Vapores houveram, que quando era anunciada a sua vinda ao porto do Douro ou ao de Viana do Castelo, por coincidência ou não, eles eram o prenuncio de chuva, pois por vezes, enquanto permaneciam naqueles dois portos, a chuva aparecia nem que fosse para umas ligeiras molhadelas.
Esses vapores eram o português IBO no Douro e o espanhol SANTIRSO em Viana do Castelo, pelo que era vulgar ouvirem-se os seguintes ditos: - O vapor IBO já deve estar na Ribeira do Porto, ou no caso de Viana do Castelo, o vapor SANTIRSO já está na doca. Ditos esses, que ainda hoje, passados tantos anos, as pessoas desses tempos continuam a dizê-lo, quando chove, pelo menos no Porto.
É, que até em pleno Verão, uma ou outra vez sucedia, o tempo toldava-se de algumas nuvens e quanto mais não fosse, uns pingos de chuva caíam.
O vulgo enraizou o “slogan” e atribuía àqueles dois vapores mercantes a causa dos aguaceiros quando, na realidade se tratava de pura coincidência.
O IBO, esse sim, devido às fortes chuvadas, suportou algumas cheias no rio Douro, ao ponto dos pilotos da barra o terem de cambar para ancoradouro mais seguro, a fim de não ser levado barra fora pelas águas de cima provocadas por essas chuvadas e houve cheias, que a tripulação chegou mesmo a abandoná-lo, vindo para terra pelo cabo de vaivém.
O SANTIRSO registava uma particularidade interessante, o seu capitão Sr. Ignácio M. Garcia, experimentado “homem do mar” conhecia a barra do rio Lima, como os dedos das suas mãos. Acontecia quando a barra estava difícil, devido ao mau tempo e mar, e como tal a embarcação dos pilotos, estava impedida de cruzar a barra para lhe levar o pratico, ele depois de autorizado via rádio pelo piloto-mor, fazia-se à barra ao Sinal, então a lancha de pilotar, colocava-se dentro daquela perigosa barra e ele aí vinha porto dentro debaixo de mar, como se na ponte, a seu lado viesse o pratico de serviço ao seu navio.
È que naquela barra não existia a alternativa, que a barra do Douro, felizmente possuía. Havia a curta distancia o porto de Leixões, por onde os pilotos do Douro se serviam para embarcar ou serem recolhidos, fora ou dentro do porto, e ainda anteriormente à construção daquele porto artificial, o portinho de Carreiros, no litoral da Foz, que também serviu de apoio aos pilotos, se bem que num certo dia de mar por volta de 1947, o vapor português MIRA TERRA da Sociedade Geral, para não perder a maré, demandou a barra ao Sinal, que constava do seguinte: O vapor era chamado à barra através de sinais de bandeiras do C.I.S. e o seu capitão concordando, o piloto-mor fazia içar no mastro do cais do Marégrafo-Pilotos e no do Castelo da Foz, o grupo de galhardetes condizente com o calado do vapor e de bordo da lancha, colocada junto da bóia da barra, com uma vara tendo no topo o galhardete, representativo da Corporação de Pilotos que, nesse tempo, era de cor branca debruada a azul, tendo no centro a letra P em azul, o piloto de escala dava instruções para bordo, fazendo ficar a vara na vertical para meter leme a meio, movendo à direita para rodar leme para estibordo e para meter leme a bombordo, vara caída à esquerda.
Resta acrescentar, que naqueles anos as embarcações dos pilotos, ainda não estavam equipadas com radiotelefonia, contudo os pilotos de Leixões possuíam esse meio de comunicação instalado no Torreão do Castelo de Leça, que pertencera ao COMANDANTE AFONSO DE CARVALHO, rebocador da respectiva corporação, o qual fora vendido para mais serviço em 1941 e os pilotos de Viana do Castelo, possuíam idêntico equipamento na sua estação, que era a Torre de Vigia, julgo já na década de 50.
Vapor IBO, 65m/853tb, lançado em 11/1907 por Sir Raylton Dixon & Co. Ltd., Middlesborough, para a Empreza Nacional de Navegação, Lisboa, desde 1918 Companhia Nacional de Navegação Sarl, para o seu serviço de carga e passageiros da costa de Moçambique. Regressado a Lisboa em 1922 foi colocado no tráfego costeiro nacional; 1940 ALPHA, Empresa Luso-Marroquina, Lda.,Lisboa; 15/07/1940 em viagem Lisboa/Liverpool com um carregamento de bananas, foi atacado com bombas e balas de metralhadora por oito aviões Germânicos, perto de Brest, apesar dos seus evidentes sinais de navio neutro, acabando por se afundar. A sua tripulação foi recolhida por uma embarcação de pesca Francesa e só regressou a Portugal, passado bastante tempo, devido à situação de guerra. Navio-gémeo: AMBRIZ.
Vapor SANTIRSO. 70m/847tb, entregue 05/1920 por Astilleros de Gijon, Gijon, como SANTIRSO, a Joaquin Davila Ramon, Vigo; 1939 JULIA, mesmo armador; 1948 SANTIRSO, Cia. Naviera Gijonesa SA., Gijon; 1963 Naviera del Nalon SA, Gijon; 26/04/1963 naufragou por colisão com o navio-motor holandês SPOLANDA, 61,54m/499tb, perto do Cabo de São Vicente.
Fontes: Imprensa diária e Miramar Ship Índex.
Rui Amaro
Caixa do diário « O COMÉRCIO DO PORTO »
SANTIRSO NA DOCA, CHUVA A CANTAROS
Quando o vapor Espanhol SANTIRSO entra na barra de Viana do Castelo, tem de chover pela certa, segundo a crença dos Vianenses….
Pode estar o tempo mais lindo do mundo, entrando o SANTIRSO, chove pela certa!
O caso é este: desde há anos que vem a este porto carregar toros de pinho, o vapor espanhol SANTIRSO. É um barco cuja fisionomia se tornou desde há muito tempo simpática para a gente de Viana; capitão e tripulação têm amigos em Viana, e o barco «já entra a própria barra sem piloto». Mas acontece uma coisa engraçada com o navio, um facto sobejamente constatado e conhecido de toda a gente na área do porto: quando o SANTIRSO entrar chove imediatamente. E deu-se o caso na Sexta-feira passada: o dia esteve lindíssimo, a tarde continuou até ao anoitecer, de sol brilhante. As donas de casa saíram para as compras, com roupas leves, sem «sonharem» o que ia acontecer, quer sem lhes passar pela lembrança que o SANTIRSO, tinha entrado. Porque o barco entrou de tarde, com bom tempo, é claro; mas mal agarrou os cabos a terra, o tempo toldou-se e, dentro de meia-hora, a chuva caía torrencialmente…
Na Ribeira, pouco depois do meio-dia, já se ouvira: «Ó Rosa, anda com essa roupa depressa, olha que vai entrar o SANTIRSO»! Toda a gente sabe: SANTIRSO na doca chuva a cântaros. Agora é cada um inteirar-se junto do despachante e fazer os seus cálculos. Conseguir-se que o barco não venha nos fins-de-semana para não estragar passeios e excursões. Que a verdade é esta: há mais de cinco anos, que quando o SANTIRSO chega a Viana, começa a chover.
Porque será!?
6 comentários:
Com que então os navios traziam z chuva...
Muito bem!
Comprovo o belo texto com história verídica que publicou. O velho chefe Agostinho assim me contou essa e outras histórias da barra de Viana quando aqui vim parar(já lá vão 27 anos) "desterrado", como me dizia um colega de Lisboa, o Viegas de Carvalho.
Amigo Martins
Obrigado pelo comentário elogioso e já sgora à fslts de foto, que está dificil de encontrar, aí vai um desenho apressado, mais ao menos parecido com um dos "vapores da chuva", o SANTIRSO, que cheguei a conhecer aqui no Douro/Leixões.
Saudações maritimo.entusiáticas
Rui Amaro
Lembro-me perfeitamente da coincidência... da chuva e do Santirso.Já lá vai tanto tempo...o próprio casco do navio era negro ou assim o imagino:gostava de ter uma foto dele
Caro Anónimo
Neste mesmo blogue no meu trabalho
intitulado RECUEMOS AO ANO DE 1954 - ALGO DE NOVO NO PORTO COMERCIAL DE VIANA DO CASTELO há uma foto do vapor SANTIRSO, cujo autor é a Foto Mar, de Matosinhos.
Saudações marítimo entusiásticas
Rui Amaro
Caro Anónimo
Neste mesmo blogue no meu trabalho
intitulado RECUEMOS AO ANO DE 1954 - ALGO DE NOVO NO PORTO COMERCIAL DE VIANA DO CASTELO há uma foto do vapor SANTIRSO, cujo autor é a Foto Mar, de Matosinhos.
Saudações marítimo entusiásticas
Rui Amaro
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