1974 fretado à Empresa Nacional Bazan SA, El Ferrol; 1980 fretado à Compagnie Nationale Algerienne de Navigation, Argel; 1980 PUNTA TAMBO, Soc. Cooperativa dos Catraeiros do Porto de Lisboa, CRL, Lisboa; 2000 NEIVA, Soc. Cooperativa dos Catraeiros do Porto de Lisboa, CRL, Lisboa; 2000 NEIVA, Lisbontugs – Companhia de Rebocadores de Lisboa, SA.; 2005 NEIVA, Svitzer Lisboa, Reboques Maritimos SA, Lisboa; 2006 STADT ASSISTER, Stadt Sjotrasnsport A/S, Floro, Noruega; 01/08/2013 SHARON 2, SG Finanz A/S, Lysaker, Noruega, gestores Stadt Sjotrasnsport A/S, Floro, Noruega.
O NEIVA chegou a operar em Leixões na assistencia às manobras dos navios tanques na acostagem aoTerminal de Petroleiros, aliás também o chegou a fazer ainda como PUNTA TAMBO.
Fontes: Nuno Bartolomeu, Almada, Internet.
Rui Amaro

terça-feira, 8 de outubro de 2013

CRÓNICAS DA MARINHA - “MAR TRÁGICO” - Pelo C/Almirante J. Correia Pereira

                                
O salvadego NRP PATRÃO LOPES prestando assistência a uma barca / desnho de autor desconhecido /.

Ainda a dolorosa impressão da tragédia de 8 de Fevereiro pairava na nossa memória, com as suas trinta e duas vidas perdidas no Cabo Raso, e já temos a lamentar novo sinistro não menos trágico com a perda total de 13 marinheiros! O mar, insaciável na sua fúria, continua a devorar vidas após vidas, parecendo não se contentar senão com lautos banquetes onde tudo, vidas e bens se servem numa voracidade de louco esfomeado.
O silêncio que rodeia esta nova tragédia sem sobreviventes para nos dar conta do que se passou nas terríveis horas de luta com o mar, deixa-nos o campo aberto às conjunturas que os mais acostumados às lides do mar possam fazer sobre a origem da tremenda tragédia que levou para o fundo do mar o rebocador NEIVA e a fragata FIGUEIRA DA FOZ e com eles as vidas dos seus tripulantes.
Tratava-se de um serviço de reboque, operação de mar sempre trabalhosa e delicada, a oferecer muitos perigos, tanto para o rebocador como para o rebocado, pois que só deve ser dirigida por quem tenha uma longa prática deste género de trabalho e possua as qualidades de bom marinheiro.
A minha muita prática destes serviços, como comandante do salvadego PATRÃO LOPES, autoriza-me a fazer alguns comentários sobre reboques de alto mar, destinados a poder elucidar os menos versados nestes assuntos.
Dada a responsabilidade do rebocador, num serviço desta natureza, por lhe competir atingir o objectivo desejado, - a condução do rebocado de um porto a outro – é o comandante ou patrão do rebocador quem deve dirigir toda a manobra, desde a preparação do reboque à saída, até largar o rebocado à chegada. Para este fim deve ter em atenção o pessoal a levar, a derrota a seguir e a escolha do dia da partida en conformidade com o estado do tempo.
As dificuldades de luta com um reboque no alto mar são, em geral, resultantes do estado do tempo e do mar, e da fraca velocidade com que é possível navegar com reboque. O reboque, com a velocidade de 8 nós, é já excelente, mas esta velocidade fica logo reduzida a 6 nós ou menos, se o mar e vento se levantam contrários ao rumo a seguir.
Começa aqui a luta com o mar. Se o mar é muito e o rebocador não consegue romper no sentido do caminho desejado, o melhor é capear e aguardar melhor tempo. A capa, em reboque, faz-se largando por mão o cabo de reboque, deixando o rebocado ao sabor do mar sempre sob vigilância do rebocador que capeará a pequena distância aguentando o mar pela amura e com as máquinas trabalhando apenas com a força necessária para dar um pouco de governo e manter o mar aberto pela proa.
Por aqui verifica-se desde já a vantagem de o patrão traçar a sua derrota o mais pelo largo possível, pois a terra é um inimigo terrível e muitos marinheiros se perdem pela atracção exercida por ela debaixo de mau tempo. Também se reconhece a enorme vantagem de o rebocador possuir um grande raio de acção. Um reboque tanto pode durar dois dias como quatro ou mais e é preciso que o rebocador se aguente no mar, todo o tempo necessário, para nunca abandonar o rebocado.
Por último o cabo é, talvez, o mais delicado problema a resolver. Deve o rebocado levar pessoal dentro ou não? Se não for por qualquer motivo, absolutamente impensável para a manobra, dou de conselho, logo à saída do porto, se amarre o leme a meio do rebocado e se recolha o seu pessoal no rebocador. À entrada do porto de chegada se passará o pessoal para bordo do rebocado, para facilitar a manobra. Isto tem a vantagem de não haver escrúpulos de cortar ou largar um reboque se sentirmos fazer este correr perigo o rebocador. Com pessoal a bordo é preciso uma coragem sobre-humana para, debaixo de mau tempo e mar alteroso, cortar um reboque e abandonar à sua sorte o rebocado com vidas dentro!
É claro ter este meu conselho inconvenientes, resultantes da falta de pessoal no rebocador quando se queira renovar o reboque, mas como só se passará novamente o cabo depois de acabado o mau tempo, não será difícil, já com o mar a cair, fazer essa manobra com o pessoal mandado para o rebocado.
Os problemas de reboques são numerosos e surgem a quem os tende resolver de um momento para o outro e mais complicados se tornam à entrada e saída dos portos.
Dizia-se no meu tempo de mar ser preciso ao pessoal dos rebocadores ter olhos nos dedos. Assim é. Os riscos são permanentes e contínuos; um cabo que rebenta, um reboque recorre, etc.
Que teria passado no rebocador NEIVA para ele se afundar também?
Não possuía ele nem um pequeno radiotelefone. Instrumento hoje tão vulgar que até as pequenas “enviadas” os têm para nos comunicar o que se ia passando nos momentos trágicos e pedir auxilio? Ou se existia não funcionaria? Estas perguntas podem ter resposta e o proprietário do NEIVA deve ser as condições em que tinha o seu barco.
Por vezes admitem-se noções de economia que devem ser combatidas por quem de direito. Assim, no caso de pequenos rebocadores ou de velhos barcos de pesca, não é estranho ouvir dizer não valer a pena dotá-los com todos os apetrechos modernos de navegação, como se as vidas conduzidas por eles não tivessem o mesmo valor que as dos tripulantes de barcos grandes ou novos!
Faça-se tudo para evitar a repetição de tragédias destas, que arrepiam a alma, e não entregue ao acaso a vida dos nossos homens de mar, tão merecedores de serem acarinhados.
In jornal “O PRIMEIRO DE JANEIRO” __/03/1954.
Rui Amaro    


 

     

domingo, 6 de outubro de 2013

HÁ CERCA DE 56 ANOS OCORREU A TRAGÉDIA MARITÍMA QUE ENVOLVEU O REBOCADOR “NEIVA” E A FRAGATA “FIGUEIRA DA FOZ” QUANDO EM TRANSITO DE SETÚBAL PARA O DOURO

O rebocador NEIVA (2)

 A baleeira do NEIVA recolhida pelo MARIALVA já em Massarelos, Porto


27/03/1957 - A história do naufrágio já localizado ao mar da Figueira da Foz, está a a atingir as últimas páginas. No entanto o mistério paira e não se desanuviará. Duas embarcações registadas na capitania do Douro, o rebocador a fogo NEIVA(2) e a fragata FIGUEIRA DA FOZ, que, durante dias, trouxeram ansiedades  e preocupações pela falta de noticias, na viagem de Setúbal para o Porto, perderam-se definitivamente. Com elas, treze homens – o total das tripulações – desapareceram também nas águas agitadas do Atlântico. Nem uma testemunha ficou para relatar a tragédia.
O último capítulo é descrito à volta de um cadáver, que o rebocador MARIALVA encontrou no mar e trouxe ontem para o Porto.
Desde que foi assinalado o achado dos despojos, o MARIALVA manteve-se em comunicação com as estações marítimas. Alguns pormenores demos já ontem com a lista dos marítimos. Restava a identificação; e ela fez-se com a chegada do MARIALVA, que passou á Cantareira, dez minutos depois das cinco horas da manhã. Lentamente com a bandeira nacional a meia-adriça, aquele rebocador subiu o rio. Ainda era escuro, mas o dia começava a clarear. Quinze minutos depois, atracava no cais da Àgua, em Massarelos.
Aguardavam-no já as autoridades marítimas, para cumprimento das formalidades. Entramos a bordo, para colher elementos – uma possível versão da tragédia. E fomos bem sucedidos.
O mestre Júlio Parracho, que comanda o MARIALVA, homem do mar, firme e decidido, tem exposição clara.
Com 53 anos de idade, anda no mar há 40. Embora o seu tronco familiar venha de Ílhavo, nasceu na Nazaré, onde os pais estavam acidentalmente. Mas a gente do mar move-se de porto em porto. E, assim, a partir dos 2 anos, fixou-se em Matosinhos. Agora reside em Leça da Palmeira, na rua Fresca, e tem dois filhos no mesmo rumo. Um é oficial da Marinha Mercante e outro estuda.
Mestre Júlio Parracho vai além das obrigações da profissão. É um estudioso das coisas do mar. Logo que subimos à ponte de comando, deparamos com um sextante – utensilio raro numa embarcação, especialmente de cabotagem. No entanto, ali estava, para nos dar a primeira indicação da pessoa que tínhamos na frente.
COMO FOI ENONTRADA A BALEEIRA
Mestre Parracho que faz da ponte de comando o seu “beliche”, e apesar do dispêndio de energias com esta viagem, não só nos recebeu afavelmente como prestou todos os esclarecimentos com nitidez.´
- Que nos diz do naufrágio?
- Deu-se um pouco ao norte da Vieira de Leiria, a calcular pela posição da baleeira.
- Como soube da notícia?
- Saí de Setúbal às 22 horas e meia do dia 26, com rumo ao Douro, que é o meu porto de armamento. Além de mim. Trago mais oito homens; é esta a tripulação do MARIALVA. Quando navegava ao norte do Cabo Carvoeiro, já cerca das 9 horas (gmt) do dia 27, captei pela rádio telefonia, uma informação do arrastão espanhol REPOLA, transmitida a toda a navegação, de que tinha avistado um bote semi-submerso, com o nome de NEIVA pintado. Perguntava se haveria alguma ligação com as embarcações desaparecidas. Mas não falava de qualquer cadáver na baleeira. Entrei em comunicação com o REPOLA e perguntei a posição da baleeira. Como me indicasse 29.55 N de latitude e 9.17 W de longitude, verifiquei que estava a 25 milhas ao sul. Para lá me dirigi. Ao meio dia legal, observei a meridiana e deu-me para ponto a primeira latitude. Mas antes disso, já tinha percorrido a área de mar em todos os sentidos: Leste, Oeste, Norte, Sul: Feita a observação, andei um pouco mais para terra, no rumo do Leste verdadeiro e acabei por encontrar a baleeira. A posição que o REPOLA me havia dado era um pouco mais ao mar; A baleeira tinha descaído um pouco. Tivemos ainda dificuldade em a localizar, porque de facto, andava submersa, apenas uns escassos 20 centimetros fora de água: Compreende-se que era difícil vê-la. O mestre Espanhol disse-me que q bordo não havia ninguém, morto ou vivo. Mas, pesquisando bem com o meu binóculo pareceu-me ver um vulto humano.
Imediatamente mandei aproar à baleeira e em poucos minutos reconhecemos que de verdade se tratava a baleeira pertencia ao rebocador NEIVA.
A abordagem, é fácil ajuizar que nos trouxe emoção. Somos homens do mar, sentimos e vivemos como irmãos. Íamos buscar mais um dos nossos. Enrolado nos cabos, lá estava um corpo, que rapidamente reconhecemos, era o Henrique Simões, moço da fragata FIGUEIRA DA FOZ.
- Ficamos com a cabeça â razão de Juros – é esta a expressão do mestre Parracho – tanto mais que já tinha sido tripulante do MARIALVA e servido sob as minhas ordens. Por um momento perdemos a coragem de lhe tocar. Mas tinha de ser. Os homens do mar têm de ser duros, porque a vida também é dura. Trouxemo-lo para bordo e amarramos a baleeira para vir a reboque. Enquanto executávamos a manobra, encontramos na baleeira, uns “albaiões”, espécie de calças de caqui, com peito alto, de tipo Americano. Suponho que pertence este despojo ao contramestre do NEIVA, Joaquim de Sá. Lá estava, também, uma boia do rebocador, a atestar que houve mais náufragos na baleeira.
- E depois?
- Continuei ainda a pesquisar o mar, desde as 13 horas e meia até ás 16. Entretanto, no decurso destes trabalhos, reconheci que não era possível trazer a baleeira a reboque. Mandei que a metessem a bordo, com as dificuldades que bem se podem calcular, pois o mar era de pequena vaga, com vento moderado de Norte e bastante cachão do mesmo lado. Pelas 15 horas veio à fala comigo, o salva-vidas D CARLOS, do porto da Figueira da Foz, e, durante uma hora, ainda cruzamos o mar em várias direcções, mas os nossos esforços foram improfícuos. Nada mais encontramos.
Comuniquei, então, à Rádio Naval da Boa Nova, com quem estava em contacto desde as 9 horas e meia, para assinalar o meu achado. Depois foi o rumo ao Porto. E aqui estamos.
COMO SE TERIA DADO O NÁUFRAGIO
Perguntamos agora ao mestre Júlio Parracho que impressão tinha do naufrágio.
- Esclarece-nos de pronto:
- Tanto o NEIVA como a FIGUEIRA DA FOZ tinham mestres competentes e habituados às lides do mar. As tripulações eram afoitas. Verifiquei, porém, que na baleeira não fizeram uso dos remos. No lugar onde deviam servir as forquetas, não havia sinal de terem sido coçadas, o mesmo observei por toda a parte superior da sua borda. A “tabica” também não apresentava sinais de os remos a terem coçado.
Admito que todos os náufragos chegaram a estar a bordo do pequeno barco, pois, apesar de a sua lotação ser para dez pessoas, podia comportar bem os treze tripulantes. Tinha caixas-de-ar de cobre, e não era fácil submergir completamente com o peso. Faltava-lhe o bojão da “jaja”, que é o buraco de escoamento da água.
- Como explica a tragédia?
- É muito difícil, porque são escassos os elementos que recolhemos no mar. Entretanto.
- O NEIVA foi avistado por um barco de pesca Espanhol na manhã do dia 22, terça-feira, por alturas de S. Pedro de Muel. Na noite seguinte, houve muito temporal, Possivelmente a fragata abriu água, o que é natural, tratando-se de uma embarcação de madeira, embora recentemente tenha sido bem reparada. Mas a carga era de cimento, à volta de 273 toneladas. Impotentes para dominar a água, que tanto pode ter sido por falta de forças como por avaria das bombas, o mestre e tripulantes da FIGUEIRA DA FOZ devem ter reconhecido a impossibilidade de chegar ao Porto. Teriam, então, pedido socorro ao NEIVA. A gente do rebocador, por seu turno, apercebendo-se do que se passava, teria largado por mão ou colhendo o cabo de reboque, preparando-se para tentar a abordagem da fragata, para salvar a tripulação. Nestas condições de tempo e do mar, com os homens exaustos, admito que não era possível fazer uso da baleeira da fragata.
Vejamos agora, o momento critico: Houve naturalmente intensidade na abordagem e o rebocador foi arremessado contra a fragata: o pânico deve ter sido imediato, e nem sequer puderam fazer uso das duas baleeiras do rebocador. Assim, enquanto uma delas foi +ara o fundo com o rebocador nos seus picadeiros, a outra foi lançada à água. Na confusão que sempre surge nestes momentos, a hora de salve-se quem puder; e todos procuravam atingir a baleeira. E veio o segundo desastre.
Talvez por essa precipitação, poucos lá chegaram. Ou ainda outra versão, talvez mais conforme com elementos achados. Todos lá chegaram, aglomerando-se todos os treze homens na pequena baleeira, e não lhes foi possível fazer uso dos remos para manobrar da melhor maneira a defenderem-se do temporal.
- Está, então convencido que os homens ainda poderiam salvar-se?
- Sim, os homens poderiam aguentar-se na baleeira, embora o temporal fosse muito violento nessa noite, em que localizo a tragédia, a de terça para quarta-feira. Com as caixas de ar em cobre, a baleeira não ia ao fundo mesmo que nela estivessem o treze homens. Mas houve qualquer elemento que desconhecemos e que os impossibilitou de manobrar a embarcação, e de fazer uso dos remos.
E o mestre Júlio Parracho conclui:
- Eu senti este naufrágio mais que qualquer outra pessoa, porque orientei a construção do NEIVA, e fui seu mestre durante 12 anos, até 1942. Alguns dos mortos tinham sido também tripulantes no MARIALVA, O Bernardino da Encarnação, o fogueiro, o Henrique Simões, e outros cujos nomes me não vêm à memória. Era pessoal bom, todos competentes e destemidos.
O MARIALVA rebocador de serviço da zona costeira internacional, que vai desde o Cabo Finisterra, a Norte de Portugal, até ao Cabo de Gata, no Mediterrâneo, e à costa do Norte de Africa, pertence à firma Pascoais Unidos., Lda, Matosinhos, com o mestre Júlio Parracho e os seus oito tripulantes, teve neste caso papel destacado em busca dos náufragos, mas infelizmente dos seus esforços resultou apenas esta missão dolorosa; trazer para o Douro um cadáver. E, a propósito da tragédia, mestre Parracho fala-nos da emoção difícil da sua classe:
- Este mestre do NEIVA, O Armando Ferreira Neto, esteve anos desempregado devido à crise de trabalho que atravessávamos na nossa profissão.
Rematando a nossa entrevista, mestre Parracho acrescenta:
- Isto foi uma infelicidade. O NEIVA que saíra de Setúbal no doa 21, às 20 horas, devia demorar 20 horas na viagem até ao Porto, mas o temporal atrasou-o, e, na noite de terça-feira para quarta-feira, desapareceu sem deixar testemunhos. Calculo que tenha submergido a Oeste ou já a Norte do Cabo Mondego, pois o vento era do Norte e deve ter feito correr a baleeira para a posição que a encontramos.
Cerca das 9 horas da manhã estiveram a bordo as autoridades sanitárias da Marinha e da Delegação de Saúde e pouco depois o cadáver do malogrado moço da fragata FIGUEIRA DA FOZ foi removido para o Instituto de Medicina Legal, sendo os despojos entregues na Capitania.
AO DESPOJOS QUE DERAM Á COSTA CONFIRMAM A VERSÃO DO NÁUFRAGIO
Desde quarta-feira que estão a dar à costa, em Palheiros de Mira, um pouco a sul de Aveiro, alguns destroços de uma embarcação. Os fragmentos arremessados pelo mar, parecem terem pertencido à fragata FIGUEIRA DA FOZ. São, no entanto, elementos parcelares, destruídos, que apenas vêm confirmar a versão que acima reproduzimos. O mestre Júlio Parracho foi, ontem, à tarde, até Mira, e esteve no Marco da Carniceira, onde esses despojos apareceram. Da sua observação pessoal, técnico competente e esclarecido, concluiu que, de facto, a fragata foi que primeiro abriu água, até porque o fundo não apareceu.
Isto, ainda mais arreiga a convicção que de facto foi a colisão das duas embarcações a causa do naufrágio.
Agora um leve comentário: Se havia barcos desaparecidos, com 13 vidas a bordo, de que se desconhecia a sorte, e despojos dum naufrágio estavam a dar à costa, a Guarda-Fiscal devia ter comunicado de imediato o caso à repartição competente para ser centralizado. Neste caso já que os barcos estavam perdidos, restava tentar o salvamento de algumas vidas, se todo não fosse possível.
Este comentário funda-se ainda na impressão colhida do infeliz Henrique Simões ter morrido horas antes de o MARIALVA encontrar a baleeira, e não por asfixia. Isto é, foi o último a manter-se na baleeira, e sucumbiu por enregelamento ou qualquer outra causa, mesmo por afogamento.
REGRESSOU AO TEJO O PATRULHA QUE FORA DESTACADO PARA PROCURAR ENCONTRAR AS EMBARCAÇÕES DESAPARECIDAS OU SOBREVIVENTES
Depois de ter efectuado aturadas pesquisas, que resultaram infrutíferas, regressou ao Tejo, procedente do mar da Nazaré, o patrulha NRP SANTIAGO, que havia saído com o objectivo de encontrar destroços do rebocador NEIVA e da fragata FIGUEIRA DA FOZ, e foi acostar à base naval do Alfeite.
Dois aviões levantaram voo também para colaborar nas pesquisas, mas não obtiveram o resultado desejado, pelo que regressaram à base.
A LISTA DAS VITIMAS
NEIVA: Mestre, Armando Ferreira Neto, 45 anos, da rua dos Dois Amigos, 298, Leça da Palmeira; contramestre, Joaquim de Sá, de 52 anos, da Calçada da Arrábida, 283, Porto; maquinista, Aurélio Neves, de 55 anos, da rua do Campo Alegre (Bairro Passos José); fogueiros Francisco Pinho Monteiro, de 46 anos, da Corredoura, Oliveira do Douro; Bernardino da Conceição Brenha, de 58 anos, da rua de Santa Luzia, 381, e José António Marques da Silva, de 38 anos, de Lavadores, Gaia; marinheiros: Manuel Oliveira Caseiro, de 68 anos, da Afurada; Henrique da Costa, de 51 anos, da Foz do Douro e Albino José Morais Lago, de 24 anos, da rua do Casal Pedro.
FIGUEIRA DA FOZ: Mestre, Joaquim Correia de Almeida Lapa, de 52 anos, da Rua Viterbo de Campos 16, Gaia; marinheiros: José Joaquim de Almeida Lapa, de 31 anos, filho do mestre, da fragata, da rua de Trás, Candal, Gaia; Artur Fernando da Silva, de 41 anos, da rua do Comércio do Porto, Porto, e Henrique Simões, de 48 anos, da rua Viterbo de Campos, Gaia.
O mestre do rebocador, Armando Ferreira Neto, era muito conhecido nos meios desportivos do Porto e foi jogador no Leça Futebol Clube.
NEIVA (2) – 23,15m/ 82tb/ 09mh; 1933 entregue por José Gomes Martins, Estaleiro do Ouro, Porto, a Joaquim Gouveia, Lda, Porto. A máquina e outros materiais foram aproveitados do NEIVA (1) ex BURNAY 2º; 195_ NEIVA, Lemos, Gomes & Cia, Lda, Foz do Douro, Porto.
FIGUEIRA DA FOZ – 30,29m/ 201,71tb; 1919 entregue por um estaleiro de Vila do Conde a Joaquim Gouveia, Lda, Porto; 195_ FIGUEIRA DA FOZ, Lemos, Gomes & Cia, Lda, Foz do Douro, Porto.
NOTA DO AUTOR DO TEXTO
Aquando do naufrágio, lembro-me do meu pai, piloto da barra, pela fonia dos pilotos, estar fazer chamadas consecutivas pelo rebocador NEIVA, e a pedir colaboração a outras embarcações, porque os familiares estavam à porta da corporação dos pilotos, aguardando boas novas, o que, infelizmente não se concretizaram e até porque um dos tripulantes, o Henrique da Costa era irmão de dois pilotos da barra do Douro e Leixões, Bento da Costa e Alberto da Costa, e pai de dois amigos meus o António e o Firmino, já falecidos. Também eu aqui em minha casa estava de escuta na frequência de onda marítima, à espera de qualquer comunicação.
Mal sabia o mestre Júlio Parracho, do rebocador MARIALVA, que colaborou nas buscas e trouxe para o Douro a baleeira e o corpo do desditoso moço da fragata, que passado alguns anos, mais propriamente a 07/12/1959, iria ter a mesma sorte dos seus camaradas do NEIVA, juntamente com os tripulantes das fragatas CANTANHEDE e MICAELENSE, aqui diante da barra do Douro, acerca de 3 milhas para Oeste, já a chegar a bom porto. Perderam-se 17 vidas das três embarcações.
Fontes e imagens: Jornal O Comércio do Porto.
Rui Amaro

ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s) em NAVIOS Á VISTA, o que muito se agradece.

ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on NAVIOS Á VISTA, which will be very much appreciated.