sábado, 29 de novembro de 2008

« NAVIOS DE PAVILHÃO PORTUGUÊS ATACADOS OU AFUNDADOS POR UNIDADES NAVAIS OU AÉREAS BELIGERANTES EM CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO MUNDIAL DE 1939/1945 » (2)


SERPA PINTO –
ex Jugoslavo PRINCESA OLGA, ex Inglês EBRO – paquete de longo curso – 1914 – 143m/8.480tb – Companhia Colonial de Navegação, Lisboa.

O SERPA PINTO fundeado no Funchal durante a guerra de 1939/45, possivelmente na sua primeira escala àquele porto insular /(c) foto de autor desconhecido/.

Em 1940 havia em Lisboa imensos refugiados de guerra, sobretudo Judeus, que se encontravam em trânsito para os E.U.A. e como tal o SERPA PINTO, assim como outras unidades mercantes nacionais entraram nesse tráfego, utilizando os portos de Filadélfia e Baltimore. Além das viagens aos E.U.A., também realizou, ainda durante os anos de guerra, viagens ao Brasil e a África.
Naquela época a maior parte dos passageiros eram Judeus fugidos dos países do “Eixo” e o paquete de imediato se tornou bem conhecido, quer das forças “Nazis”, quer dos “Aliados”. Vários episódios graves provam o que se dizia. Em 1941, quando navegava em pleno Atlântico o paquete foi interceptado pela “Royal Navy”, que obrigou o navio a seguir para as Bermudas, onde lhe foi passada uma busca durante três dias. Os Ingleses suspeitavam, que o paquete transportasse passageiros de nacionalidade Alemã.
A 26.05.1944, pela meia-noite, apesar de totalmente iluminado, mostrando a sua sinalização convencional de navio mercante neutral, quando em viagem de Lisboa e Ponta Delgada para os E.U.A., o SERPA PINTO foi mandado parar pelo submarino Alemão U-541, a 600 milhas a leste das Bermudas. Além de 157 tripulantes, iam a bordo 228 passageiros e destes fazia parte um grande número de Judeus refugiados de guerra. Por ordem do seu comandante, Kapitanleutnant Kurt Petersen, foi arriada uma embarcação, que conduziu para bordo do submarino o imediato e o segundo piloto do SERPA PINTO, levando os documentos do navio. O imediato ficou retido como refém, enquanto um oficial alemão e marinheiros armados de metralhadoras deslocaram-se a bordo do paquete para passarem uma busca. O oficial alemão informou o comandante Português que procurava um cidadão Britânico, natural do Canadá, que foi levado ao submarino, após ter sido localizado no seu camarote. O imediato regressou a bordo com a notícia de que o SERPA PINTO seria torpedeado dentro de 20 minutos, por esse motivo o paquete foi abandonado, permanecendo os passageiros e tripulantes nos barcos salva-vidas ao sabor das ondas. O tempo passou e, cinco horas mais tarde o comandante do SERPA PINTO foi levado à presença do seu homólogo Alemão, tendo este informado, que aguardava de Berlim, a confirmação da ordem de afundamento do navio. Pelas 08h00, finalmente chegou a ordem de não afundar o paquete, regressando a bordo os passageiros, tripulantes e ainda o cidadão Britânico, no entanto dois Americanos de origem lusa ficaram detidos a bordo do submarino, o qual permaneceu próximo do paquete até ao meio-dia, tendo por fim submergido e o SERPA PINTO prosseguiu viagem para Filadélfia às 17h00. Os dois Americanos feitos prisioneiros foram levados para a base de Lorient, onde o U-541 chegou a 22.06.1944, ignorando-se as razões da sua detenção.
O incidente forçara o paquete a uma paralisação de cerca de 17 horas, uma grande parte de noite, assustara e incomodara os passageiros e tripulantes. Com a confusão que se gerou, o médico de bordo, um cozinheiro e uma criança de 16 meses perderam a vida, devido terem caído ao mar. Em Dezembro de 1942 atracava ao porto de Lisboa, trazendo a bordo 40 crianças de nacionalidade Britânica, que haviam sido evacuadas para os E.U.A. e agora, voluntariamente regressavam à Europa.
O U-541 sob o comando do Kapitanleutnant Kurt Petersen, após terminada a guerra, rumou a Gibraltar por ordem do almirantado Alemão, onde se rendeu às autoridades navais Britânicas a 14.05.1945. Mais tarde foi levado para Lisahally, Irlanda do Norte onde se juntou a uma enorme alcateia de outros submarinos Alemães, que também se tinham rendido aos “Aliados”. Em 05.01.1946 aquele submarino foi afundado, na denominada operação Deadlight, alvejado pelos contratorpedeiros HMS ONSLAUGHT e HMS ZEALOUS ao largo da costa, posição 55.38N e 07.35W. O seu comandante ficou detido, permanecendo num campo de prisioneiros de guerra na Grã-Bretanha até Janeiro de 1948.
A Royal Mail Steam Packet Co.
(Mala Real Inglesa) encomendou em 1913 dois paquetes aos estaleiros Workman Clark & Co., Belfast, que viriam a ser denominados EBRO e ESSEQUIBO. O primeiro foi lançado à água em 18.11.1914, realizando pouco tempo depois a sua viagem inaugural às Caraíbas e logo que regressou a Inglaterra, devido ao conflito mundial 1914/18, foi requisitado pelo almirantado e transformado em cruzador auxiliar, passando a fazer parte do 10º esquadrão de cruzadores no patrulhamento do mar do Norte e Atlântico até final da guerra. Tendo sido desarmado em 1919, passou a servir a Pacific Steam Navigation Co. (Mala Real do Pacifico) a partir de 1920 no seu serviço de Nova Iorque e Chile via canal do Panamá e em Agosto de 1929 o EBRO sofreu transformações na máquina, passando a queimar óleo em vez de carvão.
Em 1935 foi comprado pela companhia Jugoslava Jugoslovenska Lloyd, Dubrovnik, que o registou com o nome de PRINCESA OLGA, passando a realizar o seerviço do Mediterrâneo Oriental. Em 08.05.1940 hasteou pela primeira vez as cores de Portugal por ter sido comprado pela Companhia Colonial de Navegação. Lisboa. No período da guerra de 1939/45, realizou viagens aos E.U.A., Brasil e Africa Portuguesa. Terminado o conflito foi transferido para a linha do Brasil, onde foi muito bem sucedido e em 1952 com a entrada do VERA CRUZ foi transferido para nova carreira das Caraíbas. Realizou algumas viagens turísticas de fim de ano ao Funchal e uma muito especial a Helsínquia, aquando dos jogos olímpicos de 1952. A 06.09.1955, a reboque deixava o estuário do Tejo a caminho de Antuérpia, arvorando a bandeira nacional Belga, onde foi desmantelado para sucata.

O SERPA PINTO passando sob a ponte Levensau, Canal de Kiel, de rumo a Lisboa, transportando os elementos da delegação Portuguesa, que participara nos Jogos Olímpicos de Helsinquia 1952 / (c) foto de autor desconhecido /.

http://lmcshipsandthesea.blogspot.com/2007/04/serpa-pinto-nos-eua.html

http://www.uboat.net/types/ixc40.htm

http://resources.ushmm.org/film/display/main.php?search=simple&dquery=keyword(CHILDREN+(JEWISH))&cache_file=uia_nNIFXq&total_recs=173&page_len=25&page=1&rec=20&file_num=1104


EXPORTADOR PRIMEIRO –
ex LIBERAL TERCEIRO, ex OCEANO, ex Alemão PRINZ LEOPOLD – vapor de pesca do arrasto – 1917 – 41m/318tb – Soc. de Pesca a Vapor Exportador Lda., Lisboa.
A 01.06.1941, pelas 14h52, o EXPORTADOR PRIMEIRO, quando navegava dos pesqueiros do Cabo Branco de rumo a Lisboa, com cerca de 300 toneladas de peixe, foi surpreendido e atacado a tiro de canhão por um submarino desconhecido que, sem aviso de espécie alguma, disparou contra aquele vapor de pesca, cerca de 50 tiros, até o afundar. O primeiro maquinista Reinaldo Ramos, casado, 49 anos e o mestre de redes António Chiquito, casado, 32 anos, foram vítimas mortais. Os tripulantes José Justino, João Severiano e Manuel Pedro sofreram ferimentos graves, devido aos estilhaços.
O capitão, José dos Santos Bodas, após abandonar o navio, ainda tentou provar ao comandante do submarino, que o navio era Português e, como tal, neutro, porém os atacantes, cobardemente, não o atenderam. Os sobreviventes andaram à deriva até alcançarem a costa do Algarve, mais precisamente Olhão, em 03.06.1941, de onde viajaram para Lisboa.
Esse submarino, que não se identificara, era o Italiano R.SMG GUGLIELMO MARCONI do comando do Capitano di corvetta Mario Paolo Pollina, que atacou o EXPORTADOR PRIMEIRO nas coordenadas 35.31 N e 11.30W ou seja a sul do Cabo de S.Vicente, acabando por o afundar.
Não se compreende a razão, que levou aquele comandante a atacar e afundar um indefeso vapor de pesca, que arvorava e exibia as cores de Portugal, país neutro. Poderia ter sido por lapso ou por supor, que aquela embarcação estivesse a colaborar com os “Aliados”.
O GUGLIELMO MARCONI, nas noites de 27 e 28.10.1941 comunicava, que se encontrava na posição 42.15N e 21.55W, juntamente com outros submarinos Italianos e Alemães em acção de ataque a um comboio marítimo Aliado. Essa foi a sua última comunicação, pois jamais regressou à base “Betasom”, Comando Superior da Força Submarina Italiana do Atlântico, Bordéus, tendo sido considerado perdido com toda a sua equipagem, incluindo o seu novo comandante, il Capitano di corvetta Lívio Piomarta.
O EXPORTADOR PRIMEIRO foi construído na Alemanha em 1917, pelo estaleiro Reiherstieg Schiffswerft & Maschinenfabriek, Hamburgo, com o nome de PRINZ LEOPOLD. Em 1922 foi trazido para Portugal pela Empreza de Pesca a Vapor Oceano, Lisboa, que o baptizou de OCEANO e em 1929 foi adquirido por Manuel de Jesus, Lisboa, alterando nome para LIBERAL TERCEIRO, tendo sido vendido em 1936 à Sociedade de Pesca a Vapor O Exportador, Lda., Lisboa, que lhe deu o nome, que possuía à data do seu afundamento. Atingia a velocidade de 9 milhas e fainava nos ricos bancos de pesca do cabo Branco e cabo Juby.

http://www.regiamarina.net/subs/submarines/marconi/marconi_us.htm


GANDA – ex Inglês CITY OF MILAN, ex Alemão PLAUEN – longo curso – 1907 – 122m/4.333tb – Companhia Colonial de Navegação, Lisboa.


O vapor GANDA no estuário do Tejo, já por alturas da guerra de 1939/45 / (c) foto de autor desconhecido/.


A 20.06.1941 navegava o vapor GANDA, na posição 34.10N e 11.40W, procedente de Lisboa, rumando a Luanda e vários portos de Moçambique transportando 3.500 toneladas de carga geral e vinhos, além de 50 tripulantes e 22 passageiros. O seu capitão era o Comandante Manuel da Silva Paião.
Entretanto o submarino alemão U-123, após ter cruzado o estreito de Gibraltar e já ao largo da costa de Marrocos, avistou um vapor mercante que navegava isolado, sendo identificado como um legítimo alvo Britânico. Ao alvor um ataque em imersão começou a ser preparado contra o ignorado vapor neutro GANDA.
Na tarde de 20, pelas 17h00, posição 34.10N e 11.40W, à distância de 600 metros foi lançado um torpedo, que falhou o alvo, aparentemente passou pela ré daquele vapor. Um outro torpedo foi lançado às 18h30 e acertou no alvo com sucesso. O GANDA foi atingido a meia-nau, na casa da máquina e com a entrada de água começou a adornar a bombordo, pelo que a sua tripulação e passageiros apressaram-se a abandonar o navio. No entanto este, embora adornado, continuava a flutuar, pelo que alguns tripulantes voltaram a bordo para arriar a baleeira a motor, o que conseguiram e distribuíram-se, convenientemente tripulantes e passageiros, pelas diversas embarcações. Em face da situação seguiu um terceiro torpedo, que apesar do seu impacto no costado do desventurado vapor, este continuava sem submergir, contudo notava-se um enorme rombo a estibordo, por alturas do porão numero três. Bem visíveis, tremulava a bandeira Portuguesa à popa, erguia-se bem alta a bandeira fixa por cima da ponte e exibiam-se as do costado, bem destacadas contra o negro da pintura do casco.
O comandante do submarino, Kapitanleutnant Reinhard Hardegen, então decidiu emergir e dar o golpe de misericórdia a tiro de canhão. Depois de mais de meia centena de tiros de granadas, o GANDA acabou por ir a pique. Ao aproximar-se das baleeiras salva-vidas, o comandante do submarino só então reparou no erro, ficando, verdadeiramente estupefacto ao descobrir, que o navio não era de nacionalidade britânica mas sim de nacionalidade neutral Portuguesa. Da lotação de 72 elementos a bordo, cinco foram para o fundo do mar com o GANDA. Esses infelizes foram o imediato, 3º maquinista, um fogueiro e 2 passageiros.
Após a patrulha o comandante-em-chefe da arma submarina da “Kriegsmarine”, VizeAdmiral Karl Doenitz, ordenou ao comandante do submarino U-123 para alterar o diário de bordo de maneira a mostrar, que nenhuma acção de qualquer espécie foi realizada naquele dia 20 de Junho, a fim de evitar complicações diplomáticas com o governo de Portugal.
Os sobreviventes foram recolhidos por dois vapores da pesca do arrasto: o Português FAFE da praça do Porto, salvou 26 e o Espanhol VENTURA GONZALEZ resgatou 41, que foram conduzidos a Huelva.
O submarino U-123 foi desactivado na base naval de submarinos Alemães de Lorient, França, em 17.06.1944 e passou a ser utilizado como navio gerador, até ser capturado pelas “forças militares dos E.U.A”. quando da tomada da cidade. Depois da guerra passou a servir a Marinha de Guerra de França com o nome de BLAISON (S-611) e em 10.09.1959, como navio-alvo, foi afundado em exercícios de tiro.
O Kapitanleutnant Reinhard Hardegen, após a rendição da “Alemanha Nazi”, passou pouco mais de um ano detido pelas “Aliados”, antes de regressar a sua casa em Novembro de 1946. Nessa altura estabeleceu-se no negócio de óleos com uma empresa de sucesso e mais tarde foi membro do Parlamento da cidade de Bremen, sua cidade natal.
O GANDA, 122m/4,333tb, foi construído em 1907 pelos estaleiros Flensburger Schiffswerk Ges., Flensburg, sob encomenda da Deutsche Australische Dampfs. Ges. No final da guerra de 1914/18 foi entregue aos Ingleses como reparação de guerra, passando a pertencer à Ellerman’s City Line., Ltd., Londres, com o nome de CITY OF MILAN. Comprado pela Companhia Colonial de Navegação, Lisboa, em 1931 passou a ser denominado de GANDA, segundo desde a fundação da companhia, tendo sido registado em Luanda a 31.03.1931. Atingia a velocidade de 10,5 nós.

http://www.uboat.net/men/hardegen.htm


CORTE REAL – ex Holandês PEURSUM – longo curso - 1922 – 90m/2.044tb – Carregadores Açoreanos, Ponta Delgada.


O vapor CORTE REAL /(c) foto de autor desconhecido /.


Na noite de 07.10.1941, pelas 21h00, em plena guerra mundial, largava de Lisboa com destino a Nova Iorque com escala por Leixões, Funchal e Ponta Delgada, o vapor CORTE REAL capitaneado pelo Comandante José Narciso Marques Júnior, levando a bordo 710 toneladas de carga diversa para Nova Iorque e quatro passageiros de nacionalidade Portuguesa para Ponta Delgada.
A 8 chegava a Leixões, onde carregou mais 520 toneladas de carga e recebia mais dois passageiros, um Americano e um Francês, ambos com destino aos E.U.A. e três dias mais tarde, pelas 18h00 do dia 11, o CORTE REAL deixava Leixões de rumo ao Funchal. A 12, pelas 08h30, foi sobrevoado por uma avião da “Luftwaffe”, que pouco depois desaparecia entre as nuvens.
Levava bem visíveis as bandeiras e os sinais regulamentares, conforme acordo estabelecido entre neutros e beligerantes e a manhã era de boa visibilidade, porém às 11h45 do dia 12, posição 38.36N e 11,00W, era avistado pela alheta de bombordo um submarino Alemão, que disparou um tiro de canhão por cima do CORTE REAL, intimando-o dessa forma a parar. Apesar de parado, foi disparado um segundo tiro sobre o vapor e com o submarino a cerca de 200 metros, foi transmitida uma mensagem por bandeiras, para que fosse enviada uma embarcação com todos os documentos do CORTE REAL, incluindo o seu manifesto de carga, ordem cumprida sem qualquer demora, seguindo o imediato Jorge Soares de Andrade numa baleeira salva-vidas e apresentando de seguida toda a documentação ao comandante Alemão, Kapitanleutnant Hans Werner Kraus. Examinados os documentos no convés do submarino, o que levou cerca de uma hora, o imediato foi informado de que deveria regressar a bordo e comunicar ao seu comandante, que todos os elementos a bordo teriam de abandonar o navio, pois este iria ser afundado.
O comandante alemão havia encontrado no manifesto de carga, mercadoria com destino a um país inimigo da Alemanha, neste caso o Canadá, embora a mercadoria viesse a ser baldeada em Nova Iorque. Contudo, ao receber a ordem, o imediato sugeriu ao comandante alemão a possibilidade da vinda do seu comandante a bordo do submarino, pois ele falava um pouco alemão e poderia, então, esclarecer melhor quaisquer dúvidas, que porventura pudessem existir. A sua sugestão foi aceite. Ao chegar a bordo do U-83, foi no entanto reiterada ao capitão do CORTE REAL a mesma ordem e apresentadas as mesmas razões pelas quais o seu vapor iria ser afundado. Em contrapartida o comandante português sugeriu que fosse permitido o seu regresso a Lisboa, a fim de descarregar a pouca mercadoria em disputa ou mesmo alijá-la ali ou num porto, que o comandante Hans Werner Kraus indicasse, onde pudesse proceder à sua descarga. Sugestão essa, que foi categoricamente rejeitada.
Em face dessa recusa terminante, o Comandante José Narciso Marques Júnior regressou a bordo do seu vapor acompanhado do imediato do U-83 e duas praças, dando de seguida a ordem de abandono do navio, acção que tinha de ser concluída dentro de 30 minutos, tempo máximo concedido pelo comandante do submarino.
O trabalho de salvamento dos passageiros e tripulação foi feito com ordem, excepto o contratempo com a avaria no aparelho de uma das duas baleeiras, o que originou a sua perda e dos seus haveres. Dispondo-se apenas de uma baleeira salva-vidas e de um bote de serviço para salvamento de todas as vidas. Arriadas as duas embarcações, os náufragos dirigiram-se ao submarino, a fim de levarem para bordo o seu imediato e as duas praças.
No dia 12, pelas 16h20, cometia-se mais um atentado à marinha mercante Portuguesa, pois o U-83 disparava contra o CORTE REAL nove granadas incendiárias, e finalmente às 16h45 lançava um torpedo, que o afundava em poucos minutos e de seguida, o submarino Alemão rebocou as duas embarcações em direcção à costa portuguesa durante 20 milhas, mantendo a bordo nesse percurso duas senhoras e duas crianças, a quem dispensaram os maiores cuidados e a quem, ao desembarcarem do U-83 pelas 17h30, eram oferecidas duas mantas, algum leite, pão e água, embora o salva-vidas estivesse bem fornecido.
Os 36 náufragos do CORTE REAL encontravam-se agora à sua sorte, pois a costa de Cascais ainda estava muito distante, a cerca de 60 milhas náuticas, felizmente com bom tempo, sem vento e com mar calmo e com a promessa do capitão do submarino de que o governo de Berlim entraria em contacto com as autoridades de Lisboa, a quem seriam dadas as necessárias explicações e a posição dos náufragos.
No dia seguinte, pelas 07h45, os náufragos foram encontrados pelo caíque de pesca português ADEUS da Fuzeta, que os rebocou para Lisboa, já com o farol do Cabo Raso à vista, após 33 milhas a remos, tendo aquelas embarcações sido avistadas por um hidroavião Português da base do Bom Sucesso, que as sobrevoou várias vezes em missão de busca e salvamento. Às 16h30 do dia 13, quando estavam ao largo de Cascais veio ao encontro dos náufragos a lancha dos pilotos da barra FEITORIA, que levou a reboque o caíque e as duas embarcações com os náufragos. Alcançado a área do porto de Lisboa, foram todos desembarcados a salvo no cais da Caldeirinha, do antigo Arsenal de Marinha, onde foram recebidos pelas autoridades competentes.
A mercadoria, que originou a ordem de afundamento do CORTE REAL, poderia ter sido máquinas de relojoaria, contrabando de guerra, exportadas pela Suiça, país neutro, via Portugal, também neutro, para os E.U.A., à data ainda neutro mas que na realidade se destinavam ao Canadá, país beligerante. As informações eram colhidas em Portugal, onde abundavam espiões dos países em conflito.
A 18 de Dezembro, durante a sua terceira patrulha com o U-83 o Kapitanleutnant Hans Werner Kraus cruzou o estreito de Gibraltar e após seis patrulhas no Mediterrâneo deixou o comando daquele submarino, que a 04.03.1943 foi para o fundo com toda a sua tripulação a sudoeste de Cartagena, Mediterrâneo, após ter sido atacado por um avião com bombas submarinas.
A 28.11.1942 aquele oficial da “Kriegsmarine” tomou o comando do submarino “U-199”, o qual foi afundado, através de cargas de profundidade lançadas por um avião Americano e dois Brasileiros a 31.07.1943 no Atlântico Sul, a Leste do Rio de Janeiro. O avião Americano explodiu, apesar de não ter sido atingido e despenhou-se no mar. 49 tripulantes foram para o fundo com o seu submarino, salvando-se apenas 12, que foram recolhidos pelo navio de apoio a hidroaviões Americano USS BARNEGAT , entre os quais se encontrava o Kapitanleutnant Hans Werner Kraus, que foi detido e passou três anos em vários campos de prisioneiros sedeados nos E.U.A. Aquele comandante foi protagonista, juntamente com outros oficiais da “Kriegsmarine” numa famosa fuga do campo Papago Park, Arizona, durante a noite de 23 para 24 de Dezembro de 1944. Esse episódio deu origem à obra literária publicada em 1978 “The Faustball Tunnel” de John Hammond Moore, German POWs in América and their great escape. Uma semana mais tarde, ele e um outro companheiro de fuga, acabaram por se entregar, devido a ferimentos graves sofridos durante a fuga. Em Fevereiro de 1946 foi enviado para o campo Shanks e mais tarde para a zona Britânica da Alemanha, perto de Munster, pouco antes de ser libertado, tendo falecido em 1990.
O CORTE REAL, que veio tomar o lugar do vapor ANGRA naufragado no lugar de Lavadores, a sul do cabedelo da barra do Douro em 27.12.1933, foi construído e completado em Junho de 1922 pelos estaleiros holandeses A. Vuijk & Zonen, Capelle a/d Ysel, tomando o nome de PEURSUM, para o armador holandês Stoomvaart Mij. Oostzee (Vinke & Co), Amesterdão, tendo sido registado a 03.04.1934 na capitania do porto de Ponta Delgada.
Rui Amaro

http://www.tarrif.net/cgi/production/all_subs_adv.php?op=getuboats&uboatsX=11

http://news.webshots.com/photo/1025980220033241453uaOstbuCGk

http://www.uboat.net/men/kraus.htm

http://www.sportesport.it/wrecksSP023.htm

( A CONTINUAR )

23 comentários:

joão coelho disse...

O seu trabalho é notável, merecendo todos os elogios por parte de quem se interessa pelas coisas do mar. Lembrar os portugueses, ou luso-americanos, que pereceram ou foram feridos durante a 2ª Guerra Mundial é homenagem mais do que justa.
As intercepções de navios portugueses praticadas por unidades navais, quer dos aliados, quer dos alemães, eram frequentes. Segundo o "Diário dos Açores", logo em 16 de Dezembro de 1939 um navio de guerra inglês fez parar um paquete português (o " C. Araújo " ou o "Lima ", o jornal não especifica ) em viagem dos Açores e Madeira para Lisboa. A bordo seguiam 26 alemães, tripulantes de navios com bandeira do Panamá, atracados em P.Delgada. Todos foram feitos prisioneiros pelos ingleses, com uma excepção - um jovem, de 17 anos, que pediu que o deixassem seguir até Lisboa, solicitação que foi atendida, provávelmente por ser tão novo. E também a minha mãe, que viajava no " Lima ", em Janeiro de 1943, de Lisboa para S. Miguel, se recorda, ainda hoje, do alvoroço e medo a bordo do paquete, quando se avistou um navio de guerra - seria alemão, seria inglês ? era inglês.. - que mandou parar o " Lima ", para verificação de documentos.
Quanto aos italianos, frequentavam as águas dos Açores porque os alemães não os tinham em grande conta, colocavam-nos a sul da rota dos comboios..e lá iam fazendo alguns estragos, sem comparação, no entanto, com os provocados pelos U-boats..Um deles, em 27 de Dezembro de 1940, perseguiu um cargueiro, isolado, junto a S. Miguel; lança-lhe um torpedo, falha o alvo, e o engenho vai explodir, às 6 da manhã, na costa, junto a Santa Clara, próximo dos depósitos de combustível da empresa Bensaúde; não se registam feridos, rebentam os vidros das casas da zona e o navio mercante consegue refugiar-se em P. Delgada..
Onde a Marinha italiana se destacou, notávelmente, foi na actividade dos homens-rã e dos "torpedos humanos", os "maiale". Os primeiros conseguiram afundar uma série de navios mercantes em Gibraltar ( em vários ataques ) e os segundos cometeram a proeza de entrar no porto de Alexandria para atacar dois couraçados ingleses, o "Queen Elizabeth" e o "Valiant" . Dada a pouca profundidade das águas, os dois navios não se afundaram totalmente, acabando por ser recuperados, mas o feito ficou para a História naval.
Finalmente, nos anos 80, ainda tive a sorte de conhecer o comandante Manuel Gonçalo Rosa, natural de Ferragudo, Algarve,que era tripulante de um navio português - não recordo se o "Cassequel" ou o "Ganda" - atacado pelos alemães. Gonçalo Rosa passou 42 anos no mar, terminando a sua carreira em 1975, julgo que como comandante do paquete "Príncipe Perfeito".
Um abraço de sinceras felicitações, com saudações atlânticas

João Coelho

joão coelho disse...

P.S. Gonçalo Rosa era tripulante do "Cassequel", afundado pelo U-108( comandado por Klaus Scoltz )na noite de 14 de Dezembro de 1941, a sul do Algarve. Salvaram-se os 57 tripulantes, a bordo de duas baleeiras. Scholtz apareceu-lhes na manhã do dia seguinte, para lhes dar pão e água; foi dos poucos comandantes de submarino a sobreviver à guerra, tendo feito carreira, até 1966, na Marinha de Guerra da Rep.Federal Alemã. Faleceu em 1987.

Rui Amaro disse...

Amigo João Coelho

Grato pela sua mensagem elogiosa e explicativa de episódios passados pelos mares dos Açores durante a WW2, que não eram do meu conhecimento. Houve também o caso do paquete da Union Castle Line LLANGIBBY CASTLE, como transporte militar, quando escoltado por dois destroyers foi atacado e danificado por um submarino alemão e teve que arribar ao porto da Horta para sofrer reparações provisórias, a fim de regressar a Inglaterra.
Este meu trabalho, que está dividido em vários números, já estava escrito desde há quatro anos para publicação em jornal. Seguem-se agora os episódios do CSSSEQUEL, CATALINA, MARIA DA GLÓRIA, DELÃES e outros, finalizando com “Comboios Marítimos Portugueses”, os quais foram a razão do aparecimento da mundialmente conhecida THE PORTUGUESE WHITE FLEET e pelo episódio do U.1277, afundado pela tripulação a três milhas ao norte do porto de Leixões, entre as povoações do Cabo do Mundo e Angeiras em 03/06/1945.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Rui Amaro disse...

PROCURO FOTO DO VAPOR PORTUGUÊS "CATALINA" DA PRAÇA DO PORTO, QUE FOI ATACADO E TORPEDEADO POR UM SUBMARINO ALEMÃO EM VIAGEM ENTRE PORTOS DA TERRA NOVA EM 15/01/1945 PARECENDO TODA A SUA TRIPULAÇÃO, INCLUINDO O SEU CAPTÃO INTERINO, NATURAL DA TERRA NOVA.
CASO ALGUÉM TENHA, FICO MUITO GRATO SE A PUDER PASSAR ATRAVÉS DO E-MAIL DESTE BLOGUE.
RUI AMARO

Ricardo Matias disse...

Caro senhor, foi publicado um artigo sobre os navios portugueses afundados durante a 2ª Guerra Mundial, da autoria do Comandante Carlos Amorim Loureiro, nos Annais do Clube Militar Naval no Volume de 1948 pagina 179 a 200. Nesse artigo aparece uma foto do Catalina.
Eu tenho uma fotocopia do artigo mas a é qualidade deplorável.

Ricardo Matias

Rui Amaro disse...

Sr. Ricardo Matias
Estou muito grato pela gentileza da sua prestável colaboração.
Uma das fontes deste meu trabalho é precisamente o artigo do Comandante Carlos Amorim Loureiro a que o amigo faz referencia, só que esse trabalho, que agora estou a postar no meu Blogue “Navios à Vista” já foi escrito há cerca de quatro anos para ser publicado num mensário que tem estado parado, pelo que já não me lembrava da foto do vapor Catalina. O volume de 1948 por onde eu tirei os elementos e que me foi cedido pelo Francisco Cabral, o homem que aqui no Porto tem essas coisas todas, também está em fotocópia, a qual me vai ser novamente emprestado e agora através da digitalização, talvez se obtenha melhor imagem. Vamos ver o que se consegue.
O Francisco Cabral, que como eu trabalhava em navegação, já há bastantes anos, tentou junto dos armadores C.A. Moreira (Moreira Line), obter uma foto daquele vapor, mas só conseguiu do gémeo Ourém, que é a que postei ontem no meu trabalho.
Melhores cumprimentos
Rui Amaro

Ricardo Matias disse...

Conheço muito bem o Sr. Francisco Cabral, é um homem com inimagináveis conhecimentos sobre estas coisas.
Quanto à foto do Pádua, tente o Arquivo fotográfico do Museu de Marinha em Lisboa, aonde se encontram algumas fotografias que não lembra ao diabo. Encontrei lá algumas preciosidades.
Quanto ao Catalina, pode ler um trecho sobre ele no livro "Memórias de um pescador" do capitão Joâo de São Marcos (pag 83) recentemente publicado, pois o seu pai sucumbiu no afundamento.

Ricardo Matias

joão coelho disse...

O "Llangibby Castle" foi um navio notável, passou por diversos ataques e desembarques, e sobreviveu à 2ª Guerra, tendo sido desmantelado em 1954. Foi o primeiro navio de passageiros a circum-navegar África.
A 16 de Janeiro de 1942, em viagem para Singapura, foi atacado pelo U-402, a norte dos Açores, perdendo parte da popa e o leme. Com 1.400 militares a bordo, navegou 3 dias, a 9 nós, manobrando só com a máquina, até chegar à Horta, na ilha do Faial (passando ainda por um ataque de um avião FW Condor e enfrentando mau tempo). As autoridades portuguesas deram-lhe 14 dias, para reparações. O navio tinha, no torpedeamento, sofrido 26 mortos, a que se juntaram 4 desaparecidos. A 2 de Fevereiro sai do Faial, escoltado por "destroyers" ingleses e um rebocador; o U-581, que esperava por ele no canal do Pico, tenta o ataque, mas acaba afundado pelo destroyer "Wescott". O "Llangiby" prossegue até Gibraltar, sempre sem leme, fazendo parte do percurso a reboque do salvádego. Naquela base inglesa não consegue resolver o problema, e regressa à Grã-Bretanha, ainda sem leme; no total, navegou 3.400 milhas assim. Às tropas que iam a bordo saiu-lhes a sorte grande - devido ao atraso, e à ocupação de Singapura pelos japoneses, entretanto verificada, já não seguiram para o Pacifico, evitando o mais do que provável cativeiro.
O tempo passa, a guerra continua. Em Dezembro de 42, sai da Irlanda do Norte para Boston e N.York, o comboio ONS 154, com 42 navios. A rota é feita mais a sul do que é habitual e, a partir de 27 de Dezembro, e durante 4 dias, são atacados por uma "matilha" de U-Boats (cerca de duas dezenas). As escoltas, corvetas e um destroyer, são canadianas, inexperientes,sem táctica de conjunto, com falta de liderança, é o massacre; em duas horas, os alemães afundam 9 navios e, no total, enviam para o fundo 14 navios, com a perda de 486 homens. É o maior revés sofrido pela Marinha canadiana, na sua história, que leva à sua retirada dos comboios, para treino intensivo de resposta a ataques de submarinos.
Entretanto, duas das corvetas, a "Shediac" e a "Battleford", estão sem combustível e arribam a P.Delgada, em S.Miguel, para reabastecimento e desembarque de quase uma centena e meia de sobreviventes; entram no porto a 31 de Janeiro e..surpresa..! está lá acostado um submarino alemão..!
As regras num porto neutral não permitem o desembarque das guarnições, mas é fim de ano, populares de S.Miguel vêm à doca, oferecem bebidas a uns e outros, os alemães desembarcam, os canadianos seguem-nos... para se encontrarem depois num bar-restaurante da cidade - cerca de 30 alemães, à volta de 40 canadianos. Os do submarino pagam uma rodada, os canadianos outra..e acabam por confraternizar. Ted Paxton, marinheiro da "Shediac", que fez o relato deste encontro depois da guerra, diz que "there was not a nasty word said" - ou seja, que nem uma palavra desagradável foi dita..O bar fecha à 1 da manhã e os inimigos regressam juntos ao porto..
A "Shediac" e a "Battleford" saiem às 08.00 do dia seguinte, 1 de Janeiro de 1943; o submarino, de acordo com as regras, só pode largar amarras 8 horas mais tarde..
Ficaram em S.Miguel os náufragos do ONS 154, quase centena e meia..E quem é que vem buscá-los para os levar de volta à Inglaterra, a 6 de Janeiro? Exactamente..o "Llangiby Castle", já recuperado das suas mazelas...
Histórias de guerra curiosas. Só é pena ninguém ter identificado o submarino alemão..

Saudações atlânticas, com votos de continuação do excelente trabalho

João Coelho

Rui Amaro disse...

Amigo Ricardo Matias
O Francisco Cabral, que lhe manda saudações, é de facto um grande pesquisador destas coisas de navios e pena é não utilizar a internet.
Quando ele aparece aqui em minha casa, fica maravilhado com o mundo dos navios e navegação que se vê na Internet.
Mais uma vez grato pela sua gentileza nas informações dadas. Quanto ao Pádua, eu tenho foto.
Saudações Maritimo-entusiásticas
Rui Amaro

Rui Amaro disse...

Caro João Coelho
Na verdade a confraternização dos marujos da Royal Canadian Navy e os da Kriegsmarine foi mesmo original, nem na guerra do Solnado, se bem que há uns tempos vi um filme da Primeira Guerra Mundial em que os soldados Alemães confraternizavam com os Franceses. Os militares não se odeiam, combatem por ordem dos “Senhores da Guerra” e têm de “safar o pêlo”.
Na década de 70, aqui nos cais de Leixões, estavam atracados um navio mercante Alemão e pela sua popa um Israelita, e em dado momento, possivelmente motivados pelos cervejolas e uísques, os Germânicos começaram a insultar os Hebraicos, que não gostaram mesmo nada dos insultos e num ápice já haviam armas no ar, pelo que a Autoridade Marítima ordenou a mudança do Alemão para um cais distante do Israelita e só assim é que a guerra terminou.
Aquando da guerra Irão/Iraque, no estuário do Sado estavam dois navios a carregar munições, um navio Iraniano e outro Iraquiano, e a coisa ficou feia, porque as tripulações também se pegaram e a Autoridade Marítima teve de intervir.
Saudações Marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

maria disse...

parabens!!! está fantastico!

já agora alguém me sabe dizer ao certo o que é que se passou com um navio, penso que hospital, comandado pelo(grande) Almirante Sarmento Rodrigues e que foi torpedado?
Do pouco que sei foi um momento épico mas gostaria de ter mais pormenores, se possível.

Grato pela vossa atenção

Miguel Santiago

Rui Amaro disse...

Caro Miguel Santiago
Obrigado pelo elogio ao Navios à Vista
Quanto ao Almirante Sarmento Rodrigues, um distinto e notável marinheiro da n/ armada, não tenho conhecimento de qualquer navio comandado por aquele oficial. Aliás navios de guerra Portugueses atacados e perdidos nos novos tempos, foram o AUGUSTO DE CASTILHO (Cdte Carvalho Araújo); Lancha VEGA (Cdte Oliveira e Carmo)- Estado da Índia; AFONSO DE ALBUQUERQUE (Cdte Aragão) – Estado da Índia, e mais alguns afundados por unidades navais Portuguesas como alvos de tiro.
Pode ser que outros colegas o possam elucidar melhor.
Agora durante a guerra de 1939/35 no comando do contratorpedeiro NRP LIMA, socorreu muitas tripulações de navios mercantes Aliados torpedeados pelos submarinos Alemães.
Visite a biografia do Almirante Sarmento Rodrigues
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Sarmento_Rodrigues
Saudações marítimo-entusiásticas.
Rui Amaro

joão coelho disse...

O então comandante Sarmento Rodrigues esteve de facto envolvido em diversas acções de salvamento durante a 2ª Guerra Mundial, enquanto responsável pelo "destroyer" Lima, que fazia comissão em Ponta Delgada, S.Miguel, Açores. A mais famosa envolveu dois navios norte-americanos, o "City of Flint", 4.963 tons, e o "Julia Ward Howe", um "Liberty ship" de 7.176 tons. Os dois faziam parte do comboio UGS-4, saído de N.York, com destino ao norte de África; devido ao mau tempo, ficaram isolados, acabando, o "Flint" por ser afundado pelo U-575, a 25 de Janeiro de 43 (6 mortos, 58 sobreviventes e o cozinheiro-chefe feito prisioneiro pelos alemães, mais tarde internado num campo na Alemanha até ao fim da guerra), e o "Julia W.Howe" a 27 do mesmo mês, pelo U-442 (3 mortos no ataque,outro, o chefe de máquinas, já a bordo do "Lima" e 70 sobreviventes). O nosso "destroyer" sai de S.Miguel depois de captado um SOS e apanha, primeiro, os náufragos do "Flint" (26.1.43) e, já no regresso, os do "Julia W.Howe" (27.1.43). E é na viagem para P.Delgada, com 118 náufragos a bordo, que o "Lima" passa por momentos dramáticos; enfrentando temporal, faz um "rolo" de 67 graus (o indicador de inclinação ficou preso nessa marca) conseguindo depois voltar, lentamente, à vertical. O episódio fez história na nossa Marinha de Guerra e ainda hoje é recordado. Os dois navios afundados transportavam tanques, aviões, jipes, uniformes, alimentos, cigarros, gasolina em bidões, gás venenoso, postes telegráficos e 4 vagões, para Casablanca, em Marrocos, e Oran, na Argélia. O "City of Flint" era um navio já com currículo: em Setembro de 39 colaborara no salvamento de passageiros do paquete "Athenia", o primeiro navio afundado pelos U-Boats na 2ª Guerra e, depois desse episódio fora apresado pelo cruzador "Deustchland", por suspeita de contrabando a favor dos ingleses. Entretanto, o U-575, que atacou o "Flint", foi afundado a 13 de Março de 44, a norte dos Açores (18 mortos, 37 sobreviventes), enquanto que o U-442, responsável pelo torpedeamento do "Julia W.Howe" não chegou a sobreviver um mês ao "Liberty" americano; foi atacado e afundado por um avião inglês, a 12 de Fevereiro de 43, a oeste do nosso Cabo de S.Vicente, com perda total de vidas.
Creio que a "Revista da Armada" publicou há alguns anos um artigo sobre este episódio do "Lima", e sei que existe um pequeno livrinho do Alm.Sarmento Rodrigues sobre a sua passagem pelo comando do "destroyer" durante a guerra. Infelizmente nunca consegui encontrá-lo. Desde 2.005 há, em Lisboa, na freguesia do Beato, uma rua com o nome de Sarmento Rodrigues, um nome insígne da Armada que também fez carreira política, enquanto Governador-Geral de Moçambique - acabou incompatibilizado com Salazar, por defender soluções para o futuro do então Ultramar que o ditador, como sempre, não aceitou..para mal dos nossos pecados..
Aproveito para desejar um bom 2.009a todos, esperando que o Rui Amaro continue o magnifico trabalho que aqui desenvolve. Bem haja!

Saudações marinheiras

João Coelho

Joaquim disse...

Caro Amigo Rui Amaro Eu:201/71M/M,Joaquim Mares,tenho a dizer-lhe com todo o respeito á cerca do Almirante Sarmento Rodrigues, que realmente o dignissimo Almirante foi comandante do Contratropedeiro NRP LIMA, de 1941 a 1945.portanto durante a 2ªGrande Guerra,tomou posse do comando em Ponta Delgada,fez várias operações de salvamento de navios tropedeados,no Mar dos Açores,numa dessas operações o Lima sofreu uma inclinação de 67º,este foi um feito unico na História da navegação,e está descrito na obra "O NOSSO NAVIO".Aqui fica o meu email: mares.joaquim@gmail.com
UM GRANDE ABRAÇO.

Rui Amaro disse...

Caro Joaquim
Muito grato pela sua mensagem, cuja informação acerca do Distinto Almirante Sarmento Rodrigues, que foi um dos mais conceituados oficiais da nossa armada, veio enriquecer o meu Blogue.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro

Jose Valarinho disse...

SEgundo ma contaram em Junho de 1941 o paquete"João Belo" da CNN terá sido interceptado por um submarino alemão quando navegava entre Lisboa e Cabo Verde como transporte de tropas. O comandante alemão terá obrigado o oficial comandante das nossas tropas embarcadas a subir a bordo do submarino, deixando depois o portugues regressar ao nosso navio
que foi autorizado a seguir viagem.
Alguem conhece algo acerca deste episódio ?
Cordialmente
J. Valarinho

Rui Amaro disse...

Caro José Valarinho
também já me contaram vagamente acerca de um episódio identico e com o mesmo paquete da CCN, mas que navegava em viagem regular com carga e passageiros. Aliás um tio meu, soldado expedicionáro, fazendo parte de um contigente militar expedicionário, também viajou no JOÃO BELO por essa altura, mas nada de anormal ocorreu.
Não terá sido o único navio nacional e como tal neutro a ser mandado parar por unidades navais Germanicas ou Aliadas, além dos mencionados no meu trabalho, mas isso era normal em situação de guerra, agora um navio transporte de tropas de país neutro a ser mandado parar, é que é imcompreensivel. mas em guerras,apesar das convenções internacinais, até parece que vale tudo.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro

Anónimo disse...

Caro amigo
De facto o "João Belo" já tinha sido interceptado quando navegava de Luanda para Lisboa, em 1940, mas por um cruzador inglês que aprisionou 6 alemães que seguiam a bordo.
Quanto ao incidente a que me referi, passou-se em Junho de 41, quando navegava de Lisboa para a ilha do Sal com cerca de 1000 homens a bordo. O navio tinha partido de Lisboa em 16/6/41 e, no dia 20 desse mês deveria, acho eu, encontrar-se muito perto da posição em que o"Ganda foi afundado nesse mesmo dia pelo U-123. Como estou absolutamente certo da ocorrencia eu acho, ainda, que se trata, pelo menos, de uma curiosíssima coincidencia (?).
Quanto ao assunto posso acrescentar um pouco interrogativamente: Se as coisas se passavam nesse tempo como se passam agora, o navio deveria transportar um oficial da Armada com as funções de "comandante de bandeira" e arvorar uma flamula que indicava que estava ao serviço do Estado.
Sendo assim porque não foi este oficial, nem sequer o comandante das tropas embarcadas, (como eu por erro disse) que foi a bordo do navio alemão?
Penso eu que os alemães quiseram evitar a todo o custo que o caso pudesse ser considerado um acto de guerra.

Uma vez no Sal, uma das missões atribuídas às tropas era a de vigilancia da costa, numa baía na costa W da ilha perto do aeroporto que os italianos tinham construído em 39 e que foi utilizado como escala de voos de Roma para o Recife que só vieram a terminar no fim de 1941.
Por enquanto é tudo quanto sei. Alguem tem algo a acrescentar;retem mesmo de ter ouvido falar?
Cordialmente

J. V.

Anónimo disse...

Acabo de vericar que no ultimo comentario que vos envei omiti porlapso que o posto de vigilancia a que me referi destinava-se ao controle de submarinos.
Cordialmente .
J. Valarinho

Rui Amaro disse...

Amigo Joé Valarinho
Li com atenção os seus comentários, que agradeço, mas francamente não estou dentro do assunto, até porque não passei pela vida militar, mas junto o seguinte texto sobre as chefias a bordo dum navio trsnsportando tropas, como o caso do JOÃO BELO, extraido da Wikipédia (Net).
Antigamente, na Marinha Portuguesa e ainda hoje, na Marinha do Brasil, designa-se "capitão de bandeira", o comandante de um navio de guerra onde vai embarcado e onde é hasteada a bandeira distintiva do comandante de uma força naval.

Actualmente, em Portugal, é designado "capitão de bandeira", um oficial da Marinha de Guerra que embarque, com funções de comando, num navio mercante nacional colocado ao serviço do Estado Português. O capitão de bandeira partilha o comando do navio com o seu comandante civil, podendo interferir na navegação. Um navio com capitão de bandeira tem direito a arvorar a flâmula naval de Portugal.

Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro

luis disse...

Parabéns pelo seu trabalho!
Finalmente encontro o que procurava há anos. Os pormenores possíveis a esta distancia das circunstâncias da morte do meu avô Reinaldo Ramos a bordo do "Exportador Primeiro". Segundo os filhos (todos já falecidos) o caso foi abafado pelo governo de então (Ministro da Guerra Santos Costa) e numa atitude para calar a indignação foi arranjado emprego para duas das filhas recém saídas da faculdade. Uma delas ficou como professora no Instituto de Odivelas

Luis Ramos Correia

Anónimo disse...

Caro Luis
Obrigado pelo seu comentário.
Pois a Internet, ou melhor a Blogosfera tem destas boas coisas, é um verdadeiro manancial de informação, que sem ela não se encontraria.
Dizem que os comandantes dos submarinos Nazis, apesar de todas atrocidades que cometeram, muitos desses comandantes, ainda conseguiam chegar ao ponto de auxiliar os náufragos dos navios afundados por eles, mas os Italianos eram mais ferozes.
Era assim naqueles tempos, tentava-se esconder muita coisa, mas tudo acabava por vir ao de lume. O Salazar, através do ministro dos negócios estrangeiros deveria era pedir responsabilidades ao Mussolini.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Unknown disse...

Rui, parabéns pelo seu trabalho. Está primoroso!
Gostaria de saber se o Sr. teria alguma informação acerca do cargueiro português de nome "Mello", que teria naufragado em águas brasileiras no ano de 1943.
Agradeço antecipadamente.
Abraços,
Izabel