quinta-feira, 30 de abril de 2009

EMBARCAÇÃO DE PESCA CONSTRUIDA NA HOLANDA COM EXCESSIVOS ERROS TÉCNICOS CORRIGIDOS COM ENORME SUCESSO EM PORTUGAL

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A imgem superior mostra o PARGO com enormissmos erros de construção do estaleiro holandês e a inferior já devidamente corrigidos após reconstrução nos estaleiros da Companhia União Fabril, Rocha, Lisboa.

Inicio da década de 60, século XX, num documentário exibido em vários cinemas de Lisboa mostrava-se como acontecimento notável de construção naval a obra de um estaleiro do Canadá que consistiu no corte de um navio segundo um plano vertical, para seu alongamento e atribuição de melhores características. Pois trabalho mais original e amplo foi executado, há anos no nosso País, nos estaleiros da Companhia União Fabril, Lisboa. Uma companhia de pesca portuguesa encomendara dois arrastões ao estaleiro holandês Foxhol N.V. Scheepswerf, Foxhol. Mas os navios foram projectados e construídos de tal maneira que, ao fim, não poderiam navegar por falta de estabilidade e de navegabilidade. O lastro a colocar era tanto em relação à tonelagem que os navios não tinham exploração possível. Além disso, os barcos não serviam nem para pescar à linha…
Um dos arrastões estava em Portugal, imobilizado há alguns anos na Figueira da Foz. O outro ficara na Holanda. Empreendeu-se então, no estaleiro português, um interessante trabalho de conversão daquele mostrengo em coisa útil. Uma das gravuras mostra o PARGO com as formas absurdas que trouxe da Holanda. Cortado segundo um “plano horizontal” o seu convés subiu meio metro. Depois, o navio foi à doca seca e aí, cortado segundo um plano vertical, foram as duas partes afastadas de 3,20m. Para isso a cábrea da A.G.P.L., suspendeu a parte da proa que, ao mesmo tempo, era puxada por aparelhos. Criou-se um vazio entre as duas partes, que foi preenchido. À saída da doca o arrastão, já apresentava outra silhueta.
A evolução “operatória” e “pós-operatória” do navio é testemunhada nas fotos postadas. Entretanto, em face dos danos, sofridos de maneira tão… invulgar… por uma entidade portuguesa, o governo decretara em 1953 o embargo à encomenda de navios na Holanda, situação que se manteve por muito anos. Sem o competente e perfeito trabalho efectuado no estaleiro da C.U.F., o PARGO teria sido um belo fenómeno transformado em sucata. Mas o jornal do cinema não registara, em documentário, o original esforço da indústria portuguesa, como sucedeu com a obra canadiana. Eis uma falha da nossa propaganda.
Por fim, o navio com superstruturas de alumínio e airoso ficou como se vê numa das fotos. E lá andou na faina da pesca do Cabo Branco, a ganhar a vida, em constante labuta. O outro barco, o GORAZ, que ficara na Holanda e estava pago pelo armador português quase integralmente, foi roubado e vendido – exportado – pelos holandeses, com um “permis” do respectivo governo de então. Até as máquinas compradas pela companhia portuguesa, directamente nas fábricas e entregues à fiel guarda dos holandeses, para serem convenientemente montadas, foram transformadas, depois em florins, por apropriação ilegítima.
Após a total reconstrução, a entrega do navio à empresa armadora, efectuou-se numa cerimónia a que assistiram várias entidades, entre as quais o Cmte. Henrique Tenreiro, delegado do governo nos organismos corporativos das pescas; Engºs Vasco de Melo, João Rocheta e Fernando Alves do Estaleiro Naval da C.U.F.; e Eduardo Scarlatti, Dr. Lopes da Coata e Manuel Águia de Pina da empresa armadora. O Rev. Dr. Gustavo de Almeida, prior de S. Nicolau, procedeu à bênção de uma placa colocada no renovado navio.
O arrastão PARGO, 34,73m/185,11tb; 1948 entregue pelo estaleiro Foxhol-N.V. Scheepswerf, Foxhol, Holanda, para Arrasto-Companhia de Pesca do Centro de Portugal, Lisboa; 1955 reconstruído e alongado pelo estaleiro da Companhia União Fabril, Rocha, Lisboa; 1956 registado na capitania do porto de Lisboa; 1990 ainda se encontrava registado; história subsequente desconhecida.

Imagens da reconstrução e da benção do PARGO

Fonte e imagens: Revista Flama
Rui Amaro