O SAVE demandando o porto de Leixões em 1953 / (c) Foto Mar, Leixões /.
O SAVE transformado numa gigantesca e trágica fogueira / Jornal de Noticias /.
Compungidamente assinalou-se
nas páginas do Jornal da Marinha Mercante, o naufrágio no litoral de
Moçambique, do navio-motor SAVE, da Companhia Nacional de Navegação, que sofreu
um golpe na sua frota, constituindo trágico acontecimento para a Marinha
Mercante Nacional.
Nas suas viagens de rotina e
exercício de cabotagem, o SAVE saíra no dia 29 de Junho de Lourenço Marques
para os portos do norte da Província com carregamento completo, e 550
passageiros e 53 tripulantes. A maioria dos viajantes era constituída por trabalhadores
nativos que regressavam às suas terras, após serviço nas minas do Transval; mas
tinha também embarcado um contingente militar, composto por 55 soldados e cabos
europeus e 167 soldados nativos, sob comando dum alferes.
na sexta-feira, 7 do corrente,
o navio depois de escalar o porto da Beira, onde deixara parte da carga e outra
embarcara, ao fazer rumo a Quelimane, e quando estava a cerca de dez milhas
deste porto, encalhou num banco de areia em frente do rio dos Bons Sinais. O
comandante do SAVE, capitão da Marinha Mercante Mário Nobre Vieira, informou
para os portos próximos e solicitou socorros.
Para o local assinalado partiu
da Beira o rebocador SOFALA e do Chinde o rebocador TEMBE. A tripulação do
SAVE conseguiu safar o navio pelos seus próprios meios; mas pouco tempo
decorrido, por virtude da agitação do mar, o navio foi novamente impelido para
outro banco de areia.
Verificou-se que, por um
rombo, o barco estava a meter água, pelo que foi julgado prudente desembarcar
os passageiros. A invasão da água provocou um curto-circuito num porão onde
seguiam alguns tanques de combustível; aberta uma escotilha por onde se
infiltrava fumo, os gases comprimidos provocaram uma explosão que matou
imediatamente o imediato do navio António Esteves Coelho, quatro tripulantes
europeus e abalou o navio de popa à proa, destroçando anteparas e pavimentos
vitais.
Deu-se o natural pânico, ao
verificar-se o navio em chamas, na sua crítica posição. Muitos dos passageiros
não aguardaram tomar as baleeiras e saltaram para o mar, confiados em poder
chegar a terra, que não estava longe. As vagas continuavam alterosas; a
primeira baleeira conseguiu chegar â costa com os náufragos, mas a segunda foi
desfeita pelo mar de encontro ao costado do SAVE, morrendo todos que nela se
encontravam.
O local do litoral onde se
verificou o sinistro é dos mais inóspitos, pois a praia é rodeada de pântanos e
mangais, impedindo, praticamente, o seu acesso pelo lado de terra.
Aos pedidos de socorro, além
dos rebocadores citados, acudiram os navios LIAZI, CHAIMITE e ANGOCHE, mas
destas unidades se mostrou também impraticável qualquer auxílio, dada a
agitação do mar. Por via aérea, porém, foi possível a algumas avionetas
localizar o sítio alcançado pelos náufragos e aterrar na praia, para embarcar
aqueles que mais urgentemente necessitavam de transporte, por terem sofrido
queimaduras. Foram especialmente os aviões do Aero Clube de Quelimane que se
distinguiram nessa humaníssima faina, mas outros aparelhos sobrevoaram a área
onde se deu a tragédia, um deles conduzindo o governador-geral sr. almirante Sarmento
Rodrigues, que viajando no norte da Província, para ali se dirigiu a fim de
tomar conhecimento do ocorrido.
Entre outras autoridades que
se encontraram no local figuravam o governador do distrito da Zambézia,
comandante Daniel Rocheta, que na praia dirigiu os trabalhos de salvamento, com
o capitão do porto de Quelimane.
Segundo um telegrama recebido
em Lisboa do Comando Naval de Moçambique, foram salvos 252 passageiros e 38
tripulantes. Destes, 17 são europeus; dados como mortos: quatro europeus e
desaparecidos 12 indígenas.
Quanto aos passageiros
calcula-se em 243 os desaparecidos, mortos ou levados pela corrente para
qualquer ponto do litoral.
Dá-se de seguida uma relação
da tripulação:
Mário Nobre Vieira, capitão,
de Lisboa; António Esteves Coelho, imediato, do Porto; José Morgado Nunes, 2º
piloto, de Lisboa; José Sancho de Freitas, 3º piloto, de Ilha Brava; António
Barroso de Sampaio, radiotelegrafista, de Algueirão; José Franco de Almeida,
c/mestre, de Lisboa; José dos Reis Varandas, chefe de máquinas, de Lourenço
Marques; Artur Ramos Correia, 2º maquinista, de Lisboa; Viriato Francisco
Borges, 3º maquinista, de Lisboa; Raúl Inácio Valadas, artífice, de Lourenço
Marques; João Baptista da Cunha de Jesus, Electricista, de Lisboa; Gregório
Santa Rita, paioleiro, de Lisboa; José Bernardo Ferreira Mesquita, enfermeiro,
de Lourenço Marques; António Cristóvão Mendes Barata, Despenseiro, de Lisboa; António
de Castro Paradela, encarregado, de Monte da Caparica; Manuel Rodrigues Caneja,
Padeiro, de Lourenço Marques; Joaquim G. de Oliveira Pegado, conferente, de
Lourenço Marques; Silvério Santos Costa Júnior, conferente, de Lourenço
Marques; Sebastião Denfo Naifante, residente a bordo.
Além dos tripulantes acima referidos, havia mais trinta e três indígenas, dos
quais dezasseis do convés, seis das máquinas e onze criados.
Destes tripulantes faleceram
na tragédia: António Esteves Coelho, imediato; José Morgado Nunes, 2º piloto;
João Baptista da Cunha de Jesus, electricista; José Franco de Almeida, c/
mestre.
Tripulantes hospitalizados:
Para Lourenço Marques foram
transportados de avião, com graves ferimentos António Paradela, José de
Freitas, Gregório Santa Rita, Raul Valadas, Viriato Borges e Joaquim Pegado e um
outro.
Há notícia de estarem também
feridos Artur Ramos Correia e António Cristóvão Mendes Barata.
- Segundo um telegrama
recebido de Lourenço Marques, o comandante Vitor Ferreira, inspector da CNN, em
Moçambique afirmou que “todos os tripulantes do SAVE se revelaram dignos da
profissão que abraçaram e das nobres tradições dos homens do mar”.
- O Governo português recebeu
de Chefes de Estado e chancelarias de várias nações estrangeiras condolências
pela tragédia.
SAVE (2) - n / m misto, imo 5607732 / 78,93 m / 2.036tab / Passageiros 652 / tripulantes 46/2 Motores Diesel Bruto Polar 5 CIL. 1.800hp / 12nós;. 10/1951 O entregue los Grangemouth Dockyard Co.. Ltd., Grangemouth, a Companhia Nacional de Navegação, Lisboa, SEJA para o quali empregou Norte SERVIÇO costeiro da Província de Moçambique, nomeadamente Emoção Norte de Nativos, Trabalhadores das Minas de Volta Transval, na África do Sul.
Fonte: in Jornal da Marinha
Mercante.
Rui Amaro
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