Navegava o navio-motor Espanhol ADA FERRER, na costa Norte de Portugal, vindo de Puerto de Santa Maria, com um carregamento completo de sal e destinado ao porto de Vilagarcia de Arosa, quando pelas 06h00 de 03/10/1973, o seu comandante, capitan Balbino Alonso Paredes, na rendição de quarto, fez entrega do comando do navio ao seu contra-mestre, e convencido que seguia em bom rumo, não cuidou de o corrigir, dando azo a que a embarcação fosse embater, fragorosamente nuns baixios de pedra, diante da povoação de S. Bartolomeu do Mar, pondo a sua tripulação de oito elementos, que fazia a sua primeira viagem naquele navio, em verdadeiro sobressalto.
Nas declarações prestadas pelo capitão, o navio teve uma viagem normal. Cruzou o Cabo Carvoeiro a navegar com rumo a Norte, sempre junto à costa. Já ao mar de Esposende, a partir do lugar da Apúlia, altura da troca de quarto, chovia intensamente e a visibilidade era cada vez mais difícil. Reconheceu o farol de Esposende, mas teria passado pelos temíveis Cavalos de Fão, por bombordo, sem nada ter ocorrido, e convenceu-se que ia no rumo certo.
Logo que se deu o embate com o baixio, e apesar das tentativas de safar o navio pelos seus próprios meios, e não o conseguindo, foram lançados sinais luminosos de socorro, pelo que acorreram ao local pequenas embarcações de pesca de Castelo de Neiva e o primeiro a chegar foi a embarcação N. SRA. DA GUIA, do arrais Norberto de Oliveira Gonçalves André, de Apúlia, registada na Delegação Marítima de Esposende e a motora FLOR DE ESPOSENDE. Os náufragos vieram a ser recolhidos e transferidos para a motora de José Pinto de Jesus Nibra, que por sua vez os transportou para o porto de Esposende.
Lavrado o respectivo “protesto de mar” na delegação marítima local, o comandante declarou que tentou safar o navio pelos seus próprios meios e, porque não o conseguiu, teve de o abandonar. O comandante declarou também, que quando voltou ao navio na esperança de o safar, tendo arriado a balsa e a baleeira que não chegou a utilizar. Disse, ainda, que desapareceram de bordo: o cofre com cerca de 80 mil pesetas, o sextante, uma bússola, o cronómetro e roupas de uso pessoal e nos depósitos, declarou, que havia 18 mil litros de combustível e que poderiam poluir o mar. O seu carregamento de sal, foi perdido, como é evidente, porque no dia seguinte ao naufrágio, o navio alquebrara.
O inquérito instruído pela autoridade marítima constatou não ter havido qualquer avaria da máquina, nem do leme e nos sistemas de navegação. O combustível acabou por se derramar no mar, em quantidade apreciável, provocando, como se previa, forte poluição em redor dos destroços do navio, contudo as manchas desapareceram rapidamente.
De acordo com as regras e os conselhos para a navegação na costa de Esposende, a navegação terá de ser feita para lá das três milhas náuticas, a fim de evitar a penedia dos Cavalos de Fão, o que não sucedeu.
O inquérito deu entrada no Tribunal Judicial para efeitos de julgamento, contudo a conclusão técnica da autoridade marítima foi de negligência e de incompetência do comandante do navio, apesar de ser piloto bem graduado da Marinha Mercante Espanhola.
Saliente-se que os socorros funcionaram com normalidade e solidariedade exuberante, das embarcações na faina próximo do local do naufrágio, assim como a participação dos Bombeiros Voluntários, Guarda Fiscal, GNR, Delegação Marítima e Socorros a Náufragos, entidades sediadas em Esposende.
Razão tinha o meu pai, piloto da barra do Douro e Leixões, embora a isso não fosse obrigado, que em ocasiões de pouca visibilidade, sobretudo névoa, recomendava aos capitães, que rumavam a Norte, para se afastarem da costa para lá das três milhas, a fim de navegarem safos da perigosa penedia de Fão, e esses capitães ficavam-lhe muito gratos.
Curiosamente, em 1946, após ter dado saída a um submarino da Armada Portuguesa, que se destinava ao porto de Viana do Castelo, debaixo de forte cerração, desde a Ribeira do PORTO, e já fora da barra fez a mesma recomendação ao comandante, que muito lhe agradeceu. No entanto já a bordo da lancha, e numa aberta da névoa, qual foi o seu espanto vislumbrar o submarino navegando junto à costa. De imediato a lancha retrocedeu e buzinando, alertando o comandante para navegar para fora e o submarino lá seguiu em bom rumo!
ADA FERRER, IMO 5002144, cerca de 50m/342tb, 10/11/1956 lançado à água pelos Astilleros Neptuno SA, Valência, para Frederico Ferrer Tuset, Valência.
Fontes: Imprensa diária e Miramar Ship Index.
Imagem: JN
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