Por noticias recebidas hoje, 05/01/1949, na sede da Sociedade Geral , sabe-se que se deu esta madrugada, ao largo do porto de Leixões, um grave acidente com o novo navio-motor BORBA, de cerca de 7.000 toneladas, que vinha de Inglaterra, onde fora construido, transportando um carregamento completo de carvão de Gales, importado pelos Estabelecimentos Harold.,Lda.
O BORBA, sob o comando do capitão José Matos Neves, chegou ao largo de Leixões, onde deveria entrar, ontem à noite, cerca das 19h00, com mau tempo e o mar um pouco agitado. Suportara o navio um violento temporal durante quase todo o percurso desta sua primeira viagem e comportara-se excelentemente, desde a saída de Inglaterra.
Quando o navio chegou à altura costumada para meter piloto, solicitou um prático, mas teve de esperar muitas horas, a pairar ao largo, sem que o referido prático aparecesse. Cerca das 03h00 de hoje, porque tivesse descaido demasiadamente, o navio começou a bater em penedia submersa pelas alturas do farol da Boa Nova e, pela violência dos embates, não restarm dúvidas a bordo de que ia dar-se uma inundação do BORBA, pelo menos nos porões de vante.
Efectivamente, pouco depois, o comandante Neves e o chefe de máquinas José Júlio Duarte, verificavam que havia rombos nos porões nºs 1 e 2, os quais estavam a ser ràpidamente inundados, enquanto o navio, que não ficara preso nas pedras, fazia marcha à ré para se afastar do local. Daí a pouco notava-se a existencia de uma rotura no tanque de combustivel, o qual estava a perder-se em larga escala. A gravidade da situação não oferecia dúvidas, pelo que o comandante informou a capitania do Porto, ao mesmo tempo solicitava autorização para entrar imediatamente na doca nº 1 do porto de leixões.
A capitnia do porto, porém, receando que o navio não conseguisse manter a flutuabilidade, não autorizou a entrada imediata, com receio de que o BORBA acabasse por se afundar dentro daquela doca, o que tornaria impossivel, por largo tempo, o tráfego em Leixões, para navios que se destinassem a atracar.
Entretanto a bordo, tinham-se fechado todos os compartimentos estanques e, se o navio não abrisse mais rombos, estava afastado o perigo do seu afundamento. De manhã a situação do BORBA definiu-se e a capitania autorizou a sua entrada para a bacia do porto de Leixões.
Pelas 06h00 do dia 5, o novo navio-motor BORBA, que procedia de Inglaterra e que sofrera,de madrugada, alguns rombos graves, por ter batido nas penedia submersa próximo do farol da Boa Nova, depois de meter piloto, entrou para a bacia, fundeando a dois ferros ao Sul, iniciando a baldeação de carvão para uma fragata, que atracou junto do porão nº 1.
De manhã, vindos de Lisboa, chegaram ao Porto, num avião especialmente fretado para o efeito, o eng. Aulânio Lobo, administrador da Sociedade Geral ; comandante Otero Ferreira, secretário geral, e o eng. naval Rodrigues dos Santos, director da secção técnica daquela empresa, que é proprietária do navio sinistrado, e que vieram para tomar providências sobre a situação do BORBA, reparações imediatas e saída do navio para Lisboa logo que seja possivel.
Às 16h00 a Imprensa foi informada de que estava a proceder-se ao esgotamento dos porões inundados, para fazer voltar o navio à sua posição normal, pois de manhã encontrva-se muito adornado e metido de proa. Na casa da máquina também entrou apreciável quantidade de água, a qual já foi esgotada, com os recursos de bordo.
Esclarece-se, que o caímento do BORBA para cima da penedia da Boa Nova, o mesmo local onde há 35 anos naufragou o paquete Inglês VERONESE, da Lamport & Holt Line, Liverpool, se deu em virtude de ter sobrevindo, durante a madrugada, uma densa cerração. Quando o navio solicitou piloto, à noite, disseram-lhe que só seria pilotado pela manhã, pelo que deveria manter-se ao largo. Os prejuizos que se encontram cobertos pelo seguro, são grandes, mas não se pode avaliar ainda o seu montante.
O navio sinistrado, que fazia a sua viagem inaugural, continuava na mesma situação , sendo opinião dos técnicos que não aguentará qualquer viagem sem ser devidamente reparado. Na véspera e enquanto várias gangas de estivadores trabalharam na descarga, as corporações dos Bombeiros Voluntários de Leixões e dos Portuenses, esforçaram-se por aliviá-lo da água, esperando-se que possa ser levado para a doca nº 1, como já se disse. Está, portanto, posta de parte a ideia de levar, por agora, o navio para o porto de Lisboa, como se chegou a pensar.
Entretanto, o Borba depois dos vários trabalhos de flutuabilidade, começou a retomar a posição normal e foi levado para doca nº 1, onde foram realizadas as reparações provisórias, e após as vistorias usuais pela autoridade maritima e julga-se também pelo perito da Lloyd’s, deixou o porto de Leixões de rumo ao porto de Lisboa, a fim de entrar em dique dos estaleiros da CUF, Rocha, para fabricos finais.
O navio-motor BORBA fundeado na bacia do porto de Leixões, a aguardar atracação em 30/10/1966 # (C) Foto de Rui Amaro
O BORBA, 129,6m/4.435tb, 12 passageiros, 13,5 nós, foi entregue em 12/1948 pelos estaleiros William Doxford & Sons, Ltd., Sunderland, por encomenda da Sociedade Geral de Comércio Industria e Transportes, Lisboa, juntamente com os gémeos BELAS, BRAGA e BRAGANÇA, da série B; 23/10/1971 chega a Lisboa no termo da ultima viagem comercial, ficando imobilizado; 01/01/1972 ingressou na frota da Companhia Nacional de Navegação devido à fusão das duas empresas; 06/1972, ainda se encontrava imobilizado no Mar da Palha, Estuário do Tejo, aguardando destino; 20/02/1973 larga do Tejo conduzido pelo rebocador Espanhol MONTSANT, E. Lorenzo Y Cia SA., Vigo, de rumo a Tarragona para ser demolido em Castellon.
Fontes: Jornais Diário de Lisboa e O Comércio do Porto; Miramar Ship Index.
Rui Amaro