Parece impossível, que a navegação marítima, apesar de equipada com tanta tecnologia sofisticada, GPS, radares, satélites, etc., ainda continua a ser motivo de acidentes, como o ocorrido com o porta-contentores S. GABRIEL,100,6m/4.454tb, agora encalhado nos Açores desde 21.11.2009. Ainda sem se entender como! Desatenção, cansaço do pessoal de quarto, avaria na agulha ou na máquina do leme!? Para já é prematuro dar opiniões, só o protesto de mar, elaborado pelo seu comandante, dar-nos-há a conhecer o que sucedeu. O certo é que os acidentes marítimos continuam a ocorrer, constantemente por esse mundo fora.
Ainda bem que o S. GABRIEL, lotado com tripulação qualificada (2 oficiais Alemães e a restante de nacionalidade Portuguesa) apesar de pertencer a um 2º registo Germânico, não incluía marítimos de países, cuja qualificação é deveras duvidosa, está equipado com 2x40tm grua que muito auxiliarão na baldeação dos contentores para outra embarcação de reduzido calado, que se possa prolongar com o navio sinistrado, talvez um “pontão” (batelão).
Pena foi, não se encontrar fundeado em qualquer porto Açoriano, fazendo “estação”, como até há bem poucos anos assim sucedia, um possante rebocador salvadego, o qual se teria deslocado de imediato para o local do sinistro, e muito possivelmente o S. GABRIEL já estaria de regresso às ilhas, depois de escalar Lisboa e Leixões.
Não conheço a área a onde o navio está encalhado, mas vou dar uma sugestão “idiota” para salvamento de navios na situação do S. GABRIEL, mas que já tem dado resultados positivos, pelo menos aqui no Douro e um outro caso na ilha do Sal.
Aqui na barra e no próprio rio Douro, a primeira coisa que os pilotos procediam, era espiar ferros (ancorotes dos pilotos, que os tinham em grande quantidade) ao lançante, ou estabelecer cabos de arame para os cabeços em terra, a fim do navio encalhado não descair para lugar mais critico, depois pela preia-mar, começavam a virar de bordo esses ferros ou arames e os ferros de proa do próprio navio, se os tinha lançado à água e máquina a trabalhar ao máximo, e resultava, mesmo sem rebocador. Houve casos em que estavam vários rebocadores portuários na área e nenhum deles era chamado a colaborar no desencalhe.
Os próprios salvadegos, quando se preparam para pôr a flutuar navios encalhados, por vezes têm os seus ferros ao lançante com bastante amarra, para quando começarem a puxar, vão virando os ferros, e assim ajudam a safar o navio acidentado.
Um outro caso, contou-me um parente meu, embarcado como praticante a oficial num navio da série B da Sociedade Geral, que na década de 50 encalhara na Ilha do Sal, deu de sugestão ao seu comandante, que se arranjasse embarcação, que levasse enforcados os ferros de proa o mais distante possível, e assim se procedeu, e ao preia-mar foi-se virando os ferros e máquina a trabalhar, e o navio lá se safou, sem ajuda de um dos rebocadores de alto-mar PRAIAS, que já ia de rumo a Cabo Verde, acabando por retroceder para Lisboa.
Esperemos que o tempo continue bonançoso, para que aquela excelente unidade da marinha mercante Alemã, que trafega em águas Lusas, e com tripulação maioritariamente Portuguesa, não tenha a mesma sorte do CP VALOUR e consiga safar-se o mais breve possível.
Foto da Box Lines – Navegação S.A. ©
Foto e notícia retirada do jornal CORREIO DOS AÇORES de 22.11.2009, assinada por João Paz ©
http://www.correiodosacores.net/view.php?id=25556
Rui Amaro
5 comentários:
Caro Rui, só pode ser desatenção.
Como sabes, navio regular em leixões, rota semanal e bem defenida, não encontro outra explicação.
O mais grave em tudo isto é que o navio vai perder-se sem que as nossas autoridades o consigam salvar.
Precisavamos pelo menos de três rebocadores espciais de salvamento de navios:
Um para o norte de portugal um para o centro e sul e outro para as nossas ilhas.
Mais um navio perdido á mercê de quem não se interessa pelo sector marítimo, o ESTADO.
Saudações Marítimas
José Modesto
Caro Modesto
Casos idênticos ao acidente do S. Gabriel, ocorrem por esse mundo, mesmo com tripulações bem qualificadas, das quais fazem parte as Europeias, Portuguesas incluidas. Agora faz uma pequena ideia o que sucede com as não qualificadas! È uma tragédia!
Este acidente não teve danos físicos, há pessoal que já desembarcou, outros como não podia deixar de ser permanecem a bordo. Os cavalos e mercadorias perecíveis já estão a salvo, e os seus proprietários e os das outras, possivelmente vão-se ver a braços, com o “Average Bond”, ou seja têm que contactar com as seguradoras a fim de garantirem um depósito a fixar sobre o valor da mercadoria. Está claro, muito mais tarde ser-lhes-há devolvido, pelo menos no meu tempo era mais ou menos assim.
Tratei alguns casos de navios que encalharam, se safaram mais tarde ou afundaram mesmo. Lembro de um vapor fretado à Booth Line, Liverpool, vindo do Pará e Ilhas do Amazonas, com carregamento completo de toros madeira e perto das Canárias, teve falha de máquina e água aberta, e já depois de vir para Leixões rebocado por outro vapor da frota do fretador, acabou por afundar. Este caso foi nos anos 60, pois os importadores, eram vários, tiveram que depositar verbas astronómicas ou entregar uma garantia bancária, eu vi-me à “rasquinha” para eles perceberem as clausulas contratuais exaradas nos Bs/l, mas acabaram por se entender com as suas seguradoras e fizeram os respectivos depósitos, que só passado cerca de dois anos foram devolvidos.
Quanto ao encalhe ocorrido de madrugada, tripulação a descansar, salvo para aí dois elementos de “quarto”, estranhamente o navio continua com os ferros em cima, pois esses ferros deveriam ter sido lançados à água muito antes do encalhe, a ondulação certamente não era de perigar, e o navio ficava fundeado e deixava de correr para a costa, e consta que o pedido de socorro só foi lançado depois do encalhe. Isto diz tudo!
Década 70, datas diferentes, por fora molhe Norte de Leixões encalharam dois porta-contentores saídos de Leixões, óptima visibilidade, desembarcados os pilotos, marcado rumo, e o pessoal foi almoçar, mesmo os de “quarto”, e por qualquer motivo os navios rodaram para Leste, e por mais chamadas de atenção, que os pilotos, radar fizessem, só estancaram com a proa nos blocos do Molhe Norte, felizmente safaram-se e sem avarias de maior!
Isto é assim, de noite, dois tripulantes de “quarto” na ponte, um diz para o outro, está tudo em ordem, vamos tomar café, ou fica um na ponte e adormece e lá vai o navio, por terra dentro ou meter outro no fundo, ou quando fundeado a aguardar piloto em ocasiões de mau tempo, garra até varar num areal ou espatifar-se nas pedras da costa. Fiam-se nos automáticos! Caro Modesto é isto e nada mais.
No Norte há os rebocadores da APDL, embora portuários, são de boa potência, caso de maior necessidade aparecem aí os rebocadores alto-mar da Remolcanosa, como o RIA DE VIGO (10.000cv/120tração), vindos de Vigo.
Antigamente quer na Galiza, Leixões, Lisboa, Gibraltar e nos Açores, haviam sempre salvadegos de companhias estrangeiras, particularmente Holandesas, Alemãs, Dinamarquesas, Suecas, Norueguesas e também Portuguesas, que faziam “estação” e ao primeiro pedido de socorro, avançavam de imediato, e muitos navios e tripulações foram salvos graças a esses rebocadores, apelidados de “raposas do mar”, e alguns ficaram famosos como o SEEFALKE, VALKYRIEN e ZWAARTE ZEE.
Estou convencido, se a agitação marítima não se deteriorar, depois de retirados o combustível e os contentores, e para tal facilitará as duas gruas com que o navio está equipado, e com o rebocador Holandês MISTRAL, 2X1.100cv motores, 31tons tracção, já a caminho do naufrágio, o S. GABRIEL voltará a Leixões.
Usualmente a condições de contrato armador/salvador é “no cure, no pay” ou seja não salva, não paga.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro
Tudo indica que o navio seguia sózinho sem ninguém na ponte, não há outra explicação para um disparate destes...
Caro Luis
Estou inteiramente de acordo, ou então se estava alguém na ponte, o cansaço ou o sono foi mais forte.
Alguns dos naufrágios por encalhe, mais recentes aqui junto ao Douro/Leixões, aparentemente foram por motivos identicos.Alguns encontravam-se fundeados ao largo ou junto à costa, só que não fizeram marcações em terra, como os pilotos da barra o faziam, e em poucos minutos os navios estavam na praia ou nas pedras.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro
O S.GABRIEL já está a salvo no porto de Ponta Delgada.
Custava-me a crer que o navio não se safasse com a ajuda dos dois rebocadores portuários locais chamados pela Comapnhia TITAN.
Ainda bem!
Parabéns a todas as entidades envolvidas.
Rui Amaro
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