07/10/1952 – Sob o comando do mestre José Cadilha, de alcunha Zé Palouca, um Vianense da Ribeira de Viana, navegava de Setúbal para o Douro sob nevoeiro cerrado, transportando cerca de 160 toneladas de cimento, quando, inesperadamente embateu numas pedras das Berlengas.
Dado o alarme, e como o porto de Peniche estava ali a pouca distância, aquele experimentado mestre fez rumar de imediato o navio àquele porto, pelos próprios meios, enquanto a tripulação tentava estancar a água, acabando por demandar o porto, ligeiramente metido de proa, e tendo procedido logo à descarga de parte da carga.
A situação do iate-motor, era melindrosa, apesar da carga não se considerar perdida, pois que o rombo era de grandes dimensões, o que tornou difícil a sua reparação em Peniche.
Mais tarde recebeu reparações provisórias, e alguns dias depois veio para o rio Douro, julgo a reboque, a fim de descarregar o cimento ensacado, e subir à carreira do estaleiro de Tomás F. Lapa, Vila Nova de Gaia, para reparações finais.
O mestre José Cadilha, já em Outubro de 1947 encalhara junto ao Cabo Carvoeiro, também devido ao nevoeiro, o lugre-motor SANTA MADALENA, da praça de Viana do Castelo, que se perdeu, pelo que passou a considerar azarenta a sua passagem pelo canal da Berlengas. Também a 31/01/1951, ao mar de Espinho e sob mau tempo, ficou com o iate-motor MAR NOVO, de seu comando, completamente desarvorado, arribando a Leixões, pelos próprios meios, sem mais percalços.
16/12/1958 – Sofreu um segundo acidente, já sob o comando do capitão João Gonçalves Muchacho, quando em viagem de Setúbal para o Porto com um carregamento de sal, e que arribara a Peniche, a fim de se abrigar do temporal que o surpreendera em pleno mar.
Porém, por se lhe terem rebentado as amarras devido ao vento tempestuoso e á ressaca, foi de garra acabando por encalhar na praia Sul, tendo a sua tripulação, graças à prontidão com que foi assistida pelo salva-vidas ALMIRANTE SOUSA E FARO e pelo Bombeiros locais, nada sofreu, e conseguindo retirar parte dos seus haveres. Julgo que por lá ficou até ser adquirido pelo armador Casimiro Augusto Tavares.
O EDUARDO XISTO encalhado em Peniche a 16/12/1958 /(c) colecção Couto Hermano - Peniche /.
EDUARDO XISTO, 29,67m/107,49tb; 1x motor 1D-3cl. -150BHP-120BHP MAN-Maschinenfabriek, Augsburg, 1936; 06/06/1947 entregue pelo estaleiro Tomás F. Lapa, lugar da Cruz, Vila Nova de Gaia, ao armador Eduardo Beltrão., Lda., Porto., que o empregou na navegação costeira internacional (NCI), particularmente no tráfego costeiro entre os portos continentais, especialmente transportando carvão em pó das Minas do Pejão, que era baldeado dos típicos e negros “rabões do Douro” no lugar da Carbonífera, margem de Vila Nova de Gaia, e ainda cimento ensacado e sal, entre Porto, Lisboa e Setúbal, tráfego que teve continuade como CARLOS AUGUSTO.
O CARLOS AUGUSTO saindo a barra do Douro em 1969 / (c) foto de Rui Amaro /.
1964, supostamente devido a dificuldades de origem financeira do armador Portuense, acredita-se que o navio tenha siso hipotecado pela Caixa Geral de Depósitos, já que o seu nome aparece no Lloyds Register of Shipping ligado à Companhia de Seguros Tranquilidade, a qual terá sido portanto, a promotora da respectiva venda em hasta pública; 21/01/1964 CARLOS AUGUSTO, Casimiro Augusto Tavares, Setúbal, armador este que o transformou em lanchão-motor, --m/120tb, apenas um mastro e sem gurupé; 1973 sem rastro a partir desse ano.
O CARLOS AUGUSTO demandando a barra do Douro em lastro a 21/04/1968 /(c) foto de Rui Amaro /.
Tanto o EDUARDO XISTO como o CARLOS AUGUSTO, além do motor auxiliar utilizavam velas latinas, e era uma maravilha vê-los saírem do rio Douro e rumarem a Sul em ocasiões de Nortadas à escota larga, e em pouco tempo desapareciam lá para os lados do mar de Espinho.
Fontes: Imprensa diária e regional; Lista dos Mavios Mercantes Nacionais e Lloyds Register of Shipping.
Rui Amaro