quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

« SAUDAÇÕES FESTIVAS »



2008 / 2009





NAVIOS Á VISTA


SERENIDADE NO DOURO - Aguarela de Arménio Reis


BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO


FELICES PASCUAS Y PROSPERO ANO NUEVO

JOYEUX NOEL ET MEILLEURS VOEUX DE NOUVEL ANNÉE

MERRY CHRISTMAS AND HAPPY NEW YEAR

EIN PROHES WEINACHTSFEST UND EIN GUTS NEUES JAHR

AUGURI DI BUON NATALE E FELICE ANNO NUOVO

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

« NAVIOS DE PAVILHÃO PORTUGUÊS ATACADOS OU AFUNDADOS POR UNIDADES NAVAIS OU AÉREAS BELIGERANTES EM CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO MUNDIAL DE 1939/1945 » (4)


LABRADOR
– ex Dinamarquês LYDIA – Lugre-motor bacalhoeiro – 1919 – 42m/307tb – Sociedade. Lisbonense da Pesca do Bacalhau., Lda. – Lisboa.

Gravura de noticia de o jornal "O Comércio do Porto"

A 24.05.1942, já pela tarde, quando rumava de Lisboa para os Grandes Bancos, levando uma companha de 41 homens, sob o comando do capitão Simões Picado, foi interceptado e mandado parar por um cruzador-auxiliar da “Royal Navy”, para o que foi utilizado o usual sistema de bandeiras. O capitão do LABRADOR mandou ferrar o pano, e aguardou a abordagem da baleeira dos Ingleses. Subiram a bordo dois oficiais acompanhados de duas praças, como é normal para estas situações, os quais verificaram toda a documentação e o destino que o lugre levava.
Para se certificarem que não estavam a ser enganados, pediram-lhe que comunicasse pela fonia com navios já a fainar nos Grandes Bancos. Respondeu-lhe o lugre-motor NORMANDIE, saudando-o com os desejos de boa chegada, saúde para todos e de uma proveitosa campanha de pesca. Os oficiais Ingleses ficaram convencidos da verdade, e antes de deixarem o LABRADOR, pediram desculpa pelo incómodo originado e disseram gentilmente: “C’est la guerre”. O lugre largou pano e reiniciou a rota para os pesqueiros. Após várias milhas de navegação, vê-se envolvido por nevoeiro cerrado, que é sinal de que o Grande Banco lhe está próximo.
Na madrugada do dia seguinte, vê-se metido no meio de um comboio naval, cujos vapores lhe passavam pela proa e pela popa, a barlavento e a sotavento A situação tornou-se muito complicada, pois o comboio navegava com os faróis de navegação apagados, pareciam fantasmas. O LABRADOR lá se ia desembaraçando conforme podia, ora metendo leme a um bordo, ora ao outro, na tentativa de evitar ser abalroado. Houve momentos de pavor e pânico, quando a proa de um vapor Inglês colidiu no débil lugre de madeira, valeu a experiencia do capitão Picado que ordenou leme todo a bombordo, na tentativa de minimizar as avarias que o seu navio poderia sofrer pela colisão. Apesar dessas manobras de recurso, o vapor Inglês apanhou o lugre pela amura de estibordo e destroçou-o desde a proa até meia-nau, resultando daí, um pescador ter sido projectado ao mar, o qual, felizmente foi resgatado pelos seus camaradas. O vapor causador do abalroamento seguiu o seu destino, possivelmente ignorando o incidente. Felizmente as avarias não prejudicariam a navegação e a pesca, nem tão pouco necessitaria de arribada para reparações provisórias, e assim foi porque, entretanto o LABRADOR dava fundo nos pesqueiros dos Grandes Bancos da Terra Nova, e lançava ao mar os típicos dóris para o inicio de mais uma campanha da “Faina Maior”.
Mal perspectivava o capitão Picado, que a 12.09.1942, já de viagem para a Pátria, o seu navio ficaria para a história trágico-marítima com o salvamento dos náufragos do lugre DELÃES, atacado e afundado sem dó nem piedade pelo U-96.
O LABRADOR, 42m/307tb, construído pelos estaleiros Dinamarqueses Korsor Skibsvaerft, Korsor, como SKJOLD para um armador daquela nacionalidade e em 1935, já como o Dinamarquês LYDIA, foi adquirido pelo armador português Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, Lda., Lisboa. Naufragou na campanha de 1958 no Virgen Rocks, Terra Nova, devido a incêndio.
Será que a “Royal Navy”, que obrigou o LABRADOR a parar, já com os Grandes Bancos por muito próximos, não saberia o que eram lugres da pesca do bacalhau, tão familiares por aquelas águas, fossem Portugueses ou Franceses, se bem que, estes estavam ausentes daquelas latitudes, devido ao conflito?! Certamente que não sabiam! Allan Villiers, tão habituado a navios de vela, também o não sabia. Pois na ano da graça de 1929, quando embarcado na galera Finlandesa GRACE HARWAR, do armador Gustav Erikson, com 75 dias de passagem da Austrália para a Inglaterra, questionou, que navios seriam aqueles pintados de branco, bastante carregados, de panos largos, cheios de barquitos, pintados de vermelho e castanho, empilhados no convés, em rumas de seis botes de altura, não se vendo barcos salva-vidas nem turcos, e com imensa gente no convés, que pararam as lides de bordo para lhes acenarem. Eram navios da dura pesca do bacalhau, dissera-lhe um marinheiro francês de Fécamp. Esses lugres, que se cruzaram em pleno Atlântico com aquela famosa galera, rumavam aos pesqueiros do Noroeste do Atlântico, eram eles, o MARIA DA GLÓRIA, NEPTUNO II e o ARGUS!

http://www.jrusselljinishiangallery.com/pages/blossom-pages/blossomimage-roaring-40s.htm


MARIA DA GLÓRIA – ex Português PORTUGÁLIA – Lugre-motor bacalhoeiro – 1919 – 45m/320tb – Empresa União de Aveiro, Lda. – Aveiro.


O malogrado lugre-motor MARIA DA GLÓRIA /(c) foto de autor desconhecido/.


A 05.06.1942, pelas 15h30, outras versões mencionam 22h50, quando navegava nos Grandes Bancos, posição 50.14N e 39.12W, de rumo ao estreito de Davis, foi atacado, barbaramente a tiro de canhão, pelo submarino Alemão U-94 do comando do Oberleutnant Otto Ites, resultando desse ataque àquele lugre indefeso, a morte de 36 elementos da equipagem, salvando-se apenas 8, após alguns dias de duro sofrimento, entre os quais o Ílhavo Sílvio Ramalheira, seu capitão e armador.
A odisseia do brutal ataque e afundamento do desventurado MARIA DA GLÓRIA descrita na obra literária editada em 1952 e assinada por Alan Villiers sob o título “A Campanha do ARGUS”, cujo titulo original é “The Quest of the Schooner ARGUS” relativa à campanha de 1950 daquele lugre, e que em parte é uma das referências para este episódio.
Havia muito a dizer a respeito dos lugres. O capitão Sílvio sabia isso muito bem, porque andara em muitos deles e fora um dos donos do último, onde navegara. Andara, alguns anos, no velho lugre-escuna CREOULA, antecessor do belo navio de quatro mastros que hoje usa o mesmo nome; no célebre NEPTUNO e no GAMO, assim como no GAZELA. E o MARIA DA GLÓRIA. O MARIA DA GLÓRIA! Nunca mais se esquecera daquele dia em que um submarino o atacara! E que desespero, só de o recordar! O MARIA DA GLÓRIA era um lindo lugre de três mastros, de madeira, airoso e rápido. Empatara nele todas as economias da sua vida e gostava a valer daquele navio. Durante a guerra de 1939/45, o lugre não deixou de pescar no Grande Banco e no estreito de Davis. Um dia, com o céu limpo, começaram, de repente, a cair granadas em volta dele, sem se perceber de onde provinham. Pensou, primeiro, que não obedecera ao aviso, por qualquer lobo pardo de navio de guerra para meter à capa e ser identificado, talvez um Inglês ou Canadiano ansioso por certificar-se de que não se tratava de outro Conde Félix von Luckner, e que o MARIA DA GLÓRIA não era nenhum novo SEEADLER ou um mais pequeno GRAF SPEE, disfarçado. Mas, no horizonte, não se avistava qualquer navio de guerra, a despeito da boa visibilidade.
Depois, as granadas começaram a explodir a bordo. Vários pescadores morreram. Um projéctil rebentou com o pau da bujarrona e deitou abaixo o mastro de traquete. Começaram a arder várias pilhas de dóris. Algumas das granadas eram mais do tipo de matar gente do que para avariar o navio. Todavia, este já sofrera desgraçadamente demasiado e estava com fogo e a afundar-se. O capitão deu ordem para se abandonar o lugre. Arriaram, apressadamente nove dóris com sobreviventes. Só então viu quem o estava a atacar. Era um grande submarino, que, tinha estado disparando à flor de água, e se aproximava mais, para acabar com o MARIA DA GLÓRIA, como realmente fez. Viram nitidamente o submarino Alemão que, depois de meter a pique o lugre, passou a fazer fogo contra os dóris. Um projéctil explodiu entre os nove botes. O capitão foi dos mais gravemente atingidos pelos estilhaços. O submarino, a seguir, afastou-se. Quase imediatamente, levantou-se vento de Sudoeste, encapelando o mar. Dali a uma hora, desencadeava-se uma tempestade. Os dóris estavam amarrados uns aos outros, tentando aguentar-se com âncoras flutuantes. Mas, se uns tinham podido trazer as velas outros não o tinham conseguido fazer na precipitação da manobra de arriar.
Como o navio ia de rumo, naquela ocasião, a novas zonas de pesca, nem todos os botes se encontravam com a palamenta dentro. O vento e a vaga fizeram com que alguns dos dóris partissem as amarras e seguissem à deriva, nunca mais ninguém os vendo. Estes navios não possuíam as características baleeiras salva-vidas e os dóris eram embarcações bastante frágeis para navegação prolongada e para mais sobrecarregados. Muitos homens estavam gravemente feridos. Alguns morreram. Outros endoideceram com o sofrimento. Não dispunham nem de água nem de alimentos, e a tempestade açoitou-os durante quatro dias. Entretanto, o capitão Sílvio, que conseguira a despeito de gravemente ferido, conservar a serenidade, escolheu um rumo em direcção à costa do Labrador ou ao norte da Terra Nova, cruzando as prováveis derrotas dos navios de pesca que iam para a Groenlândia, numa derradeira esperança de encontrar algum. Mas isso não aconteceu.
No quinto dia, só restavam três dóris. Entretanto, o estado do capitão Sílvio piorara rapidamente. Os seus pescadores acharam melhor passarem-no para o dóri do piloto. Ao cabo de nove dias, felizmente um avião de caça a submarinos que andava em patrulha, avistou-os e largou caixas de sinais e de comida. Dois dias depois, aqueles sinais foram avistados pelo USCGCutter SEA CLOUD (WPG-284), um grande navio meteorológico da Guarda Costeira Americana, baseado em Argentia, Terra Nova, que acudiu ao último dóri. Só ali encontrou oito sobreviventes e um morto, rumando de seguida para Boston, onde desembarcaram e foram assistidos.
Todos os oito sobreviventes foram repatriados, dos quais um grupo de quatro, de que fazia parte o capitão Sílvio, embarcaram em Baltimore no paquete NIASSA, que chegou ao Tejo a 02.09.1942, e no dia seguinte foram ouvidos na Majoria Geral da Armada e ainda na Policia Marítima, tendo de seguida regressado a Ílhavo. Porém passados três dias voltaram a Lisboa para serem internados em serviço hospitalar, a fim de receberem tratamento pelos ferimentos e traumas sofridos no naufrágio.
Decorreram muitos meses antes que o capitão Sílvio pudesse andar. Trinta e seis homens morreram, com o MARIA DA GLÓRIA. Nessa ocasião, o capitão Sílvio ainda não sabia que o azar do seu lugre fora o de se encontrar na provável rota do BISMARCK em fuga, e, por isso, o sacrificaram. Não avistara o BISMARCK nem mesmo sabia que o grande couraçado Alemão tinha saído para o mar.
Ao recordar aquilo tudo, encolhia os ombros, mas sentia as cicatrizes doerem-lhe. No estreito de Davis, doíam-lhe sempre. O médico dizia ser aquilo imaginação, mas esse doutor não andara onze dias à deriva num dóri.
O capitão Sílvio Ramalheira foi mais tarde capitão do novo navio-motor bacalhoeiro ELISABETH e como o seu nome o diz, pertencia à família dos Ramalheiras de Ílhavo, que deu muitos pilotos e capitães para os navios bacalhoeiros, dentre eles João Pereira Ramalheira, mais conhecido por “Vitorino”, que foi capitão dos dois navios hospitais de apoio à frota denominados GIL EANNES e Aristides Pereira Ramalheira, que foi piloto de lugres bacalhoeiros e terminou a sua vida de mar como piloto-mor da Corporação de Pilotos do Douro e Leixões.
O MARIA DA GLÓRIA era um lugre de três mastros, 45m/320tb, construído em 1919 na Gafanha da Nazaré, ria de Aveiro, com o nome de PORTUGÁLIA, por Alfredo Mónica. Em 1927 foi adquirido pela Empresa União d’Aveiro, Lda, que lhe alterou o nome e em 1937 instalou-lhe um motor auxiliar.
O USSCGCutter SEA CLOUD (WPG-284), 109,7m/2.323tb, lançado à agua em 09.1931 pelo estaleiro Fred. Krupp Germaniawerft A.G., Kiel, como um iate de luxo de bandeira Americana, armado em barca de quatro mastros de motor auxiliar, denominado HUSSAR; 1935 SEA CLOUD; 1942 requisitado pela USNavy e convertido em estação de recolha de dados meteorológicos, servindo também de patrulha e caça a submarinos no Atlântico. Todo o aparelho de velame e o gurupés foi-lhe removido e dos quatro mastros, apenas ficou um deles para as antenas e sinalização. A sua pintura de cor branca de iate foi substituída pelo cinzento da Navy e foi aparelhado com armamento de tiro anti-submarino, passando a fazer parte da frota da USCoast Guard até ter sido transferido para USNavy em 04.1943, recebendo o número de amura IX-99; 11.1944 desactivado e entregue ao seu armador, continuando a ter uma longa carreira como iate particular e de cruzeiros. 1962 ANGELITA, 1961 PATRIA; 1964 ANTARA; 1979 SEA CLOUD; 1980 SEA CLOUD OF GRAND CAYMAN; 1987 SEA CLOUD, 2008 ainda em serviço activo arvorando o pavilhão de Malta. Quando em rota de cruzeiro, esteve arrestado no porto de Leixões desde 04.11.1979 a 25.01.1980, tendo sido notícia de primeira página na comunicação social.
A 28.08.1942 o submarino U-94 foi atacado através de bombas submarinas largadas por um avião Americano e cargas de profundidade lançadas pela corveta Canadiana HCMS OAKVILLE, que entretanto acorrera ao local, a cerca de 130 milhas náuticas a Leste de Kingston, Jamaica, acabando por ir a pique com uma grande parte da sua tripulação, que não teve qualquer hipótese de abandonar o seu submarino.
O Oberleutnant Otto Ites, que estava entre os 26 sobreviventes foi detido e levado para um campo de prisioneiros de guerra nos E.U.A. depois de ter passado pela base naval Americana de Guantanamo, situada na ilha de Cuba. Em Maio de 1946, após a sua libertação e regresso à Alemanha, tornou-se dentista, até ser incorporado em 1956 na “Bundesmarine”, a nova Marinha de Guerra da Alemanha Federal. Mais tarde tomou o comando do contratorpedeiro Z-2, ex Americano USS RINGGOLD, que ocupou por dois anos e a partir daí passou por vários cargos de gabinetes importantes em terra e em 1977 aposentou-se com a patente de Konteradmiral, tendo falecido em 02.02.1982 na sua terra natal, Norden, Ostfriesland.

http://fotos.sapo.pt/SwpY0lepkwL5pm7TSv4y?a=7

http://www.mocpages.com/moc.php/8180

http://uboat.net/men/uniforms/uniday.htm

http://uboat.net/men/doenitz_men.htm

http://www.steelnavy.com/CombatSubsTypeVIIc.ht

http://www.uboat.net/men/ites.htm

http://www.uboataces.com/uboat-type-vii.shtml

http://www.history.navy.mil/photos/sh-usn/usnsh-s/ix99.htm

http://www.shipsnostalgia.com/gallery/showphoto.php?photo=112589

http://www.shipspotting.com/modules/myalbum/photo.php?lid=782147

http://www.shipsnostalgia.com/gallery/showphoto.php?photo=28059


DELÃES – Lugre-motor bacalhoeiro – 1938 – 44m/415tb – Soc. Nac. dos Armadores da Pesca do Bacalhau (SNAB) – Lisboa.



O lugre-motor DELÃES no estuário do Tejo, diante de Belém, nos preparativos para a cerimónia da Benção dos Bacalhoeiros, primeiros anos da década de 40 /(c) foto de autor desconhecido/.


A 10.09.1942 navegava desde os pesqueiros da Groenlândia, após cerca de 79 dias de pesca, com carregamento completo de 9.500 quintais de bacalhau, para Lisboa sob o comando do capitão João Nunes de Oliveira e Sousa, natural de Ílhavo, localidade que tem fornecido a maior parte dos trabalhadores da pesca do bacalhau, desde capitães a pescadores. O lugre, que já trazia dez dias de viagem e esta decorria com normalidade, apresentava-se com todas as luzes acesas, além dos sinais convencionais de reconhecimento da sua nacionalidade neutral bem visíveis, todavia pelas 22h00 avistou-se uma embarcação suspeita, que pouco depois verificou-se ser um submarino, o qual passou a navegar ao lado do DELÃES e algum tempo depois desapareceu.
Na madrugada de 11, pelas 04h30, foi avistada uma luz vermelha muito viva, que se dirigia na direcção do lugre, Não percebendo o que seria aquela luz, o capitão mandou parar a máquina e verificou tratar-se de um navio de guerra, que ostentava à popa o número 113, o qual pouco depois se afastou, deixando o lugre seguir a sua rota. Aquele vaso de guerra, possivelmente pertencia à escolta de um comboio aliado, avistado a norte, já pelo alvor e devia ser a corveta Canadiana HMCS ARVIDA (K-113) da classe Flower.
Pelas 09h00 do mesmo dia, avistou-se pela proa, a cerca de 3 milhas, um submarino, ouvindo-se de imediato uma detonação, ao mesmo tempo que se observava cair uma granada próximo do lugre, o qual se atravessou para ser reconhecida a sua nacionalidade neutral e dar a conhecer a sua obediência à ordem de parar, contudo as granadas continuavam a cair, umas após outras e cada vez mais próximo, até o navio ter sido atingido. A equipagem do lugre alvejado, composta por 54 tripulantes, abandonou o seu navio, apressadamente em 10 dóris, sem haver tempo de pedir socorro através da radiotelefonia de bordo. Os lugres bacalhoeiros não eram equipados com baleeiras salva-vidas, valiam-se dos dóris da pesca à linha, tripulados por um só pescador.
O submarino Alemão U-96 do comando do Kapitanleutnant Hans Jurgen Hellriegel continuou a destruição do DELÃES, caindo o mastro de vante, costado arrombado, incêndio e depois afundamento. Gastou o submarino dezenas de granadas no seu acto criminoso, fazendo com que Portugal perdesse um moderno lugre e o seu carregamento de bacalhau, tão necessário à dieta dos portugueses, para mais em tempo de guerra.
Entretanto, o U-96 desapareceu da área, possivelmente na procura de mais um indefeso navio mercante e para deixar mais uns tantos náufragos nas baleeiras ou sepultados no fundo do oceano com o seu navio, ficando os náufragos do DELÃES nos seus frágeis dóris na posição de 54.03N e 29.32W, ou seja a mais de 600 milhas da terra mais próxima, a Groenlândia, praticamente sem roupas, sem água nem comida, que a voracidade do ataque não deixara trazer.
Por boa estratégia do seu capitão aqueles dóris foram presos uns aos outros por meio de boças, formando-se assim um todo, que veio a ser salvo sem perdas de vidas, na manhã seguinte, pelo lugre-motor bacalhoeiro LABRADOR, 42m/307tb, da praça de Lisboa, que por muita sorte vinha a navegar de rumo ao Tejo na esteira do DELÃES, para onde levou os 54 náufragos, embora bastantes milhas pela ré e avistara os sinais de pedido de socorro.
Segundo se sabe, o U-96 fazia parte de uma matilha de submarinos, que estavam atentos à passagem do comboio naval ON-127 Liverpool/Nova Iorque, a fim de o interceptar e atacar. Certamente seria aquele, anteriormente avistado pelo DELÃES. Já de véspera aquele submarino tinha feito avarias no petroleiro Inglês F. J. WOLFE e afundado os vapores Norueguês SVEVE e o Belga ELISABETH VAN BELGE, desse mesmo comboio. Como o DELÃES navegasse muito próximo da rota do referido comboio Aliado e porque os Alemães tivessem escutado, através do ASDIC, comunicações radiotelefónicas emitidas de bordo daquele lugre bacalhoeiro, o que era uma infracção ao imposto à navegação neutra durante o conflito, o DELÃES estava a apresentar sinais de uma embarcação suspeita e ainda para mais denunciando, involuntariamente a presença de submarinos Alemães na área. Aliás, eu próprio, ainda criança, ouvia dizer que a expressão "andam por aí ratos", referindo-se a submarinos, foi utilizada pelo capitão Sousa. Em face disso os Alemães não gostaram da conversa, pelo que o U-96 tentou parar o DELÃES com três tiros para a proa, e não dando sinais de se deter, e também porque não mostrasse as marcas da sua neutralidade ou de bordo do submarino não fossem visíveis, foi o mesmo alvejado e afundado da distância de 200 metros.
Na Primeira Guerra Mundial, o iate SOPHIA e o lugre GAMO, dois navios bacalhoeiros, foram atacados e afundados pelos famigerados U-Boots, dado que Portugal era um dos países beligerantes, e curiosamente, acontecimento idêntico ocorreu na Segunda Guerra Mundial com os lugres MARIA DA GLÓRIA e o DELÃES, só que estes ostentavam marcas e sinalização convencionais da sua neutralidade Portuguesa.
O DELÃES e o seu gémeo OLIVEIRENSE, eram lugres-motor de três mastros, 44m/415tb e embora pertencessem à SNAB, Lisboa, estavam registados na capitania do porto do Porto, por terem sido construídos em 1938 na Gafanha da Nazaré por António Maria Bolais Mónica para a Empresa de Pesca de Bacalhau, Porto.



O lugre-motor OLIVEIRENSE, gémeo do DELÃES, amarrado no lugar do Jones em 17/10/1964, a fim de descarregar bacalhau para a seca de Lavadores, V. N.de Gaia. Este navio, primitivamente esteve registado na praça do Porto./(c) Foto de Rui Amaro/.


O submarino U-96 foi desactivado perto do final da guerra e a 30.03.1945, afundou-se durante um raide da “USAF” (Força Aérea Americana) à base naval da “Kriegsmarine” de Wilhelmshaven. Aquele submarino foi mais tarde desmantelado para sucata.
Relacionado com o U-96, Lothar Gunther Buchheim, um correspondente de guerra dos serviços da propaganda, que fez parte duma das patrulhas daquele submarino, ainda sob o comando do Kapitanleutnant Heinrich Lehmann-Willenbrock, e pelas preocupantes experiências vividas a bordo, publicou o célebre livro “Das Boot”, que foi um “best-seller” internacional. Livro esse, que deu origem ao filme do mesmo nome, realizado em 1981 por Wolfgang Petersen, que foi um clássico e que tem sido passado em série na TV.
O Kapitanleutnant Jurgen Hellriegel foi para o fundo com o U-543, o seu novo submarino, na posição 25.34N e 21.36W ao largo das ilhas Canárias, mais propriamente a Sudoeste de Tenerife a 02.07.1944, após ataque de um caça do porta-aviões Americano USS WAKE AVENGER com bombas submarinas. No afundamento do submarino pereceram os 58 elementos da sua equipagem.

http://www.uboat.net/men/hellriegel.htm

http://www.clinko.com/music/U_96/

http://www.youtube.com/watch?v=5YxFqZynB88


(A CONTINUAR)