quarta-feira, 16 de junho de 2010

RECORDANDO A PERDA DA MOTORA “ADIZÉ” AO LARGO DA PRAIA DA VAGUEIRA A 08/01/1973

A companha da motora ADIZÉ ao chegar a bom porto no rebocador GASPAR FERREIRA.


À procura do robalo, desse tão apreciado peixe, tanto em Portugal como no estrangeiro, saiu, anteontem, a barra de Aveiro, a motora ADIZÉ, de Adelino Vieira e de João Maria Gaivara. Rumou para os lados da Vagueira. O mestre Ilídio da Silva Brandão, deu ordens para lançarem as redes, regressando mais tarde ao seu ancoradouro em S. Jacinto.

Ontem de manhã, cerca do meio-dia, voltaram para recolher as redes e lançaram outras. Mas, cerca da uma hora da tarde, segundo o depoimento prestado à reportagem pelo mestre, à chegada à barra, um dos seus camaradas veio dizer-lhe que havia água na casa da máquina.

Procurou remediar a situação, mas a água, cada vez mais à ré, galopava, e, em breve, viu que eram inúteis mais esforços. Por outro lado, a tripulação começava já agitar-se, e outra coisa houve senão terem de lançar a chalandra à água, e saltarem para ela, e fazerem-se ao largo, porque era arriscado aproximarem-se de terra, até porque o mar estava a vir para cima, e quebrava na costa. No entanto, o mestre disse que foi o último a ir para a chalandra, e só quando viu a motora a começar a afundar-se, é que fez sinais para o irem buscar, e saltou lá para dentro. Andaram cerca de uma hora à espera que os fossem socorrer. Ainda a bordo da ADIZÉ o mestre informara a Aveiro Pesca, de que era a última vez que lhes falava, porque a embarcação estava a submergir.

E a despedir-se da reportagem disse: - Olhe, sabe o que lhe digo? Vamos ver, eu e o meu colega André de Matos, se nos salvamos da terceira, porque destas duas já estamos salvos. Não se lembra de me ter entrevistado quando foi o naufrágio do GONÇALINHO?

Entretanto a estação Aveiro Pesca comunicava à Capitania do Porto de Aveiro. O patrão-mor tenente Machado Rebelo, pôs-se em contacto com a base aérea de S. Jacinto para localizar a chalandra ao largo. Pouco depois, era anunciado que se encontrava por alturas da Vagueira. Para essa operação de localizar os náufragos utilizaram-se dois aviões. O arrastão costeiro RIA MAR colaborou também na pesquisa da localização, não sendo necessária a sua utilização, porquanto o rebocador GASPAR FERREIRA, da JAPA – Junta Autónoma do Porto de Aveiro, já fora em auxilio da tripulação em dificuldades, sob o comando do piloto da barra Ferreira.

A companha de que faziam parte além do mestre, era constituída pelos seguintes elementos, André de Matos Caravela, de 46 anos; João Nascimento de Matos Caravela, de 48 anos; e Domingos da Silva Marnoto, de 21 anos, todos de S. Jacinto, chegaram ao Forte da Barra cerca das 15 horas. Era nítido o seu estado emocional, muito embora os pescadores já estejam habituados a estas peripécias que o mar por vezes traz.

O pequeno rebocador de madeira GASPAR FERREIRA, anteriormente denominado ALFREDO COSTA, pertencente ao armador Sociedade de Pesca Luso Brasileira, Lda., da Figueira da Foz.

Fontes: Jornal O COMÉRCIO DO PORTO de 09/01/1973.

Rui Amaro