domingo, 27 de setembro de 2009

A BANDEIRA METÁLICA DA MARINHA MERCANTE DA ALEMANHA IMPOSTA PELAS NAÇÕES ALIADAS OCUPANTES DO SEU TERRITÓRIO – 1946/1950

A três bandeiras da Marinha Mercante da Alemanha desde 1935, sendo a do meio a metálica e designada por "Galhardete C".


A 08/08/1949 acostava ao porto de Lisboa o navio-motor LATONA, que foi o primeiro navio da nova marinha mercante Alemã a escalar portos Portugueses após a Segunda Guerra Mundial, e alguns dias mais tarde, mais propriamente a 26/08/1949, pelas 16h00, cabia a vez ao navio-motor OLBERS demandar a barra do Douro também como a primeira unidade mercante daquela nacionalidade a fazê-lo.

Seguiram-se-lhes outros navios a escalar Lisboa/Douro/Leixões, dentre eles os seguintes: ARION, BELLONA, DELIA, THESEUS, BACCHUS, NIOBE, MERKUR, VICTORIA, FERONIA, NIXE, VENUS, PYLADES, etc.

Fora aqueles dois navios da Dampfs. Ges. Neptun, Bremen, que em portos Germânicos foram dos poucos resgatados de naufrágios provocados por acção de guerra, e como acima se disse foram os primeiros a visitar portos Portugueses no pós guerra, nada mais haveria acrescentar, a não ser o motivo de ostentarem à popa a nova bandeira metálica imposta à Alemanha, após a rendição da Alemanha Nazi, nas cores azul, branco, vermelho, branco e azul, na horizontal, falha em triangulo, e que substituiu a antiga bandeira da Marinha Mercante da Alemanha Nazi, das cores vermelha, disco branco com a cruz suástica em preto e cruz de ferro à esquerda. Essa bandeira metálica estava fixada ao mastro, à borda da popa, pelo que não era içada ou hasteada e era designada por “Galhardete C”.


O LATONA largando do porto de Leixões, década de 50 /(c) Foto de F. Cabral /.


A única bandeira “Alemã” autorizada a ser hasteada a partir do Dia da Victória (08/05/1945) e 1949, quando a Republicai Federal da Alemanha (RFA) e a Republica Democrática da Alemanha (RDA) foram proclamadas, foi uma bandeira civil provisória. Era simplesmente o Galhardete “C” do Código Internacional de Sinais (CIS) tendo uma falha triangular. Esta bandeira era necessária por razões da lei internacional; as embarcações Alemãs tinham de arvorar qualquer espécie de insígnia nacional e isso foi uma solução resolvida apressadamente na hora.

Depois da Segunda Guerra Mundial os vencedores aliados decidiram-se por uma simbólica humilhação da derrotada Alemanha pela introdução do então chamado Galhardete C / C-Pennant / C-Doppelstander. Depois da bandeira da Suástica desde a capitulação de 08/05/1945 e pela lei do “Controlling Council” de 20/09/1945 (abolição do “Reichsflaggengesetz” de 15/09/1935) formalmente também, à Alemanha foi-lhe negada o uso da sua própria bandeira nacional e mercante, nem mesmo a bandeira preta-vermelha-dourada da Republica de Weimar. Em vez de uma real bandeira de todas as embarcações alemãs tinham de usar uma letra do código internacional de sinais (CIS), a correspondente à letra “C”, azul-branco-vermelho-branco-azul (que correspondia às cores nacionais de três das quatro potências vitoriosas: EUA, Reino Unido e França) na horizontal com falha triangular no extremo esvoaçante. No Artigo I, #3 da lei do “Controlling Council” nº 39 ficou explicitamente exarado:

“Esta bandeira não terá a honra de saudar navios de guerra e mercantes sejam de que nacionalidade forem”.

Caso as embarcações Alemãs não ostentem o galhardete C serão puníveis de detenção e multas (Art-IV).


O OLBERS ostentando à popa o "Galhardete C" na sua primeira viagem ao porto do Douro em 26/08/1949 /(c) foto de F. Cabral/.


Somente em 1950, as embarcações Alemãs foram autorizadas a ter a sua própria bandeira mercante, em igualdade com as outras nações marítimas, hasteando a bandeira da Republica de Weimar, cores preta, vermelha, dourado.

Relativamente ao Japão, também os EUA, como potência ocupante ordenou o uso de duas bandeiras mercantes representativas: a modificada “E” e “O”, as quais deveriam ser utilizadas pelas embarcações Japonesas até Abril de 1952.

A Lei Nº 42 da Alta Comissão Aliada retirou certas restrições para a área pela qual a lei básica aplicada desde de 14/12/1950 somente se relacionava com as águas controladas pelos Soviéticos.

A 04/03/1951, pelas 13h00, já com o novo pavilhão nacional da Republica Federal da Alemanha (RFA), demandava a barra do Douro, vindo do porto de Bremen e transportando carga diversa, o vapor GUNTHER RUSS, do armador E. Russ & Co., Hamburgo, contudo fretado à DDG Hansa, Bremen, que foi o primeiro navio em águas do Douro arvorando a nova bandeira tricolor, que tal como o OLBERS e o LATONA, eram usuais frequentadores dos portos Portugueses, anteriormente ao conflito mundial, o primeiro com carregamentos completos de carvão, e os outros dois transportando carga diversa.

Além da companhia Dampfs. Ges. Neptun, Bremen, que com o LATONA e o OLBERS, reiniciara a carreira de Portugal, também a DDG HANSA, Bremen, com os vapores em segunda mão, SONECK, STAHLECK, LANHECK e HUNDSECK, assim como a OPDR (Companhia Oldenburg) regressava com as seguintes unidades acabadas de sair de estaleiros Germânicos, OLDENBURG, LISBOA, RABAT, TENERIFE, TAZACORTE, TANGER, LAS PALMAS, RUHRORT, DUISBURG, etc. A primeira era agenciada no Porto pela firma W. Stuve & Cia. Lda. e as duas últimas pela Burmester & Cia., Lda.


O GUNTHER RUSS /(c) foto de brochura do armador /.


LATONA – 76,15m/1.026tb; 06/1937 entregue pelo estaleiro Schiffsbau Ges. Unterweser AG, Wesermunde, à Dampfs. Ges. Neptun, Bremen; 1940 convertido pela “Kriegsmarine” em navio lazareto; 1941 NAUTIC, navio escola da “Kriegsmarine”; 08/05/1945 ancorado em Kiel; 1948 reentregue Dampfs. Ges. Neptun, Bremen; 1962 chegava a Lubeck para desmantelamento em sucata. Navios gémeos CERES, JASON, LUNA, MINOS, NAJADE, THALIA e URANUS.

OLBERS – 76,6m/1.236tb; 10/1925 entregue pelo estaleiro Deutsche Werke AG, Kiel, à Dampfs. Ges Neptun, Bremen.; 19/08/1944 bombardeado e afundado por ataque da Força Aérea Aliada a Bremen; 1945 posto a flutuar e mais tarde flevado para Brake, a fim de ser carregado de munições e afundado no mar, porém os seus primitivos armadores resolveram reconstrui-lo, o que foi realizado em 1949 em Bremerhaven, tendo ficado com aspecto diferente; 1958 BARBARA B, Sardachimica Spa, Cagliari; 1963 BARBARA BOFIRRARO, mesmo armador; 1963 CARLITO, mesmo armador; 1966 CARLITO, Rino Camalich, Livorno; 1978 CARLITO, Giuseppe Ricardi, Génova; 11/1971 chegava a Vado para desmantelamento em sucata. Navios gémeos, antes das hostilidades: GAUSS e KEPLER.

GUNTHER RUSS – 64m/998tb; 10/1921 entregue pelo estaleiro Vulcan Stettiner Maschinenbau AG, Stettin, ao armador Ernst Russ & Co., Hamburgo; 1945 ocupado pelos Aliados; 1945 EMPIRE CONDORRAT, MOWT, UK; 1947 KENTON, Whitehaven Shipping Co., Whitehaven; 1950 GUNTHER RUSS, Ernst Russ & Co., Hamburgo; 1957 desmantelado em Hamburgo.

Fontes: Fotw/flags; Hubdert Jahre “Neptun” 1873/1973; Miramar Ship Index, Lloyds Register of Shipping.

Rui Amaro

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