terça-feira, 22 de abril de 2008

RECORDANDO O ENCALHE DO NAVIO-MOTOR "CARAMULO" NA BARRA DO PORTO DE VIANA DO CASTELO


O navio-motor "Caramulo" saindo a barra do Douro em 23/11/1968 /(c)Foto do autor do Blogue/.

Já não tenho nos meus registos nem me recordo da data exacta, sei apenas que o lamentável episódio se deu entre os anos de 1955 e 1965.
Procedente do porto de Setúbal, com um carregamento completo de sal para abastecimento dos mercados da região do Alto Minho, rumava ao porto de Viana do Castelo com tempo bonançoso, o navio-motor Português Caramulo, registado na capitania do porto de Aveiro. Comandava-o o capitão Rosário, que tinha sob as suas ordens uma equipagem de oito homens. A viagem tinha decorrido sem qualquer percalço, e o Caramulo estava à barra daquele porto minhoto, pouco passava das 18 horas.
Após o seu capitão ter pedido a assistência do respectivo prático da barra e verificado, que o calado de água do navio era de 12 pés, nada impeditivo para a passagem do canal de navegabilidade sem incidentes, o piloto fez o navio demandar a barra, a fim de ir acostar à muralha da doca de flutuação, contudo quando a transpunha, o leme, por qualquer avaria ficou trancado a estibordo, deixando de obedecer ao comando e o Caramulo, sem que fosse possível evitá-lo, foi de guinada e encalhou a norte do canal, mesmo diante da Torre do Bugio e ali se manteve até perto da meia-noite. Pouco depois daquela hora, o rebocador Rio Vez da JAPN, auxiliado pela maré, que entretanto já havia subido bastante, conseguiu safar o navio sinistrado, rebocando-o para a referida doca de flutuação, onde ficou atracado a fim de proceder às operações de descarga.
Todas as manobras de desencalhe, além do piloto da barra, foram orientadas pelo piloto-mor da Corporação de Pilotos do porto de Viana do Castelo, Sr. Jorge Teixeira dos Santos.
Note-se, que aquela barra nortenha não se comparava em nada com a actual, assoreava com bastante regularidade, além de alguma perigosa penedia submersa, que criava dificuldades a uma boa navegação.
O Caramulo. 46m/340tb, fora construído em 1946 pelos Estaleiros Navais de São Jacinto, Aveiro, tendo sido a sua a primeira construção metálica, por encomenda da Empresa de Navegação Continental, Lda., Aveiro. Gémeo do Nereus, mais tarde construído pelos mesmos estaleiros para os armadores Bagão, Nunes & Machado, Lda., Lisboa.
Embora empregado no tráfego costeiro nacional, também esporadicamente escalava portos de Marrocos, além de rumar ao Noroeste do Atlântico, a fim de carregar em portos da Terra Nova e da Groenlândia, bacalhau curado para o Porto e ainda realizou viagens de carreira regular ao Mediterrâneo, particularmente a portos Espanhóis, Franceses e Italianos, juntamente com o Nereus.
Vendido a interesses gregos para mais serviço, teve os seguintes nomes: 1970 Pioneer; 1970 Lara; 1979 Radino, A. Myrianthous, Chipre; 1992 sem registos, possivelmente vendido a sucateiros nesse mesmo ano.

Fonte: Imprensa diária

Rui Amaro

PS - Caso alguém me possa indicar a data exacta e disponibilizar uma foto do encalhe, ficarei muito grato.

2 comentários:

Luis Filipe Morazzo disse...

Caro Sr. Rui Amaro

Sou mais um dos muitos entusiastas do seu magnífico bloge. Nele tenho podido rever navios que, nas décadas de 60 e 70, com os binóculos do meu pai em punho, não me cansava de os ver passar ao largo de Paço d`Arcos, local onde eu passei toda a minha infância, e do qual eu ainda guardo belas recordações.
Obrigado e não pare de nos mostrar essa sua belíssima colecção de navios.

Nota: Em relação ao acidente em que o “Caramulo” esteve envolvido, desconheço totalmente os seus contornos. Quanto ao “Nereus” sei que encalhou na costa Marroquina, perto de Larache, em 8.12.64, onde costumava ir carregar fosfatos. Sendo salvo alguns dias mais tarde, por um dos rebocadores de alto-mar que a S.G. possuía na altura, o “Cintra” ou o “Praia da Adraga”.

Saudações Marinheiras

Luis Filipe Morazzo

Rui Amaro disse...

Caro Amigo Luis Filipe Morazzo

Imensamente grato pelo seu comentário e pela informação do
encalhe do “Nereus” perto de Larache, já agora posso-lhe dizer
que o mesmo a 15/01/1951, quando em passagem de St. John’s,NF,
para Lisboa, esteve em dificuldades devido a um ciclone, recebendo
a assistência de um salvadego holandês.
No caso dos binóculos, olhe que eu não lhe fiquei atrás, pois de casa
de meu Avô, aqui na Foz do Douro, a uns 100 metros do mar, de
tanto os utilizar para ver os navios que se começavam a
vislumbrar na linha do horizonte (Navios à Vista), em poucos
anos lá se foram os binóculos. Felizmente o Avô comprou outros.
No site Ships Nolstalgia (Rui Amaro) já postei mais de 600 imagens
de embarcações de todo o tipo com o respectivo historial,
minhas e de outros “shiplovers” aqui do Porto, que o Amigo poderá ver.
Estou a preparar para postar, ainda hoje, no meu Blogue um texto
sobre o encalhe do Sadino a sul da barra de Viana do Castelo em
Julho de 1970, que será de certo interesse.
Tudo pelo melhor
Saudações Marinheiras
Rui Amaro