quarta-feira, 1 de setembro de 2010

PRATICANTE A PILOTO NÁUTICO NOMEADO CAPITÃO INTERINO (Parte II)


EXCERTOS DO DIÁRIO NÁUTICO DA BARCA “NANNY”

Porto / Nova Iorque
Hoje, 19/10/1899, às 10h00, principiou-se a desamarrar o navio com o auxílio do piloto da barra e com maré de enchente, vento bonançoso de NE. Às 13h30 recebeu-se o cabo de reboque do vapor VELOZ e a visita da polícia, e às 14h00 principiamos a ser rebocados para a barra, a qual cruzamos às 14h45, entretanto mareamos com todo o pano e às 15h20 largamos o reboque, e assim continuamos a navegar ao rumo OSO magº e às 16h30 marquei o farol da Senhora da Luz ao rumo E4ª p/NE magº em distância arbitrada de 12 milhas pela qual marcação achei o ponto de partida como se vê na página seguinte.
20/10/1899 – Bom tempo, mar bom, vento bonançoso, horizonte e atmosfera clara. Alguns vapores à vista, navegando para o Norte. Sem mais novidade – O Coração de Jesus nos acompanhe.
02/11/1899 – Até às 18h00, tempo claro e vento regular e mar chão e dessa hora em diante principiou o horizonte e a atmosfera a tornar-se carregados, começando o vento a ficar fresco de refregas e o mar irregular até às 19h00, de forma que às 22h00 já o navio velava com todo o pano, sem mais ocorrências – O Nosso Senhor de Matosinhos nos leve a salvamento.
07/11/1899 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera de nuvens soltas. Um lugre de 3 mastros navega para E. Sem mais novidade – O Coração de Jesus nos leve a salvamento.
20/12/1899 – Navegamos esta singradura como acima mostro. Das 04h00 em diante começou o horizonte a carregar e o vento a refrescar, e ás 08h00 saltou para NO, sendo preciso dar-lhe a popa e preparar o navio em gáveas baixas para meter de capa, tendo-se partido o joanete, depois horizonte mais leve e atmosfera clara. Sem mais novidade – O Nosso Senhor de Matosinhos nos leve a salvamento.
28/12/1899 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera carregada. Às 23h00 passa por nós o vapor (passageiros e carga) Português PENINSULAR, pelo que pedimos a Long., a qual nos deu 70.50.00 O de Greenwich e achamos a dif. No chr. 30o mais a O e o navio a E. Sem mais novidade – O Senhor de Matosinhos nos recolha a salvamento.

http://www.fineartemporium.com/se-Jac-Pen-TN.jpg (Vapor de passageiros e carga Português PENINSULAR)

http://www.fineartemporium.com/we-Willis-Nanny-image.htm (A barca Alemã NANNY foi comprada Inglaterra em 1885 por J. W. Burmester e em 11/05/1890 naufragou por encalhe perto do porto de Santos, tendo a tripulação sido salva. Mais tarde foi posta em Leilão conforme se encontrava, tendo sido adquirida por Franz Ferdinand Burmester, gestores Hermann Burmester & Ca. , que a trouxe para o Porto, passando a hastear o pavilhão branco e azul do reino de Portugal, e servindo o tráfego internacional, nomeadamente para os EUA).

Há uma outra versão:
A barca de ferro NANNY, 200.6pés/ 61m comprimento, julgo que seja entre perpendiculares/ 953tb; 1860 construída por Harland & Wolff, Belfast, como JANE PORTER, armada em galera de três mastros, para J. P. Corry & Sons, Belfast, que a empregou no comercio de juta de Calcuta, India; 1882 passou a armar em barca; 07/1889 JANE PORTER, W. Ross & Co., Belfast; 18-- NANNY, Hermann Burmester, Hamburgo; NANNY consta que a sua duração arvorando pavilhão Português foi por um curto período; 1902 NANNY, devido a ciclone quando singrava no Atlantico Norte ficou desarvorada, tendo sido levada para Dunquerque; 27/10/1902 TRICHERA, John E. Olsson, Gotenburgo, tonelagem aumentada para 1.003tb; 1904 TRICHERA, provavelmente passou a armar em lugre; 01/06/1905 TRICHERA, enquanto em viagem de Bombaim para East London naufragou na costa da província e Natal.

 A barca NANNY sob bandeira Alemã / Galeria de arte de autor desconhecido /.

01/01/1900 - Conservamo-nos de capa na volta do Sul. Atmosfera e horizonte outra vez muito carregados e às 20h00 como o vento fosse escasseando viramos na volta do N, e daí em diante o tempo começou a carregar mais forte e o mar cada vez mais agitado, pelo que tivemos de dar a popa ao tempo, o que levou mais de uma hora a fazer, porque o navio não queria arribar, resultando que ficamos atravessados ao mar e com enorme nível de adornamento e quase submergidos, mas felizmente acabou por arribar e começamos a correr ao tempo, dando a popa ao mar – O Senhor de Matosinhos tenha piedade de nós.
06/01/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro com horizonte e atmosfera leve. Em vista da viagem estar tão prolongada e recear acabar-se os mantimentos, temos a intenção de pedir à primeira embarcação que apareça, e sendo a ocasião de os receber. De contrário temos de arribar a algum porto antes que se acabem – O Senhor de Matosinhos nos valha nesta aflição.
07/01/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro com horizonte e atmosfera leve. À 17h00 aparecendo um vapor ao O de nós, fizemos sinal com fogacho a chamá-lo para pedirmos mantimentos e o qual se aproximou e fomos fornecidos – O Coração de Jesus nos leve a salvamento.
23/01/1900 – Às 16h00 avistamos o farol de Barnagat e às 21h00 marcamos o triângulo do dito farol ao rumo de 75o SO verdadeiro e cuja marcação fiz meu ponto de chegada distancia calculada do navio ao farol 17 milhas pela dita marcação achamos de long. O . . . e de lat. 39.49.30, a qual fiz geograficamente pelo mapa e pela dita marcação achamos o chr. O 60milhas. Às 21h00 avistou-se o vapor de reboque e às 22h00 ajustamos e pegamos reboque, até que às 06h00 do dia 24 entramos a barra de Nova Iorque e demos fundo diante da Sanidade Marítima e assim fecho a minha derrota sem mais novidade.
Nova Iorque / Porto
Hoje, 23/02/1900, pelas 14h00, começamos a suspender os ferros tendo o piloto da barra a bordo, e às 15h00 saímos a barra, tendo o prático desembarcado às 15h50, e às 16h00 mareamos o navio com todo o pano com o vento de S bonançoso, navegando ao rumo E4SE e amurado por EB até que às 18h00 marcamos o farol de San Diogo e achamos o rumo de OSO magtº na distância calculada de 5milhas, tendo de variação NO 08.00.00. E pela dita marcação fizemos o ponto de partida. Sem mais ocorrências – O Coração de Jesus nos leve a salvamento.
01/03/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera carregada correndo ao desejo do tempo e do mar. Vento muito forte do NO e o mar muito alto do NO e do O entrando dentro do navio grandes golpes de mar, chegando o navio por algumas vezes a ficar quase raso de água. Sem mais novidade – O Senhor de Matosinhos nos leve a salvo.
05/03/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera clara. O capitão mandou abrir as escotilhas para ver o estado em que ia a carga, por causa do mau tempo que caiu. Sem mais novidade – O Coração de Jesus nos acompanhe.
13/03/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera clara. Às 18h00 avistamos a Ilha do Pico e ao meio-dia obtivemos a altura meridiano do sol, que nos deu de Lat. N 34.35 e pela dita marcação a frente de E da mesma ilha ao rumo de NE4E magtº, cuja marcação fizemos geograficamente na carta e pela dita marcação achamos o chr. + ao O 20milhas. Sem mais novidade – O Coração de Jesus nos acompanhe.
04/04/1900 – Navegamos esta singradura como acima mostro, horizonte e atmosfera carregada. Às 18h00 avistamos terra e às 20h00 marcamos o farol da Senhora da Luz ao rumo 86º SE verdadeiro na distância calculada de 10 milhas, cuja marcação fiz geograficamente no mapa e achei de lat. N 41.10.00 e de long. O 08.54.00 e pela dita marcação fiz meu ponto de chegada e assim fecho a minha derrota sem mais novidade.
(continua)
Rui Amaro

terça-feira, 31 de agosto de 2010

PRATICANTE A PILOTO NÁUTICO NOMEADO CAPITÃO INTERINO (Parte I)



É DIFÍCIL DE ACREDITAR, MAS PELO QUE ME CONTARAM ACONTECEU MESMO!


Francisco de Oliveira Alegre (Maraje)
Contava o meu pai e mais familiares, que um seu tio, e como tal meu tio-avô, de seu nome Francisco de Oliveira Alegre (Maraje), praticante a piloto náutico, comandara interinamente uma barca de três mastros desde Nova Orleães até ao Porto, a cuja praça pertencia.
Aconteceu que o capitão da barca falecera quando da escala do seu navio naquele porto, e os dois oficiais subalternos, por qualquer motivo que se ignora, estranhamente não quiseram assumir a nomeação de comando da barca no seu regresso ao Porto. Em face da situação, ou porque não se conseguisse um capitão Americano, o cônsul de Portugal naquela cidade do Golfo do México viu-se embaraçado, e uma vez que o navio já se encontrava com um carregamento completo de aduelas destinadas à industria tanoeira para o fabrico de cascaria para acondicionamento do vinho do Porto, há já bastantes dias, e a mercadoria estaria a fazer falta, em ar de chalaça virou-se para os dois praticantes e confrontou-os, perguntando-lhes se eram capazes de levar o navio para Portugal, ao que eles não se negaram, e uma vez que ambos estavam no termo das derrotas necessárias para se habilitarem a piloto, e talvez autorizado pela competente autoridade Portuguesa, nomeou o meu tio-avô como capitão interino da barca, cujo nome ignoro, mas que eu ouvia falar muito das barcas CLARA e LAURA, e como tal poderia muito bem o insólito episódio se ter passado numa dessas duas barcas. Julgo saber, que outro praticante tinha o apelido “da Bela” ou “da Velha”, e era natural de Ílhavo.
No meu entendimento a nomeação, possivelmente teria sido simbólica, o certo é que a barca em causa, entrou a barra do Porto, e amarrou à margem de Gaia, ali junto às caves de vinho do Porto, a salvo e com a carga intacta e seca, e parece que o seu armador de tão contente, correu à capitania ou à escola náutica, a fim de tentar promover a oficial, aquele jovem praticante a piloto náutico, residente na Foz do Douro, onde nascera a 27/03/1880, o que como seria óbvio o armador não foi bem sucedido nos seus intentos.



O autor com o óculo deixado por seu tio-avô, observando NAVIOS À VISTA, que navegam à vela de rumo aos portos do Douro e Leixões em 04/08/1994, dentre os quais a escuna Irlandesa ASGARD II, que ainda se encontra para lá da linha do horizonte.

Apesar de ter de minha posse um compêndio de aritmética e um óculo telescópico, e ainda dois diários náuticos já muito estragados, que pertenceram ao meu tio-avô, infelizmente o diário náutico da viagem de Nova Orleães para o Porto deve ter ficado com alguém, que possivelmente o perdeu ou por ignorância o destruiu, pois se tivesse ficado de posse de meu pai, hoje, certamente eu teria a possibilidade de melhor relatar este inédito episódio.
Nessa mesma viagem, o jovem Francisco de Oliveira Alegre, desembarcou para continuar os estudos na Escola Náutica da Cidade do Porto, o que, fatidicamente parece que nem sequer chegou a tratar da matricula, dado que após cerca de ano e meio de padecimento falecera, mais propriamente a 04/08/1904, devido a lesões graves sofridas por agressões infligidas numa emboscada propositada por conterrâneos invejosos, por o verem progredir na vida.
È que o ousado praticante a piloto náutico, que fora pescador e moço das embarcações dos pilotos, e quase que não sabia ler nem escrever, ai pelos seus 15 anos de idade, resolveu tentar a vida de marinheiro juntamente com um outro camarada, o Ernesto, que eu ainda cheguei a conhecer, e mais tarde foi assalariado da corporação de pilotos, e ambos meteram-se numa bateira na Cantareira e lá foram rio acima à vela ou a remos até aos ancoradouros dos lugares do cais de Massarelos e do cais das Pedras, onde se encontravam amarrados em preparativos e aprovisionamentos, a fim de encetarem novas singraduras para os Brasis, Américas, Europas, e por esses mares fora, vários navios, tais como vapores, barcas, galeras, brigues, patachos, escunas, caíques, hiates, palhabotes, etc.



Navios amarrados junto do lugar do Cais das Pedras, rio Douro, no inicio do século XX, dentre os quais se vêm as barcas ARCELINA, OLIVEIRA e VENTUROSA / postal ilustrado da série "Margens do Douro" da edição Estrela Vermelha.

Uns capitães não precisavam, porque já tinham o lotamento preenchido, outros convidaram-nos a vir dias mais tarde a ver o que se arranjava, até que o capitão duma barca que estava pronta a zarpar, aceitou-os como moços de convés, e aí começava a sua vida de marinheiro, tendo realizado um sem número de viagens. O Ernesto, logo na primeira viagem e regressado ao Porto pede o desembarque, mas o meu tio-avô continuou na mesma barca por mais alguns anos até desembarcar para completar a instrução primária, o 2º grau como então se dizia, e de seguida ingressar na escola náutica, tudo isso incentivado pelo seu capitão, que durante as várias viagens o foi ensinando a escrever, ler e fazer contas.
Completado o curso de pilotagem da marinha mercante, ele aí vai de novo para o mar, embarcando como praticante a oficial, na sua antiga barca ou mesmo noutra qualquer.
Os diários náuticos de minha posse relatam as derrotas feitas por meu tio-avô nas seguintes barcas de três mastros:



Página de Diário Náutico da barca NANNY

NANNY de Franz Ferdinand Burmester, gestores Hermann Burmester & Ca, do Porto
Capitão José Marques de Sousa / Imediato José d’Oliveira da Velha
Saída do Porto 19/10/1899 em lastro de areia e cortiça e entrada em Nova Iorque 23/01/1900
Saída de Nova Iorque 23/02/1900 com trigo e entrada no Porto 04/04/1900
Viagem de cerca de 195 dias (6 meses e 15 dias) entre mar e estadia portuária em Nova Iorque, uma verdadeira “eternidade”. O armador não deve ter ganho para as despesas!
Revendo o diário náutico relativo à barca NANNY deparei com uma discrepância que não consigo entender, uma vez que nos espaços referente a NOVIDADES, e sem que haja falta de folhas, não existe qualquer anotação relativa a substituição do capitão e do imediato.
Acontece que na abertura do diário náutico ainda no Porto, o nome do capitão é José Marques de Sousa e do imediato José d’Oliveira da Velha, conquanto à chegada a Nova Iorque, o termo da derrota, está assinado pelo capitão e imediato José d’Oliveira da Velha, o mesmo se vendo na abertura do diário náutico à saída de Nova Iorque, além de que o imediato passou a ser um dos praticantes a piloto, de nome Manoel d’Oliveira da Velha, e no termo da derrota à chegada ao Porto, está assinada pelo capitão José d’Oliveira da Velha.
Será que naqueles tempos estaria na moda os praticantes passarem a oficiais superiores interinos!?
LEONOR, de João Alves de Freitas, Porto
Capitão Balthazar Alves da Conceição / Imediato Constantino d’Azevedo e Cunha
Saída do Porto 26/12/1900 com toros de pinheiro e entrada em Newport, País de Gales 11/01/1901
Saída de Newport, Pais de Gales, 16/03/1901 com carvão e entrada em Belém do Pará 25/04/1901
Saída de Belém do Pará 12/06/1901 em lastro de areia e madeira, e fundeou frente à barra do Porto 14/07/1901, e conservou-se com piloto da barra embarcado. Entrou em Leixões a 19/07/1901.
AMÉRICA, de Glama & Marinho, Porto
Capitão José Ançã / Imediato António Pinto da Costa
Saída do Porto 02/10/1901 com toros de pinheiro, e entrada em Newport, País de Gales, 18/10/1901.
Saída de Newport, País de Gales, 15/11/1901 com carvão, e entrada no Porto 24/11/1901.
imo 1074474 / 70m/ 799tb; 09/1875 launched by R & J. Evans & Co, Liverpool, como CRAIGMULLEN para W.Killey & Co,, Liverpool; 1900 BEIRA, Armador de Lisboa não identificado; 1901 Glama & Marinho, Porto; A AMÉRICA veio rio Douro abaixo na cheia de 1909 e encalhou junto da antiga capela de S. Pedro da Afurada, mais tarde foi safa e convertida em pontão de carga, tendo um ano depois sido desmantelada.
A barca como CRAIGMULLEN em 1895, depois de sair de Singapura para Callao, Perú, com um carregamento completo de arroz, via Estreito de Sonda, foi dada como desaparecida, tendo sido encontrada cerca de um ano depois à deriva, em pleno Oceano Pacifico, com apenas 3 sobreviventes de um lotamento de 25, em estado completamente desesperante, um dos quais foi o imediato, tendo desses três um deles falecido aquando era tratado no navio salvador.
Parece que o meu tio-avô, também andou embarcado na CLARA, só que não sei se de moço de marinheiro ou de praticante.



Página de Diário Náutico - termo de derrota - da barca NANNY

Note-se na duração das viagens que eram lentas, e ainda para mais com as perigosas tempestades, incómodas calmarias e ventos contrários, e ainda o tempo de demora nos portos, em relação aos dias de hoje, que em viagens directas faz-se a “round trip” Porto/Newport em cerca de oito dias, e a estadia nos portos anda à volta de dez horas. Na minha actividade profissional já atendi porta-contentores que no porto de Leixões atracavam às 07h00 e às 12h00 já iam de largada e ainda saiam de Vigo no mesmo dia.
Numa das suas viagens como praticante a piloto, a barca fora dada como naufragada com toda a sua tripulação pelas autoridades marítimas em parte incerta, pois o tempo previsto de chegada ao Porto já tinha sido demasiadamente ultrapassado, e outras embarcações que vinham na mesma rota não traziam qualquer sobrevivente nem davam boas novas, pelo que os familiares já se preparavam para mandar celebrar missa pelas suas almas, quando um certo dia o telegrafista da Estação Semafórica Marítima do Monte da Luz, avistou uma barca de três mastros ao Noroeste, e reconhecendo, era a barca em causa, que mais tarde e na Graça de Deus demandou a barra do Porto a salvamento, se bem que com algumas avarias visíveis. Aconteceu que a barca que chegou a estar com a costa Norte à vista, devido ao muito mau tempo e mar que se prolongou por alguns dias, ao ponto de por vezes ter o convés mergulhado, e não conseguindo meter-se de capa, teve de correr ao tempo e desviar-se da usual rota.
O Francisco de Oliveira Alegre era um dos sete filhos (4 homens e 3 mulheres) José de Oliveira Alegre (Maraje) e de Maria Teresa da Cunha oriundos da freguesia São Cristóvão de Ovar, que vieram assentar arraiais na Foz do Douro, nas artes pesqueiras, e dois dos seus irmãos também seguiram a vida marinheira.
Eusébio de Oliveira Alegre (Maraje), falecido com 53 anos em 11/07/1928, no Rio de Janeiro, foi chefe de máquinas dos memoráveis paquetes “ITAS” da Companhia Nacional de Navegação Costeira, do Rio de Janeiro, e parece ter alcançado o lugar de oficial inspector da frota em terra.
Manuel de Oliveira Alegre (Maraje), falecido com 86 anos em 17/05/1969, pescador, piloto da barra, e reformou-se como sota-piloto-mor do Douro e Leixões, após 52 anos, ao serviço da corporação de pilotos, tendo também passado por seu trabalhador eventual e assalariado.

(continua)
Rui Amaro