Enquanto nos anos 60 do século XX, ainda era possível encontrar cerca de 600 tripulantes, dentre os quais também oficiais de nacionalidade Suíça embarcados nos vários navios daquele país interior, presentemente os jovens Suíços, como os de outros países, dentre os quais Portugal, perderam o seu fascínio e atracção pela actividade marítima como forma de vida, sobretudo cidadãos Portugueses, Italianos, Alemães, Espanhóis também lotavam as equipagens dos navios Suíços.
Ainda há poucas semanas naufragou ao largo da Corunha o navio flúvio-oceânico BRAGA, de registo MAR, da Naveiro, uma companhia Portuguesa de sucesso, embora a causa fosse o mau tempo, lamentavelmente, já no helicóptero de resgate, faleceu o seu capitão de nacionalidade Portuguesa, formado pela Escola Náutica Infante D. Henrique, uma das mais categorizadas a nível mundial, e da tripulação faziam parte 2 Portugueses, 2 Russos e 2 Cabo-Verdianos, tripulação suficiente para aquele tipo de navio, dado que era todo automatizado.
Eu atendia em Leixões por volta de 1988, um porta-contentores de 105m/3.500tb, de bandeira de Antigua e Barbuda com 12 tripulantes, pertencente a um importante armador Alemão, dos quais o capitão e o 1º maquinista, Alemães, auferiam à volta de 800.000$00 cada, ao passo que a restante tripulação Filipina, desde o imediato ao moço de convés ia de 60.000$00 a 20.000$00, e diziam eles que era um óptimo salário, e depois havia o problema do entendimento, porque um Alemão e um Filipino a falar inglês, dificilmente se entendem, e é verdade, porque uma certa ocasião, eu testemunhei, o capitão, por ordem do piloto, mandar largar o ferro de estibordo para evitar o embate na muralha e o imediato percebeu bombordo, e como “capitão manda e marinheiro obedece”, o de bombordo é que foi para o fundo, e o navio ganhou uma valente amolgadela e por um triz não colidiu com o navio que se encontrava por vante, que também estava ao meu cuidado. E quando há tripulações de várias nacionalidades, então é que é o bom e o bonito, mas assim é que vale a pena por ser "mão de obra baratinha”, e já assisti a casos de haver tripulantes Africanos, que compunham a lotação, apenas pelo alojamento e alimentação. Está claro eram navios degradados de certas bandeiras de conveniência e de armadores apelidados de “piratas”, que mais tarde começaram a ser controlados e retidos nos portos pela autoridade marítima, nomeadamente pelo “state port control”.
Mas há mais! Mau tempo de perigar o navio, mas o capitão como responsável pela navegação, entende que não deve abandonar o porto e os tais “armadores financeiros” que não percebem nada mas mesmo nada de mar, só pensam em lucros chorudos, exigem que o navio largue, caso contrário ameaçam não só com a substituição do capitão, assim como da sua tripulação. Exigências, verdadeiramente inadmissíveis!
Presentemente a frota oceânica Suíça é constituída por cerca de 35 navios, que navegam por todos os mares sob pavilhão Helvético. A sua frota foi criada durante a II Guerra Mundial com tonelagem de segunda mão para assegurar o abastecimento do pais e foram de enorme valia para Portugal, relativamente à importação de cereais, devido à escassez de transporte existente, e faziam do porto de Lisboa seu porto de armamento. Actualmente os seus navios garantem não apenas o abastecimento em tempos de crise, mas também as exportações Suíças, como no passado através dos portos de Itália, França, Benelux e Alemanha.
Durante aquele conflito foram afundados ou sofreram danos graves os seguintes vapores: MALOJA (1), CHASSEZAL, ALBULA e GENEROSO (1), alguns ao serviço da Cruz Vermelha Internacional e também transportando carga para Lisboa e Leixões.
As empresas Suíças de marinha mercante são obrigadas a disponibilizar os seus navios ao governo em caso de necessidade. Em troca este garante às companhias o crédito na compra de novas unidades. Basileia é o porto de matrícula dos navios de bandeira Helvética.
A Suíça tem sido e continua a ser sede e centro de decisão de importantes companhias de navegação Helvéticas e de outros países, tais como a Keller Shipping, Mediterranean Shipping Company, Oceana Shipping, Reederei Zurich, Suisse Atlantic, Suisse Outremer, ABC Maritime, Acommarit, etc.
Finais da década de 70 do século XX a bandeira Suíça começou a desaparecer dos portos Portugueses, nomeadamente de Lisboa e Leixões, portos que eram frequentados, regularmente pelos navios da Keller Shipping (Keller Line), motivado pela praga de camiões TIR que surgiram no nosso país, vindos da Suíça, Itália, Sul de França, Espanha, que se apoderaram do tráfego, até então utilizado pela tradicional via marítima, a mais económica.
Aí vão os nomes de navios de bandeira Suíça que escalaram os portos de Leixões ou Douro, desde a I guerra mundial, de que me recordo: CARITAS I, CARITAS II, MALOJA (2), SEMPACH, LAUPEN (1-2-), GRANDSON (1-2-3), MURTEN (1-2-3), ARBEDO, GENEROSO (2) ex Português GONÇALO VELHO, RHONE (1-2), RHIN (1-2), GENERAL GUISAN, NYON e SILVAPLANA e poucos mais.
Em Basileia, existe um grupo coral de marinheiros mercantes, intitulado “Stortebekers”, fundado em 1962 juntamente com o “Clube de marinheiros da Suíça”. O coro dispõe de vinte membros, incluindo também dois acordeonistas. A grande parte desses marinheiros embarcou durante muitos anos em frotas oceânicas e de navegação do rio Reno. Quem diria!
Existem países distantes do mar, que também têm navegação oceânica, dentre os quais a Republica do Paraguai, que também possui marinha de guerra, motivado pela enorme quantidade de rios navegáveis que possuem. Eu próprio já atendi no porto de Leixões alguns navios da sua marinha mercante, que eram tripulados por oficiais, sargentos, cadetes e praças da armada e ainda o NE GUARANI, um antigo navio costeiro holandês, armado em navio escola militar, contudo afecto ao serviço comercial Paraguai/Europa ou EUA via Rio da Prata e Rio de Janeiro.
Navio de pás do lago Lucerna / Brochura do Tirismo Suiço /.
Referencias: