Cais de Gaia, rio Douro, década de 60 / postal ilustrado - colecção do autor do blogue /.
Nos primeiros anos da década de 60
atendi no cais de Gaia, rio Douro, como empregado da agência consignatária, um
navio de nacionalidade Holandesa de carreira regular, cujo capitão trazia a
bordo o seu cão de estimação. Não sei pormenores sobre a sua raça, sei que era
um cão bastante corpulento de cor branca, bastante felpudo.
Antigamente era normal ver-se cães
postados nos cais junto à borda dos navios, mais propriamente perto da cozinha,
e de vez em quando lá vinha um naco de comida arremessado pelo cozinheiro, que
em pouco tempo era devorado, e alguns chegavam mesmo a entrar a bordo e
procurar a cozinha.
Ora o nosso cão “embarcadiço” costumava
saltar para terra, e sem mais nem menos lá saia a portaria do cais acompanhando
os amigos canídeos de ocasião, e de vez em quando retornava ao seu lar e em
todas as escalas do navio nunca faltou à largada, e quando se atrasava, o
capitão fazia soar a sirene do navio e lá vinha ele muito ofegante a correr
para bordo e depois de uma boa repreensão la se refugiava no seu cantinho.
À atracação lá estava ele debruçado no
castelo da proa a ladrar, como que a chamar os amiguinhos, e estes lá apareciam
a ladrar numa correria desenfreada como a convidá-lo para um passeiozito.
Acontece que numa certa largada, já
muito perto da maré e com piloto a bordo, o cachorro não aparecia, e o capitão
bem acionava a sirene, mas o seu “tripulante” não se fazia chegar. Procurou-se
pelas redondezas e cães nem vê-los. Pergunta-se aqui e ali, e nada!
Entretanto, o piloto avisou o capitão,
que não podia esperar mais, devido â maré, e como tal o navio teve de largar, e
por azar nessa viagem, contra o usual não escalava Leixões para completar o
carregamento, pois iria directo a Vigo, e ainda sairia de lá no mesmo dia,
perto da meia-noite.
Pediu-se ao pessoal do cais e à
vizinhança, caso o vissem para avisar a agência, e passaram-se os dias e nada.
O navio além de Vigo escalava Dover, Anvers e Roterdão, seu porto de registo. A
viagem levaria à volta de oito dias.
Muito estupefacta ficou toda a gente no
cais de Gaia, quando passados quinze dias, vindo de Lisboa, o navio atracava
aquele cais, e o cachorro “embarcadiço”, lá vinha ele à proa farto de ladrar, e
os colegas em terra a responder-lhe.
O certo, é que o capitão quando chegou a
sua casa, bastante distante de Roterdão, teve uma recepção inesperada lá estava
o seu cão mascote, à sua espera.
Na altura da largada, não havia qualquer
navio no Douro ou Leixões, que fosse para a Holanda e camiões TIR, nem se quer
haviam.
O cachorro de “embarcadiço” deve-se ter
virado “caminhante pedestre”, e como tal sentindo que o seu navio já deixara o
porto do Douro, há que por patas ao caminho, e tudo levou a crer que assim
fosse, pois quando do aparecimento imprevisto em casa dos seus donos, na
Holanda, encontrava-se muito fatigado, sujo e esfomeado.
Agora
um cachorro, por muito robusto que seja, fazer uma caminhada do Porto à Holanda
em menos de oito dias, parece inacreditável, mas pelos vistos ocorreu mesmo!
Rui Amaro
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