terça-feira, 7 de junho de 2011

OS BATELÕES COSTEIROS DA COMPANHIA COLONIAL DE NAVEGAÇÃO

Lançamento à água da fragata TAMEGA, após a sua reconstrução em 1938 pelo estaleiro Parry & Son Ltd., Ginjal.

No inicio da 2ª Guerra Mundial a Empresa Fluvial de Transportes Marítimos, Lda., gerida pela firma consignatária de navios nos portos do Douro e Leixões, Garland, Laidley & Co. Ltd., do Porto, devido a escassez de escalas dos navios das suas representadas The Booth Steamship & Co., Ltd (Booth Line) e Lamport & Holt Line, ambas de Liverpool, a primeira vocacionada no tráfego de carga e passageiros para o norte do Brasil e rio Amazonas até Manaus, com baldeação para Iquitos, e a segunda para o Brasil e Rio da Prata, vendeu em bloco à Companhia Colonial de Navegação, de Lisboa, quatro batelões, dos quais dois eram o MONDEGO e o TAMEGA, desconhecendo o nome dos dois restantes, e ainda o rebocador MARS 2º.   
Antes da abertura da doca nº 1 do porto de Leixões, por volta de 1940, as operações de carga e descarga eram realizadas na bacia portuária através de batelões (fragatas ou laitas como aquele tipo de embarcação era mais identificado aqui no Norte) que transportavam as mercadorias do rio Douro para Leixões e vice-versa, um género de "feeder", e no caso dos batelões da casa Garland, Laidley, eram conduzidas pelo seu rebocador MARS 2º, que também prestava assistência entre outros, aos vapores daquelas importantes companhias do Mersey.
Os batelões MONDEGO e TAMEGA passaram a denominar-se JAMOR e OTA, e os outros dois MASSAMÁ e RESTELO. O rebocador MARS 2º recebeu o nome de NAUTICUS.
A 26/01/1937, em consequência do violento ciclone, que atravessou o porto de Leixões, afundaram-se ou encalharam na Bacia, que se encontrava pejada de embarcações de todos os tipos e tamanhos, dois palhabotes, um lugre, dois vapores de pesca do arrasto, dez traineiras, quatro fragatas de carga, numerosas barcaças e pequenos barcos de pesca. O moderno navio-motor Norueguês INGRIA, 120m/4.391tb, andou à deriva na Bacia com cabos enrolados no hélice, por vezes assistido pelo rebocador MARS 2º, acabando por encalhar junto da praia da Sardinha, depois de ter colidido com várias embarcações, afundando algumas delas.
Os batelões MONDEGO e TAMEGA, ambos com cargas baldeadas na Bacia, vindas do Amazonas pelos vapores da Booth Line, que usualmente constava de toros de madeira, piaçaba e farinha de mandioca, óleos e essências. O primeiro afundou-se e o segundo encalhou junto da foz do rio Leça, sendo mais tarde recuperados. Do batelão MONDEGO, dois tripulantes salvaram-se a nado e um terceiro desapareceu nas águas revoltas. Quanto ao TAMEGA toda a tripulação foi resgatada.




Funcionários e colaboradores da Garland, Laidley e entidades convidadas à porta de um restaurante de  Leça da palmeira, aquando da apresentação do batelão TAMEGA no porto de Leixões, após a sua reconstrução /António Silva, Porto/.   


Os quatro batelões da Companhia Colonial de Navegação, JAMOR, OTA, MASSAMÁ e RESTELO, casco de aço, a que se juntava o NAZARÉ, construído em madeira e de maior porte, que eram conduzidos pelos rebocadores da mesma companhia OCEANIA e NAUTICUS, que normalmente conduziam dois batelões por viagem, e acerca disso, numa certa entrada no Douro dos batelões JAMOR e OTA, rebocados pelo NAUTICUS em 1945, ao alcançarem o dique da Meia Laranja, a amarreta da OTA rebentou, precisamente no ponto mais estreito da barra, tendo ficado à deriva, e de imediato o mestre mandou largar um dos ferros, acabando por ficar atravessado ao rio. De pronto largou do cais dos pilotos a lancha P4, que encostou a proa ao costado da laita e a foi segurando para não varar no areal do Cabedelo ou no enrocamento da margem norte. 
O NAUTICUS seguiu para montante até largar o batelão JAMOR junto ao banco dos Arribadouros, onde fundeou, e de seguida veio à barra pegar de braço dado a OTA, e pouco depois pegou a JAMOR, seguindo rio acima no meio dos dois batelões, de braço dado, um a bombordo e o outro a estibordo, até as  amarrar junto do lugar da lingueta do Faria, Terreiro.

 O rebocador MARS 2º ainda com as cores da Booth Line, de Liverpool / foto de autor desconhecido /.

Aqueles batelões, quando de propriedade da Companhia Colonial de Navegação, operavam entre os portos de Lisboa e Porto/Leixões, transportando mercadorias de/para os navios da companhia da linha das colónias Portuguesa de África, e que ficavam no Tejo, além de cargas do tráfego costeiro nacional.
Em 1946 o JAMOR e o OTA colaboraram no desencalhe e condução do lugre MARIA DAS FLORES na ria de Aveiro, desde o Bico da Murtosa onde fora construído para a Gafanha da Nazaré, levando o navio enforcado entre os dois, trabalho deveras delicado.


O NAZARÉ quando cruzava a barra do Douro metia piloto assim como o rebocador OCEANIA por vezes também o requisitava, mesmo em Leixões, apesar do mestre Marcelino Justino ter sido um experimentado mareante de ambos os portos, desde há muitos anos, pois fora mestre do rebocador local BURNAY 2º, o que nunca cheguei a entender.


 O rebocador OCEANIA no rio Douro, junto à Ribeira, Porto, em 1945 / foto de autor desconhecido /.


JAMOR, 37,80m/ 202,10tb/ construída na Alemanha em 1924 e reconstruída nos estaleiros Parry & Son, Ginjal, 1938. Registado em Lisboa em nome da CCN em 20/12/1941.
OTA, 40,04m/ 200,63tb/ construída na Alemanha em 1924 e reconstruída nos estaleiros Parry & Son, Ginjal, 1938. Registado em Lisboa em nome da CCN em 05/03/1942.
MASSAMÁ, 31,10m/ 167,41tb/ construída nos estaleiros Parry & Son, Ginjal, 1910. Registado em Lisboa em nome da CCN em 01/05/1942.
RESTELO, 31,13m/ 168,67tb/ construída nos estaleiros Parry & Son, Ginjal, 1910. Registada em Lisboa em nome da CCN em 19/06/1942.
Lotação constituída por quatro tripulantes cada.
MARS 2º – 31,88m/ 114tb/ 10nós/ casco de aço; 09/1909 entregue por Scott & Sons (Bowling), Glasgow, à The Booth Steamship Co., Ltd. (Booth Line), Liverpool; para assistência aos seus navios no porto de Leixões, vindo tomar o lugar do rebocador MARS, que se perdeu na grande cheia de 1909 do rio Douro; 1909 MARS 2º, Empresa de Transportes Fluviais e Marítimos, Lda., gestor Garland, Laidley & Co., Ltd., Porto; 1942 NAUTICUS, Companhia Colonial de Navegação, Lisboa, operando no tráfego fluvial e costeiro, na rebocagem dos batelões da companhia e no serviço fluvial do porto de Lisboa. Em 1947 o NAUTICUS juntamente com o OCEANIA foram prestar serviço para um porto, algures nos territórios Portugueses de Africa, motivado pela chegada dos rebocadores MONSANTO, MUTELA e MAFRA, adquiridos nos EUA, e em 1959 o OCEANIA foi vendido ao armador Nav. Fluvial Costeira de Rui da Cruz e Júlio da Cruz, Lda., de Lisboa, que o recontsruiu e aumentando o seu porte tendo sido demolido em Alhos Vedros em 2008.


Foto de 1981 da doca do Jardim do Tabaco, na qual se pode ver a parte da proa do batelão OTA e por vante deste o batelão JAMOR, e ainda os rebocadores FALCÃO PRIMEIRO, OURÉM, LINHÓ, da ETE, e na popa do batelão distinguem-se os rebocadores TRANSFAL, da ETE e o OUDINHAS, da Socarmar.
Foto enviada gentilmente por Nuno Bartolomeu, a que se agradece a atenção.


 Os batelões JAMOR e OTA em 1974 foram transferidos para a frota da então formada CTM, empresa estatal composta pela junção da CCN e Insulana, tendo-lhes sido retirados os dois mastros, e estiveram ao serviço da CTM até 1979, ano em que aquele armador vendeu o rebocador MUTELA, as lanchas MONFORTINHO e CARCAVELOS e os batelões JAMOR, OTA, OLIVEIRA à Socarmar. Os outros batelões da CTM de nome MASSAMÁ, RESTELO, CABO RUIVO, CHIMBOA, MAGOITO, ARNEIRO, MALVEIRA, ZÉZERE, GIBALTA, ALGÉS, CAXIAS, foram em 1979 para um sucateiro naval sedeado em Alhos Vedros. Em 1985 ainda se podiam ver vários batelões antigos da CTM encalhados em Alhos Vedros, pouco tempo depois a Socarmar vendeu os batelões JAMOR e OTA á Empresa Tráfego e Estiva, de Lisboa. O batelão JAMOR já em 1981 estava a aguardar venda e foi comprado pela firma João Conde para transportar pedra, e para tal os dois porões foram convertidos num único, e ao mesmo tempo foi eliminada a cabine de popa. Quanto ao batelão OTA foi encalhado em 1987 pela ETE no Estaleiro do Carvidão do Seixal para desmantelamento em sucata.

Fontes: Imprensa diária; Nuno Bartolomeu e Garland, Laidley & Co., Ltd.
Rui Amaro

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