O ANGOCHE no porto de Lisboa em 03/1959 / F. Cabral, Porto /.
O ANGOCHE chega a Lourenço Marques conduzido pelo BALTIC / Flama /.
O ANGOCHE assistido em Lourenço Marques pelo INCOMATI / Flama /.
Dois tripulantes do BALTIC no castelo de proa do ANGOCHE / Flama /.
O ANGOCHE adornado assistido em Lourenço Marques pelo INCOMATI
ESSO PORT DICKSON / autor desconhecido - Photoship Co. Uk /.
Tudo leva
crer que o navio-motor de cabotagem português ANGOCHE, tenha sido vítima de um
golpe de mão, ao largo da costa de Moçambique, quando em rota de Nacala para
Porto Amélia, levando a bordo 23 tripulantes e um passageiro, e carga geral
composta principalmente por gasolina para a força aérea e armamento. Mas golpe
de mão praticado por quem? Estando activa na província do Indico, desde 1963, a
guerrilha da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e tendo, até, a Rádio
Pequim feito referencia ao incidente somos levados, tal como pensou imediatamente
a opinião pública local, a pensar na participação dos guerrilheiros no assalto.
Mas – à hora a que a Flama entrava nas máquinas – ainda estava de pé uma
negativa da Frelimo, pretendendo nada ter a ver com o caso, mas também existiam
outros movimentos de guerrilha moçambicanos. Ao certo, neste momento sabe-se,
apenas, de concreto, oficialmente, que o navio deixou de ser visto a 23/04/1971,
para ser encontrado, três dias mais tarde, por um petroleiro de registo
panamiano, de nome ESSO PORT DICKSON, 170m/12,992tab, tendo os tripulantes
deste, apenas visto a bordo como única manifestação de vida, um pacato bichano
e um cão. Dos tripulantes e passageiro, nem traço. E o navio era uma desolação –
as chamas, possivelmente provocadas por uma explosão, haviam destruído a ponte,
o posto de rádio, os camarotes. Mas a bordo encontrava-se apenas uma baleeira,
a de estibordo, nos respectivos turcos.
O petroleiro
entrou imediatamente, e segundo manda a lei internacional na posse do navio,
uma vez que se encontrava abandonado no mar alto, mas não deu o alerta geral aquando
do encontro, o que devia ter feito, e após o ter rebocado durante algum tempo
de rumo a Durban, no entanto foi-lhe recusada a entrada fez-se de rumo à Beira,
onde foram entabuladas as conversações com o armador e autoridades, sobre as condições
de pagamento pela entrega do salvado, e parece que ai, contratou o salvadego germânico
BALTIC, 51m/662tab, para conduzir o ANGOCHE para Lourenço Marques, onde chegou
já sob escolta da Marinha de Guerra Portuguesa. Dois tripulantes dos BALTIC
vinham - e ficaram a bordo – para garantia da posse do “fantasma”, até ser
resolvido o pagamento. De momento, é tudo – até que as autoridades nos digam,
de facto, o que se passou – abordagem, motim, guerrilha, ou quê? Até que nalgum
país africano independente apareçam os tripulantes. E expliquem o mistério que
talvez o não seja.
Se tudo
isto esclarece muito pouco o abandono, nada revela o destino da tripulação. Intensas
buscas aéreas e marítimas têm sido feitas em todo o litoral de Mocímboa da
Praia até à Beira, sem quaisquer resultados: nem corpos, nem vestígios da
baleeira desaparecida. A zona é muito infestada por tubarões, mas mesmo que a
baleeira se tivesse voltado por qualquer motivo, e porque o navio navegava
junto â costa a baleeira poderia ter sido avistada, o que infelizmente não
ocorreu.
O que
mais perturbou logo de início as autoridades foi o facto de ninguém aparecer a reivindicar
a autoria do incidente, tanto mais que, como é sabido, estas iniciativas têm em
regra objectivos definidos. Quando os palestinianos desviam um avião comercial
pretendem o quê? Antes de mais espaço na comunicação social, sacudir a opinião pública
mundial a fim de angariar apoio para uma causa que consideram justa. Quando na
América do Sul, alguém rapta um embaixador, pois é certo que ele acabará por
ser trocado ou aparecerá morto. Mas um rapto sem chantagem, sem cadáveres, sem
objectivos, nem autores, um rapto apenas com vitimas, um navio sozinho e enegrecido
pelas chamas ao sabor dos ventos do indico, como explicá-lo? Eis, pelo menos
durante alguns dias, o parâmetro do mistério do ANGOCHE, que se não vier a ser
devidamente esclarecido, entrará na história como uma das mais estranhas
fábulas marítimas.
Em
Lourenço Marques o ANGOCHE foi assistido, também pelo rebocador local INCOMATI,
46m/508tb.
Após
tanta tinta gasta, e na Net há imensos e variados relatos sobre o caso, o
certo é que dos 24 desventurados homens que compunham a lotação do malfadado
ANGOCHE, a bordo só sobreviveram dois animais mascotes de bordo, um gato e um
cão, e até hoje nem um dos tripulantes foi encontrado, apesar das acções
desenvolvidas. Se não foi sabotagem, accão dos movimentos independentistas, de pirataria,
ou de outros interesses e ninguém se manifestou, até parece que se deu um
ataque de “extra terrestres”!?
ANGOCHE (2) – imo 5017668/ 81,65m/ 1.689,37tab/
11,5nós; 07/1958 entregue pela Companhia União Fabril, Lisboa, â Companhia
Nacional de Navegação, Lisboa, que o empregou no seu serviço costeiro de
Moçambique; 1971 ANGOCHE, transferido para a subsidiária da CNN, Companhia
Moçambicana de Navegação, Lourenço Marques; 03/1972 vendido a sucateiros de
Lourenço Marques para demolição.
Fontes:
Semanário a Flama; jornal O Século; Miramar Ship Index.
Rui Amaro
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