No distanciado ano de 1909 aparecera o ELITE, mandado construir em Inglaterra pela Parceria Geral de Pescarias, Lda. de Lisboa, uma experiência que durou até 1910, e que foi o “primeiro” vapor de pesca do bacalhau por arrasto de pavilhão Português, ainda que de pouco porte, tipo idêntico aos arrastões Franceses à época, e aos vapores da pesca de arrasto Portugueses da costa e do Cabo Branco, se bem que estes eram de menor tonelagem, e com períodos de mar de cerca de três a quatro semanas.
Pois naquelas duas campanhas, o ELITE não provou bem por variados factores; máquina apesar de grande, era fraca para puxar as redes; elevado consumo de carvão, a técnica da pesca com a rede estava na mão do mestre de redes, um Francês contratado que não colaborava com o capitão do arrastão, o pessoal não estava preparado para este tipo de pesca, pelo que o navio foi retirado do bacalhau, experimentou pescar no Cabo Branco, com sucesso, mas acabou por ser substituído por navios mais pequenos. É graças ao seu grande tamanho que este navio foi utilizado como escoltador dos navios mercantes, entre o continente, os Açores e a Madeira.
O ELITE, aqui convertido no NRP AUGUSTO DE CASTILHO / (C) foto de autor desconhecido /.
Data de 1501 a saída de embarcações de Aveiro para a pesca do bacalhau, nos bancos da Terra Nova.
Por volta dos anos trinta do século XX aquela pesca atravessou uma das maiores crises da sua vida, levando os armadores a suportarem dificuldades de toda a ordem, particularmente no domínio financeiro.
Em 1931, quatro bravos capitães, cujos nomes não é demais recordar, Manuel dos Santos Labrincha, João Ventura da Cruz, João Pereira Cajeira e Aquiles Gonçalves Bilelo, resolveram a aventurarem-se a irem em “comboio”, se é que o termo está correcto, nesses puros lugres á vela desprovidos de quaisquer meios de propulsão que não fosse a eólica e sem ajudas de comunicação, até aos mares gelados da Groenlândia, pescar bacalhau.
Foi um feito heróico e, graças ao carregamento que trouxeram, abriram novas perspectivas a esse tipo de economia, se bem que aqueles destemidos capitães se negaram a lá voltar sem motor auxiliar de propulsão, o que era absolutamente lógico.
Lançamento à agua do SANTA JOANA /(C) Danish Maritime Museum, Elsinore /.
É nessa altura que Carlos Roeder, na qualidade de representante em Portugal dos motores diesel Guldner, surge em Aveiro a vender motores para os lugres da Empresa de Pesca de Aveiro. Fá-lo a crédito e, mais tarde é convidado a entrar como sócio dessa importante empresa com o valor da venda dos motores, o que aceita. É assim que Carlos Roeder, cidadão do Sul do País e mais tarde, principal fundador e accionista dos Estaleiros Navais de São Jacinto, começa a ser conhecido em Aveiro.
Convence os sócios da Empresa de Pesca de Aveiro e abandonarem a pesca à linha em dóris, por a considerar desumana e ultrapassada e a iniciar a pesca por arrasto, tal e qual os Franceses, que já de há muito a trabalhavam.
O SANTA JOANA preparando-se para experiências de mar no Baltico, ainda arvorando a bandeira do estaleiro e da Dinamarca / (C) Danish Maritime Museum, Elsinore /.
Assim nasce em 1936 o primeiro arrastão Português, o SANTA JOANA, para a pesca longínqua, mandado construir na Dinamarca por Carlos Roeder, e que era considerado, á época uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau e conseguia realizar duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro, por conseguinte era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o custo de uma embarcação com as mesmas características rondava os 8.500 contos.
O SANTA JOANA fundeado algures nos pesqueiros / (C) foto de autor desconhecido -MMI ).
Com o seu elevado espírito de progresso, Carlos Roeder adquire como sucata em St. Pierre et Miquelon um segundo arrastão, o SPITZBERG, que sofrera um violento incêndio, e que depois de trazido para Aveiro e reparado se passou a chamar SANTA PRINCESA, e toma a decisão de construir nos terrenos da E.P.A. um estaleiro para construção naval em aço, no porto de Aveiro, mas não entenderam assim os restantes sócios daquela empresa.
Carlos Roeder que era de ideias fixas, resolve então, com um grupo de amigos e colaboradores, iniciar no ano de 1940, na povoação de São Jacinto, a construção de um estaleiro com esse nome, cuja razão social passou a ser Estaleiros Navais de São Jacinto, e que depois de ter passado por períodos de substancial sucesso, mesmo a nível internacional, terminaram a sua actividade devido à falta de encomendas, sobretudo navios de pesca, há alguns anos.
O MINERVA (1) atracado no porto de Fécamp / (C) foto de autor desconhecido - colecção Jacques Daussy, Fécamp /.
ELITE – 53m/487tb/9 nós/ lotamento 42; 07/1909 entregue pelo estaleiro Cochrane and Sons Co., Ltd., Selby, UK, ao armador Parceria Geral de Pescarias., Lda., gestores Bensaúde & Cia.,, Lda., de Lisboa; 1916 NRP AUGUSTO DE CASTILHO, requisitado pela Marinha de Guerra Portuguesa, a fim de ser utilizado em missões de patrulha e escolta oceânica, tendo para isso sido equipado com armamento apropriado; 14/10/1918 NRP AUGUSTO DE CASTILHO, heroicamente afundado, após luta desigual com o submarino U-139 da Imperial Marinha Alemã, a fim de dar fuga ao paquete S. MIGUEL em rota do Funchal para Ponta Delgada, transportando 206 passageiros.
http://phalerae-jvarnoso.blogspot.com/2009/12/um-heroi-da-grande-guerra-revisitado.html
http://infoinconformista.blogspot.com/2008/11/nrp-augusto-de-castilho.html
SANTA JOANA – 71m/1.198tb/ 11,5 nós/ calado 19’ 5”/ capacidade de pesca cerca de 1,170 tons/ frigorifico / T.S.F. / 2xmotores gasóleo Guldner 900 I.H.P./ 1 hélice/ leme eléctrico/ 4 baleeiras salva-vidas/ casco de aço de maior espessura na roda de proa e amuras 16mm, restante 13mm / dois castelos/ guincho de pesca para 1.200m de cabo de aço de 2,5 polegadas/ 2xarcos de pesca a bombordo e estibordo, embora o manuseamento se efectue por estibordo, onde passam os cabos que rebocam o aparelho de pesca, sendo este constituído por portas de arrasto de madeira e ferro, ou só de ferro de 500/600 quilos cada, no começo, e posteriormente 1.300 a 1.500 quilos cada, rede e saco; destinava-se este tipo de aparelho à pesca de fundo, como geralmente o é a do bacalhau.
A sua autonomia era de cerca de 60 dias e tonelagem bruta de cerca de 1.200 toneladas, traduzido em quintais de bacalhau verde à descarga 18.000 quintais e com uma tripulação de 64 homens, descriminados 3 na ponte, 7 na máquina, um na T.S.F., 4 na cozinha e câmaras e 49 incluindo mestrança destinados à captura e ao preparo do peixe, comandados por João Ventura da Cruz, que foi o seu primeiro capitão.
O capitão é o pescador responsável, embora no arrastão SANTA JOANA embarcasse também um mestre de redes Francês para emprestar o seu saber e experiência. Até 1950 o equipamento da ponte quedar-se-á pela roda do leme e prumo de mão e só a partir desta data com a aplicação da electrónica como ajuda à navegação, surgirão radares, sondas, gónios, lorans, novos equipamentos de telegrafia e telefonia. O incremento que já se verificava em frotas estrangeiras, muito vagarosamente será pelos responsáveis Portugueses assimilado a despeito dos repetidos avisos dos capitães-pescadores que se viam assim ultrapassados no seu saber, experiência e capacidade, pela evoluída técnica estrangeira filha dessas ajudas electrónicas; 08/1936 entregue pelo estaleiro Nakskov Skibsvaerf A/S, Nakskov, à Empresa de Pesca de Aveiro., Lda. (E.P.A.), Ílhavo, Aveiro; 19__ SANTA JOANA, interesses Aveirenses??; 22/10/1982 SANTA JOANA, naufragou devido a incêndio no Flemish Cap, posição 47.04N/44.13W, cerca de 350mn a Leste de São João da Terra Nova.
GENEPESCA IV / (C) foto de autor deconhecido - colecção Jacques Daussy, Fécamp /.
MINERVA(I) / GENEPESCA IV – 70m/1.148tb/12 nós; 07/1937 entregue pelos Chantiers er Ateliers de St. Nazaire (Penhoet) SA., Grand Quevilly, ao armador Société Havraise de Pêche, de Le Havre; 1943 requisitado pela “Kriegsmarine” que o converteu no caça-submarinos UJ-2209; 17/0371944 UJ-2209, atacado e afundado no Adriático pela força aérea Aliada, sendo mais tarde posto a reflutuar; 1948 GENEPESCA IV, Cia. Generale Italiana della Grandi Pesca . GENEPESCA, Livorno; 12/1968 chegava a Vado Ligure para desmantelamento.
Fontes: Revista da Armada; Eng. Ricardo Matias; 30 Anos da Pesca do Bacalhau, de Asdrúbal J. S. Capote Veiga; Pela Positiva, de F. Martins; Jacques Daussy, Fécamp; Museu Maritimo de Ilhavo; The Danish Maritime Museum, Elsinore; Lloyd’s Register of Shipping.
Rui Amaro