sábado, 13 de novembro de 2010

RECORDANDO A LINHA “HOLLAND-PAN AMERICAN LINE”




A HOPAL foi um membro da INTER AMERICAN FREIGHT CONFERENCE, e operava quatro navios convencionais, que mantinham um serviço directo quinzenal desde Asunción, capital da República do Paraguai e os portos de Filadélfia, Norfolk e Nova Iorque, dos EUA. Os quatro navios também possuíam espaço para alguma carga contentorizada e havia escalas em portos Brasileiros se houvesse suficiente oferta de carga.

A HOPAL possuía bastantes anos de experiência na rota, que envolvia dificuldades de navegabilidade nos rios Paraná e Paraguai, cerca de 1.600 km desde o oceano até ao porto fluvial de Asunción, dirigidos por dois práticos, um Argentino e um Paraguaio, com percurso diurno de cerca de quatro dias, visto durante a noite os navios permanecerem fundeados no meio do rio, a aguardar o alvor para suspenderem, segundo relato de "capitans de corbeta" de navios mercantes paraguaios que serviam de navios escolas da Armada da República do Paraguai nas suas escalas em Leixões, década de 80.

A HOPAL tinha o seu próprio “staff” estabelecido em todos os portos de escala, incluindo Asunción, onde possuía escritórios, e em face disso o controlo das cargas era mantido continuamente.



A HOPAL sempre esteve orgulhosa da confiança manifestada pelos seus clientes, fossem carregadores ou recebedores, como motivo fiável de ligação entre o Norte e o Sul do continente Americano.

A linha era servida por dois Navios de pavilhão Holandês, o SITULA (2) e o seu gémeo ADARA (3), ambos com capacidade de 1.600 dwt., e ainda o ASUNCIÓN operava sob bandeira Paraguaia, com uma capacidade de 1.200 dwt. Aquelas três unidades eram acompanhadas no tráfego por tonelagem fretada similar em porte e capacidade de carga.

Estas duas armadoras, a Holandesa e a Paraguaia eram o suporte da THE HOLLAND-PAN AMERICAN LINE (HOPAL).


O SITULA navegando no rio Paraguay


SITULA – 79,90m/ 1.599tb/ 12nós; 1970 entregue por E.J. Smit & Zn. Scheepswerven NV., Westerbroek, Holanda, como JYTTE DANIELSEN a Parterederi Progress, gestores Otto Danielsen, Copenhaga; 28/10/1976 SITULA, Van Nievelt, Goudriaan & Co’s Stoomvaart Mij., Roterdão; 1981 ASUNCIÓN (3), Compañia Paraguaya de Navegación de Ultramar SA., Asunción; 1987 JIU LONG, China Ocean Shipping Co., Xangai; Detalhes subsequentes não encontrados.

ADARA (3) – 79,9m/ 1.581tb/ 12 nós; 03/1971 lançado á água por E.J. Smit & Zn. Scheepswerven NV., Westerdoek, como CAIRNTRADER para Cairn Line, Newcastle, gestores Shaw Savill & Albion, Londres; 1971 entregue como SAXON PRINCE à Prince Line, Londres, mesmos gestores; 1975 CAIRNTRADER, Cairn Line, Newcastle; 1976 SAXON PRINCE, Prince Line, UK; 28/10/1976 ADARA, Van Nievelt, Goudriaan & Co’s Stoomvaart Mij., Roterdão; 1986 ANDARA, Waterdrive Management, Chipre; 1990 PARANA STAR, Interfront Shipping Ltd., Chipre; 1992 PAMELA, Astarte Shipping Ltd., Chipre; 08/02/1995 ARANA, Ship Depot., Ltd., São Vicente e Granadinos; 1997 KARIM I, Elreedy Shipping Co., Belize; 29/05/2006 afundado em Constanza, Roménia, devido a colisão.

ASUNCIÓN (2) – 77,7m/ 799tb( 11 nós; 04/1961 entregue por Boel’s Scheepwerven & Maschinefabriek BV, Bolnes, como ADARA (2) a Van Nievelt, Goudriaan & Co’s Stoomvaart Mij., Roterdão; 1973 ASUNCIÓN (2), Compañia Paraguaya de Navegación de Ultramar SA., Asunción; 1981 NERA, Venus Ltd., George Town, Ilhas Caimão; 1991 NERA II, G. E. Harrigan L. Richardson, Panama: 1997 NERA II, Honduras; 01/2001 registo excluído do LR.

Fonte e imagens: V.N.G. 6 C0’s – Roterdão.

Rui Amaro

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

QUANDO PORTUGAL SE VIRAVA PARA O MAR

RECORDANDO UM GRANDE PASSO NA VIDA PORTUÁRIA DE AVEIRO NO ANO DE 1968 COM A VINDA DO NAVIO CISTERNA “PORTO DE AVEIRO” QUE PASSOU A TRANSPORTAR VINHO A GRANEL PARA O ULTRAMAR


O PORTO DE AVEIRO em operações de trasfega numa das pontes-cais da Gafanha da Nazaré / Jornal de Noticias /.

Cerimónia no porto de Lisboa

O vinho que primitivamente era transportado em cascaria, desde então, o vinho a granel passou a ser transportado, da Metrópole para as províncias ultramarinas, no navio cisterna PORTO DE AVEIRO. Tratava-se de uma antiga unidade Norueguesa construída em 1960 e que foi adquirida em Roterdão pela Transnavi - Sociedade Portuguesa de Navios Cisternas. Custou 26 mil contos e mede 83 metros de comprido. Nos seus quatro tanques centrais, de aço inoxidável, pode transportar 1.800m3 de líquidos de qualquer género, e, em dois outros tanques, tratados com “Flexilac” pode transportar 440m3 de vinhos e óleos vegetais.

O PORTO DE AVEIRO, que se encontrava atracado na doca de Alcântara, foi visitado pelo ministro da Marinha.

O dr. Sousa Ferreira, administrador da Transnavi, agradeceu a visita do ministro e declarou que, só com as cargas de vinho, o PORTO DE AVEIRO pagava o seu custo, em dois anos, contribuindo assim para melhoria da balança de pagamentos. Terminou brindando pelas prosperidades do navio e da Marinha Mercante Portuguesa.

Respondendo num improviso, o contra-almirante Quintanilha de Mendonça Dias congratulou-se por não ter que assinar mais despachos de autorização para transportes de vinhos a granel, em navios estrangeiros, e felicitou a empresa armadora.

Cerimonia no porto de Aveiro

Mais uma vez o porto de Aveiro esteve em festa com um acontecimento de certa envergadura não só para a região mas também para o país, aconteceu isso a 05/07/1968.

Iniciou pela primeira vez, um barco nacional, baptizado com o nome de PORTO DE AVEIRO carreira para o Ultramar Português, levando vinho a granel. Como não podia deixar de ser, as autoridades mais representativas do distrito e dos dois concelhos ligados mais directamente ao porto, estiveram presentes e rejubilaram pelo acontecimento, não pelo esplendor de que a cerimónia se revestiu, mas pelo alcance social que representava para a vida portuária.

Pelas 12 horas, o novo navio cisterna PORTO DE AVEIRO ancorado no porto bacalhoeiro da Gafanha, foi visitado demoradamente pelos Srs. governador civil do distrito, presidentes da Câmaras Municipais de Aveiro e Ílhavo, delegado I.N.T.P., presidente da Junta Autónoma do Porto de Aveiro e outras entidades. Puderam verificar as linhas modernas e utilitárias daquele navio cisterna, que tinha o comprimento de 83,3m, a tonelagem bruta de 1.855 e 857,12 a liquida e possuía tanques centrais e laterais.

Após a visita, num dos restaurantes desta cidade, foi oferecido pela Administração da Transnavi um lanche volante. Presidiu o chefe do distrito dr. Manuel dos Santos Lousada, Presidente da Junta Autónoma do Porto de Aveiro, eng. Carlos Teixeira, administrador da Transnavi, dr. Sousa Ferreira; comandante Joaquim dos Santos Silva; presidente da Junta Distrital, dr. Fernando de Oliveira; presidentes das Câmaras Municipais de Aveiro e Ílhavo, drs. Artur Alves Moreira e Amadeu Cachim; delegado do I.N.T.P., dr. Corte Real; comendador Egas Salgueiro; comandante da Guarda-fiscal, Tenente Alcino e outras entidades oficiais s Administradores das Caves da Bairrada, nomeadamente os das caves da Francesas, grandes impulsionadores desta iniciativa – transporte de vinho a granel para o nosso Ultramar.

Usaram da palavra: o administrador da Transnavi, que saudou e agradeceu a presença das autoridades. Depois o administrador das Caves das Francesas, dr. Luís de Azevedo, que agradeceu às autoridades Portuguesas, quer da Metrópole quer do Ultramar, o carinho e apoio que deram à iniciativa da sua Empresa, o transporte de vinho a granel, em moldes únicos no País. Em nome da Agência de Navegação Ancora falou o comendador Egas Salgueiro, que disse da grande iniciativa e fez diversas considerações acerca da vida do porto de Aveiro e a sua evolução nos últimos anos. Por último agradeceu ao governador civil todo o apoio e atenção dado ao porto de Aveiro e teve palavras de muito apreço para a Junta Autónoma do Porto de Aveiro.


O PORTO DE AVEIRO na doca 1 do porto de Leixões /(c) Foto Mar, Leixões /.


Que o porto de Aveiro, então, naqueles últimos três anos passara por um desenvolvimento e evolução extraordinária, é uma verdade insofismável como já tantas vezes se dizia em crónicas no “Jornal de Noticias” escritas pelo seu correspondente em Aveiro, a seu respeito nomeadamente na reportagem que fora editada por aquele matutino, mas esse movimento foi, mais uma vez, demonstrado pela voz autorizada do presidente da Junta Autónoma do porto de Aveiro, no sector de vinho a granel para as nossas províncias ultramarinas. O sr. Eng. Carlos Teixeira, após diversas considerações sobre as instalações portuárias, do seu desenvolvimento, e da sua evolução apresentou, a propósito, no decorrer dum lanche, números que dizem bem do ritmo acelerado. Assim em 1965, ano em que, pela primeira vez começaram as carreiras de vinho a granel, saíram 3.600.000 litros de vinho no valor de 11 mil contos; no ano seguinte 9.600.000 litros, no valor de 29 mil contos; em 1967, 15.000.000 litros, no valor de 56 mil contos e no ano corrente, 1968, já se vai com 13.000.000 litros. Por este quadro se vê o movimento acelerado do porto de Aveiro, que é de facto uma realidade na vida regional e nacional.


O NOVA LISBOA fundeado na Bacia do porto de Leixões / (c) Foto Mar, Leixões /.

Finalmente falou o sr. Governador Civil, que disse da sua alegria em estar presente àquele acto pelo que representava para o seu distrito e até para o País. Fez apropriadas considerações sobre o problema do vinho, e afirmou que urgia resolvê-lo, não só para bem da agricultura, de todos aqueles que a ele estavam ligados mas também para a economia nacional. Resolver o problema do vinho, afirmou, é fundamental. Por fim agradeceu a todos aqueles que ao desenvolvimento do porto de Aveiro deram o seu melhor contributo.

O navio cisterna PORTO DE AVEIRO, saiu naquele mesmo dia, com um carregamento de cerca de 2.100.000 litros, para vários portos do Ultramar Português, tendo regressado tempos depois com outras cargas líquidas.

Além do PORTO DE AVEIRO a Transnavi – Sociedade Portuguesa de Navios Cisternas, Sarl, para dar mais potencialidade ao tráfego em causa, adquiriu em 1970 no mercado de segunda mão uma nova tonelagem, a que foi dado o nome de NOVA LISBOA.

Nota do autor

Na minha actividade profissional de “caixeiro de mar” prestei assistência nos portos do Douro e Leixões a navios convencionais “break bulk cargo”, que estavam providos de “wing tanks” destinados ao transporte de cargas liquidas, nomeadamente vinhos, e no caso das trasfegas no cais de Gaia e nas docas de Leixões, como seria óbvio o afamado Vinho do Porto, que também era transportado em cascaria e mini-tanques para os países do Norte da Europa. Três desses navios, de cerca de 70m/500tb, construídos na década de 50, eram os Holandeses MARISCAL LOPEZ, CONCEPCION e ANNE CHRISTINA, que o seu armador Van Nievelt, Goudriaan & Co’s, de Roterdão, antes de os colocar na linha Benelux/Portugal, os empregava no tráfego Benelux/Assunción, Republica do Paraguai, com escalas intermédias.

Segundo me diziam "capitans de corbeta" da Armada da Republica do Paraguai, que comandavam navios mercantes estatais, que serviam como navios escolas da Marinha de Guerra, a duração da viagem entre a foz do rio Paraguai, no Rio da Prata, e o porto fluvial de Assuncion era de quatro dias, uma vez que só navegavam durante o dia desde o alvor até ao anoitecer. Durante a noite permaneciam fundeados a meio do rio e eram dirigidos por dois práticos, um Paraguaio e outro Argentino.


O CONCEPCION saindo da barra do Douro / Rui Amaro /.


PORTO DE AVEIRO – 83,30m/1.855tb/ 11kn; 09/1960 entregue pelo estaleiro Stord Verft A/S, Leirvik, como LIND ao armador Skibs A/S Storli & Skibs Oljetransport, Bergen, 1968 PORTO DE AVEIRO, Sociedade Portuguesa de Navios Cisternas Sarl, Lisboa; 1978 PORTO LEONE, Eros Maritime Inc, Pireu; 1981 SOMCOL 1, Leona Shipping Corp., Pireu; 19/09/1981made water off Jedah while at anchor; 24/09/1985 scuttled 3nm SW Mismari Beacon, South Arabia.

NOVA LISBOA (2) – 86,7m/ 1.543tb/ 13,5kn; 06/1969 entregue por Ernst Menzer Werft, Geesthacht, Alemanha, como STAINLESS TRANSPORTER a Asserbo Shipping Co, Komanditselskab, mgrs. A.S,Basse m. fl., Copenhagen; 01/09/1970 NOVA LISBOA (2), Transnavi – Sociedade Portuguesa de Navios tanques Sarl, Lisboa; 1989 STAINLESS PRINCESS, ??; 10/05/1992 naufragou 10mn ao largo de Pusan, Coreia do Sul.

Fontes: O Comercio do Porto; Jornal de Noticias; Lloyd’s Register of Shipping.
Rui Amaro