domingo, 14 de junho de 2009

ARRASTÃO BACALHOEIRO “SANTA PRINCESA” ex CHALUTIER MORUTIER “SPTIZBERG”


“SANTA PRINCESA”


O SANTA PRINCESA, vindo dos Bancos da Terra Nova e Groenlãndia. demanda o porto de Leixões na década sw 50 /(c) Foto-Mar- Leixões/.


O navio-motor bacalhoeiro da pesca de arrasto SANTA PRINCESA (A628N), Imo 5312769, 69,98m/1.188,47tb/16.995 quintais, Motor Polar Atlas, lançado ao mar em 30/03/1930 como SPITZBERG (F717) pelo estaleiro Cox & Co. (Engineers), Ltd, Falmouth, por encomenda do armador La Morue Française et Sécheries de Fécamp, Fécamp, contudo em 1935 tomou o pavilhão e as cores da Compagnie Générale de Grande Pêche, Le Havre, por sucessão.

Após ter sofrido um violento incêndio em 19/06/1936 em Le Barachois, causado por curto-circuito, que lhe destruiu a casa da máquina, ficando semi-submerso devido à enorme quantidade de água entrada a fim de se extinguir as chamas, foi posto a flutuar em 26/06/1936 e logo a seguir colocado à venda como sucata em Saint Pierre de Miquelon. Em 1939 é comprado pela Empresa de Pesca de Aveiro, Lda (EPA), e devido aos enormes danos sofridos, foi trazido para Aveiro a reboque e em 1939/40 é reconstruído pelos Estaleiros Navais de São Jacinto, Aveiro, tendo regressado à pesca de arrasto no noroeste do Atlântico como SANTA PRINCESA, porém motivado pela falta de transportes marítimos, devido à guerra, realiza algumas viagens comerciais, das quais duas a Cabo Verde para transportar sal.

Em 1949 é instalado um novo motor diesel FIAT, 12 nós. A sua última campanha do bacalhau realizou-se em 1967, tendo sido vendido para Bissau, e dado que o pagamento da compra não foi finalizado, ficou o SANTA PRINCESA imobilizado em Lisboa. A 04/1974 chegava a Bilbau para desmantelamento em sucata. Primitivamente o seu nome foi de SANTA PRINCEZA e o número oficial era B-231, tendo mais tarde o nome sido alterado para SANTA PRINCESA, possivelmente devido a novas regras ortográficas.


“SPITZBERG”


O SPITZBERG deixa o porto de Fécamp na década de 30 /(c) Cortesia de Jack Daussy-Fécamp/.



(c) Autor Jack Daussy / imagens L. Briand


Terceira unidade da série, o SPITZBERG demanda o porto de Fécamp a 21/03/1930. Ele é de todo idêntico ao SAINT-MARTIN LEGASSE e ao PRÉSIDENT HOUDUCE que, entretanto, já tinham zarpado para os pesqueiros da Terra Nova. O capital investido é importante, e o arrastão prepara-se rapidamente para se fazer ao mar a 4 de Abril seguinte, sob o comando do capitaine Lafon, que o foi buscar a Inglaterra.

Como a maior parte dos arrastões do armador La Morue Française, o SPITZBERG raramente vinha a Fécamp. Na maior parte das vezes, descarregava o produto das suas capturas em La Rochelle, onde o armador possuía uma sucursal.

Em 1933, o capitaine Jean Heuzé descarregou uma tonelagem recorde de pescado. A título de comparação, a imprensa local anunciava que ele precisaria de um comboio de 160 vagões de 10 toneladas cada para transportar o pescado do SPITZBERG. O cálculo é muito legitimo e o comboio seria efectivamente impressionante, mas também é interessante saber que á sua época o ZAZPIAKBAT, que era o maior navio à vela do armador La Morue Française, fazia campanhas de pesca anuais de 800 toneladas, que eram consideradas como muito boas capturas.

Em 1936 vislumbra-se o fim da carreira francesa daquela bela unidade de pesca. No mês de Abril, quando fainava nos bancos da Terra Nova, uma avaria do motor faz com que não consiga alcançar Saint-Pierre pelos próprios meios, pelo que é rebocado pelo JACQUES CARTIER. As reparações duram um mês, depois em Junho nova avaria, e nova escala em Saint-Pierre.

A 19 de Junho encontrava-se em Le Barachois, a equipagem tinha vindo para terra. Pela manhã, um violento incêndio deflagrou a bordo, sem dúvida provocado por um curto-circuito pegando fogo ao combustível na casa das máquinas. O sinistro tomou tais proporções que se tornou impossível combatê-lo pelos meios convencionais. Muito rapidamente se tomou a decisão de abrir as entradas de água para afundar o navio e assim extinguir o incêndio. Lentamente o arrastão submergiu e assentou no fundo do Le Barachois.

Alguns dias mais tarde os ensaios de reflutuação são tentados, mas houve necessidade chamar uma empresa canadiana da especialidade, que envia o rebocador FOUNDATION FRANKLIN; ele obtém êxito com a ajuda das suas potentes bombas e coloca o SPITZBERG a flutuar.


Páginas 115/116 da obra de Jack Daussy – Les Chalutiers Fécampois Morutiers.



O SPITZBERG naufragado devido a incêndio em Le Barachois - Sain-Pierre de Miquelon /(c) L. Briand - Colecção Jack Daussy/.


http://www.fecamp-terre-neuve.fr/LivresDiffuses/Chalutiers.html

http://www.fecamp-terre-neuve.fr/Navires/Houduce.html

http://www.fecamp-terre-neuve.fr/Navires/Zaza2.html

http://www.shipmodelco-op.com/ffpay.htm


Fontes: Association Fécamp Terre-Neuve, Jack Daussy, Léon Briand, Plimsol ship data/LR, Miramar Ship Index e Blogue dos Navios e do Mar/Luís Miguel Corrreia.

Rui Amaro

6 comentários:

Luis Filipe Morazzo disse...

Caríssimo Rui Amaro

Apreciei imenso a oportunidade que me deu em conhecer um pouco mais a história deste famoso armador francês La Morue Française et Sécheries de Fécamp, pioneiro dos grandes navios bacalhoeiros de arrasto lateral. Gostaria de lhe perguntar, como é que eu poderei fazer para adquirir a obra de Jack Daussy – “Les Chalutiers Fécampois Morutiers”? Uma vez que está esgotado.

Saudações marinheiras

Luis Filipe Morazzo

Rui Amaro disse...

Caro Filipe Morazzo
As imagens e as fotocópias das páginas 115/116 foram-me dispensadas por correio electrónico pelo autor da obra LES CHALUTIERS FÉCAMPOIS MORUTIERS. Mr. Jack Daussy, mas de acordo com a página de apresentação, a obra está esgotada, no entanto poderá tentar par o editor: Association Fécamp Terre-Neuve
(Musée des Terres Neuvas)
27, boulevard Albert 1er
76400 Fécamp
Att. Mr. Jack Daussy
Contact@fecamp-terre-neuve-fr
È tudo que posso informar
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro

Ricardo Matias disse...

EX.mo Sr:

Obrigado pelos conhecimentos que partilha connosco.

Havia umas lacunas nos meus dados, sobre este navio.
Já agora, disse-me o capitão João São Marcos, que o Ministério da Marinha não autorizou o embandeiramento em Portugal deste navio, por ter mais de 10 anos, contudo, mudou de ideias quando a guerra começou.
Na primeira viagem a St. John's, este navio e o Santa Mafalda foram apresados pelas autoridades canadianas, porque um cidadão alemão era accionista da E.P. de Aveiro. Foi necessária uma intervenção diplomática para libertar os navios.
Também me disse que os navios eram 6 e que dois deles eram para ser portugueses. Mais tarde verifiquei, que o Le Jacques Couer e o Le Dougay-Trouin da Compagnie Generale de Grand Peche, os tinha aquirido ao estaleiro Robert Thompson, falido, que tinha sido encomendados pela Bacalhau de Portugal em 1930, com o nome de Corte Real e Descobridor, respectivamente, que declarou falência antes dos navios estarem prontos, estes eram refrigerados e eram os maiores do mundo, (... o costume pobrezinhos, mas imodestos...).
Imagine-se como teria sido a pesca do bacalhau se estes navios tivessem chegado a Portugal em 1932. Seguramente teriamos ganho 20 anos. Eles vêm referenciados no 1ª Volume do Manuel Pata, pag 313.

Leio tudo, o que escreve, bem haja.

Ricardo Matias

Luis Filipe Morazzo disse...

Caro Rui Amaro

Vou tentar seguir a sua ideia. Bem haja pela total disponibilidade em querer ajudar

Saudações marinheiras

Luis Filipe Morazzo

Rui Amaro disse...

Amigo Ricardo Matias
Mais dados para a história do SANTA PRINCESA/SPITZBERG são sempre bem-vindos.
Quanto ao SANTA MAFALDA certamente está a referir-se ao SANTA JOANA, que com o seu companheiro SANTA PRINCESA em muitas das suas campanhas vinham ao rio Douro aliviar carga e aguardar melhores condições de acessibilidade na barra de Aveiro e ao ancoradouro da Gafanha.
Como as coisas são, o porto de Aveiro tem um movimento marítimo crescente e o porto do Porto acabou-se, porque assim o quiseram. Valha-nos os navios “BOX-SHAPE” que se servem do porto do Douro em trânsito para Sardoura e Várzea do Douro e agora a regata dos Rebelos nas festas do São João do Porto, além das embarcações turisticas, se bem que também parece quererem levar os navios hotéis para Leixões.Enfim!
Obrigado
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Ricardo Matias disse...

Caro, senhor, claro, que era o Santa Joana o companheiro do Santa Princesa, foi distracção.
Já agora, quando foi pedida autorização para construir um arrastão de popa, que veio a ser o Santa Isabel, foi justificado que, era para substituir o Santa Princesa.

Ricardo Matias