DEVONIA / B & I edição /.
O PAQUETE "DEVONIA" NO PORTO DE LEIXÕES
A 30/10/1967, a cidade do Porto foi visitada por umas boas centenas de jovens vindos de Inglaterra, mais concretamente da cidade de Liverpool, donde partiram a bordo do paquete Inglês DEVONIA no dia 20 daquele mês.
Aquele inesperado afluxo turístico de Outono foi autêntica surpresa para os Portuenses, como foi, por certo, para os responsáveis pelas "Festas de Outono", que pela primeira vez tiveram lugar naquele ano, sob o signo do vinho… E bem pena foi.
Como quer que fosse, as simpáticas Inglesinhas, e seus pares, alunos de vários colégios da referida cidade Inglesa, não se perderam, quando em pequenos grupos palmilharam as artérias centrais do velho burgo, transmitindo-lhe, até com a sua comunicabilidade, bem aproveitada, como sempre por colegas de ocasião, descontracção e alegria, um ambiente mais alegre, um outro cariz em flagrante contraste com o estado do tempo, a fazer esquecer o Verão de São Martinho, que o pretérito domingo parecia querer anunciar.
Apesar de curta, a estadia da numerosa comitiva estudantil Britânica – oitocentos e um alunos, incluindo já os professores, números exactos – foi suficiente para deixar os nossos visitantes com uma ideia aproximada da vida, aspectos e paisagem da cidade e arredores, para o que muito contribuiu o bom elaborado passeio que a Agência Abreu, de colaboração com a firma Wall & Co., Ltd., agência consignatária do DEVONIA, lhes proporcionou. È claro que a visita em pormenor aos monumentos teve de ser posta de parte. Uma pequena paragem aqui e acolá, com uma ligeira prelecção de carácter histórico, e não se passou disso.
Só nas casas de Vinho do Porto a visita foi mais demorada e teve mesmo tempo de se estender a várias caves.
Só nas casas de Vinho do Porto a visita foi mais demorada e teve mesmo tempo de se estender a várias caves.
Um grupo de simpáticas estudantes do DEVONIA, junto do monumento da Menina da Avenida, Avenida dos Aliados, da cidade do Porto / Jornal O Comércio do Porto /.
O paquete DEVONIA atracou na doca nº 1 de Leixões, lado norte, pelas 08h30 aproximadamente. Feito o desembarque de todos os passageiros, incluindo 163 turistas que vinham integrados nesta viagem cruzeiro, que escalara os portos de Bordéus, Tanger e Cádis, um primeiro grupo de estudantes tomou lugar em doze autocarros para a visita à cidade, sucedendo mesmo da parte de tarde com os restantes membros da embaixada estudantil Britânica e que tinham tido a manhã livre.
Espalhados pelas principais artérias da cidade viam-se funcionários da casa Wall & Co., Ltd., munidos de "crachás" da companhia British India, para prestarem toda a assistência que lhes fosse solicitada pelos muitos alunos e seus professores que em grupos percorriam a cidade Invicta.
À noite, foi oferecido aos jovens estudantes Ingleses, todos eles de vestes simples, embora com o predomínio da mini-saia, nas moças, um espectáculo de sabor regional.
O DEVONIA largou de Leixões na manhã seguinte, de rumo a Liverpool.
Outras unidades da B.I. que também chegaram a realizar este tipo de cruzeiros foram o UGANDA e o NEVASA, e que escalavam Leixões e Lisboa regularmente.
O PAQUETE "DUNERA" NO PORTO DE LISBOA
O DUNERA atracado na doca nº 1 do porto de Leixões em 30/10/1967 / Rui Amaro /.
Finais de 11/1967, após trinta anos de serviço, acabara de ser vendido a sucateiros de Bilbau, o paquete Inglês DUNERA, precursor, na Grã-Bretanha, das "Universidades Flutuantes", o qual fora construído para British India Steam Navigation Co. (B.I.), pelo estaleiro Barclay Curle & Co, de Glasgow, para transporte de tropas, e lançado à água em 05/1937.
Até 01/1961, este paquete Inglês transportou centenas de milhares de militares e suas famílias, de e para diferentes portos no ultramar, para quase todos os teatros de operações da Segunda Guerra Mundial, na Europa, no Mediterrâneo, no Médio Oriente, em Bruma, na Malásia, na Coreia, em Chipre, em Hong Kong, etc.
Foi mais tarde adaptado para cruzeiros de estudo, iniciando em 21/04/1961 a segunda carreira da sua missão, quando como navio-escola pedagógico, partiu de Greenock com mais de 800 alunos de escolas Escocesas, numa excursão educativa até à Espanha, Gibraltar e Portugal. Essa excursão, de resto, realçou o conceito com que a B.I. engrandeceu os estudos educativos, transferidos das escolas até aos países estrangeiros, de maneira a incutir nos estudantes o interesse pelo estudo da geografia, história, arte, arquitectura, agricultura e os usos e costumes dos povos – em suma, um estudo prático em vez de teórico.
Estudantes desembarcando do DUNERA no porto de Lisboa em 11/11/1967 / Boletim do Porto de Lisboa /.
O êxito extraordinário que esta iniciativa encontrara nos meios escolares do seu país levou à adopção de outras unidades para cruzeiros de estudos e assim o facto de o DUNERA ter dito adeus aos mares não impediu que centenas de jovens estudantes Ingleses pudessem continuar a conhecer o Mundo. E tanto assim é que naquele período, no porto de Lisboa, além da presença deste registara-se a presença de mais dois paquetes com as mesmas características como é o caso do DEVONIA e do RYNDAM, este último de bandeira Holandesa, cujos passageiros num total de 600, eram todos estudantes e professores do Chapman College, de Orange, Califórnia.
Desde 1967 o DUNERA já realizara 122 excursões desta natureza, transportando para cima de noventa mil crianças e adultos, pelos portos da Europa, da África Ocidental, dos mares do Norte e da Ásia Menor.
Na sua derradeira viagem, que iniciou na baia de Weymorth, no Dorset, no dia 17/10/1967, para o seu último cruzeiro pedagógico, trouxe 800 alunos do Dorset do Sul e 75 dos seus professores, além da dedicação de milhares de outras crianças Inglesas para que o navio fora o seu lar em muitos portos estrangeiros.
Foi particularmente significativa a despedida do porto de Lisboa daquele navio-escola. Com efeito, cerca das 20 horas de 11/11/1967, antes da partida do DUNERA, os oficiais e estudantes do DEVONIA, que como já foi referido também estivera atracado na mesma ocasião em Alcântara, fizeram-lhe, às 19 horas, uma "despedida", cujos moldes, inéditos entre nós, despertaram a curiosidade de quantos se encontravam no cais da Gare Marítima de Alcântara, aquela hora: cantares e dançares em pleno cais, com adeus de despedida.
O DEVONIA e o DUNERA atracados na Gare Marítima de Alcântara, porto de Lisboa , 11/11/1967 / Boletim do Porto de Lisboa /.
DEVONIA – imo 1166272/ 157,55m/ 12.773tb/ 2 hélices/ 16 nós; 07/1939 entregue pelo estaleiro Fairfield Shipbuilding & Engineering Co., Ltd, Glasgow, como transporte militar HMT DEVONSHIRE à Bibby Line Ltd., Liverpool; 11/08/1939 largou de Southampton só regressando passado 4,5 anos, As suas tarefas sob gestão da Royal Auxiliary Fleet transportando militares levou-o a Marselha, Nápoles, Tripoli, Dakar, Durban, Bassorá, Bombaim, Singapura e Fremantle; 1942 foi equipado com lanchas de desembarque, e como unidade de desembarque de infantaria tomou parte nas operações do assalto a Salerno, assim como no célebre desembarque das tropas Aliadas nas costas da Bretanha, que ficou conhecido pelo "D-DAY". Serviu também na campanha da Malásia, e já nos pós-guerra no teatro de guerra da Coreia; 25/01/1954 retomou o serviço de tropas no Extremo-Oriente a partir de Liverpool e em 1957 desde Southampton; 1957 terminou o fretamento ao Ministério do Transportes Britânicos tendo sido entregue ao seu armador a Bibby Line, Ltd.;1962 DEVONIA, British India Steam Navigation Co., Ltd, Londres, tendo sido convertido em navio de cruzeiro pedagógico pelo estaleiro Barclay, Curle & Co., Ltd., Glasgow, com uma capacidade de acomodação de 194 passageiros e 834 crianças, e entrou ao serviço pela Páscoa juntando-se ao um pouco similar DUNERA, que tinha inaugurado o serviço no ano anterior; A sua nova carreira levou-o a visitar um enorme numero de portos da Península, do Mediterrâneo e do Báltico: 15/12/1967 chegava ao Cantieri Navale Santa Maria, Génova, para desmantelamento em sucata, acabando por ser transferido para La Spezia, tendo sido substituído pelo UGANDA.
DUNERA – Imo 5509482/ 157,53m/ 12.620tb/ 2 hélices/ 17 nós; 28/08/1937 entregue por Barclay, Curle & Co., Glasgow, à British India Steam Navigation Co., Ltd., Liverpool, como transporte de tropas HMT DUNERA, e anteriormente à 2ª Guerra Mundial foi utilizado ocasionalmente em cruzeiros às capitais Nórdicas, durante os meses de Verão; 1940 transportou tropas Australianas e Nova Zelandesas para o Suez; 1942 participou na invasão de Madagáscar; 1943 colaborou nos desembarques da Sicília; 1944 transportou o pessoal do quartel-general do 7º exército dos E.U.A. para o desembarque perto de Cannes, sul de França; 1945, depois da guerra, continuou nas operações de transporte de tropas da Malásia; 1950/51 serviu no teatro de guerra da Coreia; 1956 foi envolvido na crise do Suez devido à nacionalização do respectivo canal; 1961 deixou o serviço de transportes de tropas, sendo substituído pelos novos navios OXFORDSHIRE e NEVASA, e pelo transporte aéreo; 13/12/1961 DUNERA, convertido pelos estaleiros Palmers Shipbuilding and Iron Company, de Hebburn-on-Tyne em navio de cruzeiro pedagógico e o seu casco foi pintado da cor branca; 11/1967 chegava a Bilbau para desmantelamento em sucata.
Fontes: Jornal O Comércio do Porto; Boletim do Porto de Lisboa; Clidesite.Co.UK; Photoship Co. UK; Miramar Ship Index.
Rui Amaro
ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s) em NAVIOS Á VISTA, o que muito se agradece.
ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on NAVIOS Á VISTA, which will be very much appreciated.
4 comentários:
Recordo-me não dos navios mencionados, mas do Nevasa e Uganda que frequentavam o Porto do Funchal na década de 70, a grande moda da mini-saia imperava, e as estudantes inglesas vestiam as mesmas, exibindo bonitas pernas, os jovens madeirenses ficavam excitados, e algumas estudantes engravidaram na Madeira.
Amigo Farinha
Pois pela Invicta não houve conhecimento de "maldades" dos Portuguesinhos às "inocentes Inglesinhas da mini-saia", dado que além do pessoal da casa Wall & Co. espalhados pela cidade, a policia andava atenta, se bem que também confraternizavam com a estudantada local.
Na escala do DEVONIA em Leixões recordo-me que o tempo estava agreste, nada conveniente para as pernas das "teens".
Muitos "young boys", devido a terem participado nos cruzeiros da B.I., seguiram a sua carreira na Merchant Navy.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro
Caro Rui,
Já de regresso, aproveito para te lembrar ter subido a pulso as escadas quebra-costas destas preciosidades, a fervilhar de muita juventude. Foi um período inesquecível, pelo que a evocação dessa época vem carregada de saudades. Bons tempos...
Um grande abraço,
Reinaldo
Ahoy Reinaldo
Pois folgo em saber que já estás na Invicta, e há que ir enfrente porque a vida continua e avança com mais postagens deliciantes.
Aquela juventude dava um colorido interessante às três urbes, e depois vieram o UGANDA e o NEVASA, aquele da chaminé gigantesca. Se calhar também os atendeste!?
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro
Enviar um comentário