Classe NRP AZEVIA / desenho Telmo Gomes /.
A NRP CORVINA amarrada em Massarelos, logo após a sua chegada ao rio Douro, em 08/06/1945 / imagem do jornal O COMÉRCIO DO PORTO /.
A NRP DOURADA amarrada em Massarelos, rio Douro, em 1948 / F. Cabral, Porto /.
A classe NRP AZEVIA foi um modelo de lanchas de fiscalização ao serviço da Marinha Portuguesa, entre 1941 e 1976, sendo mais tarde classificadas como patrulhas, e foram construídas em Portugal, no Arsenal do Alfeite, em plena Segunda Guerra Mundial, tendo sido até então as únicas projectadas para a fiscalização das pescas ao largo da costa de Portugal Continental. Foram encomendadas sendo ministro da Marinha o vice-almirante Ortins de Bettencourt, e dirigiu o seu projecto o 1º tenente e.c.n. Fernando Campos Araújo, que foi bastante feliz na sua concepção, pois no meu entender foi um modelo de vaso de guerra de linhas muito harmoniosas.
As seis lanchas, também chamadas de "Vedetas de Alto Mar", pelo menos no norte do país, além da fiscalização das pescas relativas às infracções das artes nacionais, mas sobretudo às embarcações de outras nacionalidades, tais como arrastões e traineiras Espanholas e chalupas lagosteiras Francesas que vinham fainar em águas territoriais Portuguesas, que à época julgo eram aquelas dentro das doze milhas, as infracções às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais e de insegurança sanitária ou de outra natureza, e o controlo da poluição no mar. A busca e salvamento marítimo, e ainda a assistência a pequenas embarcações, particularmente de pesca, que se faziam aos seus portos ou centros piscatórios de armação em ocasiões de forte agitação marítima, era também uma importante função dessas relevantes lanchas, assim como serviam para se realizar os exames práticos dos candidatos a pilotos da barra da Corporação de Pilotos do Douro e Leixões, e possivelmente de outros portos vizinhos, também os pilotos da barra daquela corporação que cometiam graves irregularidades, por decisão do capitão do porto recolhiam a bordo da vedeta que se encontrava surta no rio Douro como detidos durante o número de dias a que tivessem sido condenados.
As lanchas NRP CORVINA e NRP DOURADA, sob o comando dos tenentes Sousa Pinto, Tengarrinha Pires, Cabido de Ataíde e Gormicho Boavida, afectas ao Departamento Marítimo do Norte, fizeram trabalhos importantes sobre as pescas e roteiros da costa. As outras quatro pertenciam a outros departamentos marítimos, se bem que a FATAÇA também passou algum tempo no norte do pais em substituição das duas acima referidas, quando se encontravam em fabricos.
Foram baptizadas com nomes de peixes, e primitivamente a letra inicial indicava o nome do navio nas amuras, mais tarde foi substituída pelos números NATO, conforme segue: (A) NRP AZEVIA (P595 ex A), comissão 1941/1975; NRP BICUDA (P596 ex B), comissão 1941/1975; NRP CORVINA (P597 ex C), comissão 1943/1975; NRP DOURADA (P598 ex D), comissão 1943/1975; NRP ESPADILHA (P599 ex E), comissão 1945/1969; NRP FATAÇA (s/ número por se ter perdido por encalhe na costa de Sines a 22/01/1949 - ex F).
Principais características: Deslocamento máximo 281 tons/ comprimento ff 42,5m/ boca 6,5m/ pontal 4,86m/ calado 2,2m/ propulsão 2 motores diesel, com 2,400 bhp, 2 veios/ raio de acção 2.470 milhas a 11 nós ou 850 milhas a 17 nós/ capacidade para combustível gasóleo 25 tons/ armamento 2 metralhadoras de 20mm aa, 2 metralhadoras de 7,29mm aa/ guarnição 3 oficiais e 28 sargentos e praças. Os motores das duas primeiras eram MAN mas por causa da guerra, houve necessidade de equipar as restantes com motores SULZER, o que atrasou muito o seu aprontamento.
As vedetas NRP CORVINA e a NRP DOURADA vieram substituir as velhas canhoneiras NRP ZAIRE e NRP MANDOVY, que prestaram excelentes serviços sob a jurisdição do Departamento Marítimo do Norte, e por volta de 1974 foram substituídas pelas patrulhas costeiros da classe NRP CACINE, da qual uma unidade continua em serviço activo.
O serviço de fiscalização na costa, cuja área ia de Caminha ao Cabo Mondego ou mesmo S. Pedro de Muel, era quinzenal, enquanto uma das lanchas estava baseada no porto de Leixões, realizando daí as saídas diárias para o mar, a outra permanecia amarrada às bóias do quadro dos navios de guerra, no lugar do cais do Bicalho, em Massarelos, no rio Douro, para descanso da guarnição, e enquanto no porto de Leixões não metiam piloto da barra, no rio Douro já era requisitado, talvez pela complexidade da sua barra.
Naquele ancoradouro fluvial de Massarelos suportaram imensas cheias, e em 23/02/1960, cerca das 19h30, já sob escuridão da noite, quando dois marinheiros da NRP DOURADA, através dum sistema de cabo de vaivém, tomavam e manobravam o caico para virem buscar à margem um seu camarada, a embarcação devido à impetuosidade da corrente, e um imprevisto forte estoque de água que então se formara, fez com que a pequeno bote se voltasse, projectando os dois homens nas águas revoltas, tendo os mesmos se agarrado aos cabos. Um deles a nado conseguiu alcançar terra, e resgatado por populares, e foi levado ao Hospital Geral de Santo António, tendo sobrevivido, quanto ao outro, desgraçadamente desapareceu nas águas traiçoeiras da cheia, apesar dos esforços feitos de bordo para o salvar.
Aquando das festas da cidade Invicta, o S. João do Porto, a Marinha de Guerra fazia-se representar no rio Douro, por uma ou mais unidades navais de destaque, que amarravam no lugar do cais do Terreiro, Ribeira do Porto, mas por vezes isso era-lhe impossível, e então cabia aquelas pequenas unidades essa representação, e a propósito, estou-me a recordar, que a 30/06/1948, cerca das 21h00, o meu pai, piloto da barra, foi cambar a NRP DOURADA do seu ancoradouro de Massarelos para o lugar do cais do Terreiro, ali junto à Ponte D. Luis, para que convidados do Chefe do Departamento Marítimo, e seus familiares fossem assistir ao fogo de artificio das festas da cidade, espectáculo deslumbrante, que teria lugar por volta da meia-noite, e levou-me com ele, e enquanto o meu pai tratava das manobras, o menino Rui, com os seus 11 anos, ficou-se pelo convés, junto da acanhada cozinha, situada por ré da ponte de comando, saboreando algumas guloseimas e uns refrigerantes, que o cozinheiro lhe dera, e o qual andava num rodopio coadjuvado por mais dois elementos da guarnição de faxina à cozinha, a servir os convidados, é que naquele tempo não estávamos no "triste e ridículo ano de 2011", nem existia o tribunal de contas, e nem tão pouco havia o FMI, etc, etc…..
Acabado o espectáculo do fogo de artificio, a NRP DOURADA mudou para Massarelos, a fim de desembarcar os convidados, que foram transportados para terra, pelo caíco de apoio e pela lancha dos pilotos, e eu e meu pai chegamos a casa na Foz do Douro, pelas 02h30.
A 20/03/1955, pelas 03h00, a NRP CORVINA que se encontrava fundeada na bacia do porto de Leixões, devido a um golpe de vento e alguma agitação marítima garrou, acabando por encalhar num pequeno areal, junto ao molhe Norte, tendo sido posta a flutuar, no mesmo dia pelas 15h00, auxiliada pelo rebocador MONTALTO e pela lancha RAMALHEIRA, indo acostar à doca nº 1 – norte, junto do submarino NRP NEPTUNO. Este acidente deu origem ao encalhe e perda do navio-motor VILA DO PORTO, contra o molhe Norte, mais propriamente na penedia denominada Leixão Grande, devido a um projector colocado em terra, para auxiliar os trabalhos de desencalhe da NRP CORVINA, e que fez o capitão do VILA DO PORTO se confundir com o farol do Esporão, á entrada do porto.
A 08/06/1945, estava eu na sala de aula da escola primária, ali junto à praia das Pastoras, com vista aberta para a barra do Douro, e demanda a barra uma embarcação esquisita, de cor cinzento escura, jamais vista na barra, distinguindo-se uma letra C na amura de estibordo, silvando bastante forte, mais parecia a sirene dum transatlântico. Dos alunos e professor Silva, uns diziam que era um lorde de recreio, outros um submarino ou uma canhoneira, e por aí fora, pois na verdade era a NRP CORVINA na sua primeira demanda do rio Douro, também dois anos mais tarde, entra a barra a traineira de arrasto Galega EVANGELINA, precedida pela NRP DOURADA que a deteve ao largo da costa, por se encontrar com as artes na água, dentro das doze milhas das águas territoriais Portuguesas. O piloto que conduziu a traineira foi o meu pai, e como o pescado iria ser apreendido, o "patron" fez entregar à lancha de pilotos várias cestas de pescado, e não faltou em minha casa peixe de várias espécies, e como nesse tempo não havia arcas congeladoras, a vizinhança também ficou abastecida.
Numa outra ocasião, que não tenho registo da data, mas que deve ter sido em finais da década de 40, a vedeta NRP CORVINA fez, na verdade, boa caça às traineiras Galegas, pois que, no decurso de poucos dias, aprisionara nada mais nada menos do que trinta daqueles "pesqueros", pois duma só vez capturou doze, a saber: EVANGELINA, MARIA DEL CONSUELO, OLGITA, ANTÓNIO VIEIRA, PACUCHO, SANTOÑA, ASSUNCIÓN PAZ, CARMEN, PEJERREY, MANUEL, JOSÉ BENITO PUGA, MASUL GUILÓN, cujos "patrons" ficaram a aguardar a conclusão do processo que lhes fora instaurado no Tribunal Marítimo de Leixões. Ao todo encontravam-se no porto de Leixões vinte e cinco daqueles "pesqueros", visto que cinco dos aprisionados, já haviam seguido para os seus portos de armamento, depois de liquidarem as respectivas multas.
Quanto ao destino final das seis lanchas classe NRP AZEVIA é-me inteiramente desconhecido.
A NRP CORVINA amarrada às bóias em Massarelos, rio Douro, década de 50 / F. Cabral, Porto /.
A NRP CORVINA prestando assistência às pequenas embarcações de pesca em dificuldade à entrada do porto de Leixões e que vinham acossadas pela mau tempo em 29/02/1952 / imagem do jornal O COMÉRCIO DO PORTO /.
A NRP CORVINA encalhada na bacia do porto de Leixões em 21/03/1955 / imagem do jornal O COMÉRCIO DO PORTO/.
A NRP CORVINA preparando-se para subir ao plano inclinado do porto de Leixões em 03/1955, a fim de receber reparações, devido às avarias sofridas originadas pelo encalhe / colecção F. Cabral, Porto /.
A NRP CORVINA saindo do porto de Leixões para mais uma missão de fiscalização na costa em 06/05/1960 / Rui Amaro /.
NRP DOURADA, finais da década de 40 / foto de autor desconhecido/.
A NRP DOURADA amarrada ao seu ancoradouro da doca nº 1 Sul, porto de Leixões, década de 50 / foto F. Cabral, Porto /.
A NRP DOURADA amarrada às bóias do quadro dos Vasos de Guerra, Massarelos, rio Douro, nos primeiros anos da década de 60, vendo-se o inicio da construção da Ponte da Arrábida / coleção F. Cabral, Porto /.
Fontes: Revista de Marinha, Wikipédia, Imprensa Diária, Lista Ilustrada das Unidades Navais 1955.
Rui Amaro
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3 comentários:
Por ter sido marinheiro, embarcado no NRP Brava, entre 1971/1974. convivi de perto (por vezes de braço dado, atracados na Base Naval de Lisboa) com algumas destas unidades navais da Armada. Mais tarde, entre 1974/1979, no Departamento Maritimo do Norte, ainda conheci alguns desses exemplares nauticos e outros similares. Bons tempos e belas recordações!
Eu tive o meu primeiro embarque na Azevia no ano de 1969
Depois do curso de Radiotelegrafista, fiz um requerimento para prestar serviço nas lanchas da Zona Norte de modo a ficar perto de casa.
Resultado ; transferido para as lanchas da Zona Sul
Jo Guima, em que lanchas da Zona Sul prestou serviço?
Prestei serviço em período mais atual nas lanchas do Algarve e tenho andado a investigar academicamente a fiscalização no Algarve durante o período em que prestou serviço e tenho muita dificuldade em encontrar documentação. Um relato em primeira mão seria incrível!
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