segunda-feira, 12 de outubro de 2009

NAVIO MISTÉRIO – 2ª parte




De acordo com o parecer do colega Reinaldo, autor do Blogue NAVIOS E NAVEGADORES, o qual após aturada pesquisa e comparação, chegou à conclusão que o NAVIO MISTÉRIO amarrado no rio Douro, que se mostra na foto do quadro recuperado do espólio documental e fotográfico da Empresa de Pesca de Viana, aquando da sua dissolução, será o lugre mercante de quatro mastros com motor auxiliar LUSITANIA, salvo melhor opinião.

Lugre LUSITANIA l

Armador: Empresa de Construções Navais, Lda., Lisboa

1919 – 1922

Construtor: J. F. Pereira, Viana do Castelo, 27/07/1919

(Estaleiros da Praia Norte, sitos junto à estação de Socorros a Náufragos, pertencente à Empresa de Construções Navais., Lda., sendo gerente o Eng.º José Francisco Pereira. No ano de 1919 o estaleiro teve uma encomenda de 5 navios, 3 lugres e 2 vapores, sendo as construções orientadas pelos mestres João Gonçalves Pinto “o Calafate” e Bernardino Santos).


Modelo do LUSITANIA /(c) catálogo da exposição VIANA, TERRA DE MAR, organizada pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Janeiro 1972/.


(O LUSITANIA depois de deslizar sobre a carreira, ao entrar de popa na água, ficou encravado devido a um cachorro* se ter enterrado na areia e impedir que o navio alcançasse a profundidade precisa para flutuar – Conforme noticia do jornal “A Aurora do Lima”, 1919).

O navio inicialmente baptizado com o nome LUSITANIA, foi obrigado a mudar o registo para LUSITANIA l, por existir um outro lugre com o mesmo nome, registado em São Vicente, Cabo Verde.

Do LR1922 – Tab 835 to Tal 761 to (penso que o peso morto seria 960 to)

Cpmts.: Pp 61,08 mt > Boca 11,16 mt > Pontal 6,07 mt

O jornal dizia 66,50 mt (deve ser Ff) e Boca 11,3 mt

Foi equipado e origem com um motor diesel Yeovil Potter (Hol?), 1919, com 58 Nhp, desenvolvendo uma velocidade de 6 m/h.

Naufragou na posição 52º05'N 05º10'W (Mar da Irlanda, próximo à costa Inglesa, ao norte do Cabo que dá entrada ao Canal e Bristol), possivelmente devido a mau tempo, a 16 de Abril de 1922.

A Empresa de Pesca de Viana fundada em 1926 ou mesmo a sua antecessora a Companhia Marítima de Transportes e Pesca., Lda. nada consta que das suas frotas tenham existido lugres de quatro mastros, salvo o famoso SANTA MARIA MANUELA.

A existência do quadro nas instalações da Empresa de Pesca de Viana, muito possilvelmente dever-se-há ao facto de se tratar dum navio construido em Viana do Castelo, com caracteristicas muto especiais (motorizado) e pode muito bem ter sido a primeira grande construção Vianense, certamente motivo de grande orgulho.

No que respeita às bandeiras do armador do NAVIO MISTÉRIO e do lugre-motor RIO LIMA, por impossibildade de comparação, estarão seguramente num plano irrelevante.

*escora (de embarcação varada ou na carreira).

Rui Amaro

4 comentários:

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Rui Amaro, (permita que o trate assim) desculpe lá a pergunta, mas gosto de aprender,
cachorro, escora e picadeiro é tudo o mesmo ou são coisas diferentes? penso que se chama picadeiro ás peças que suportam os navios, desculpe lá a ignorância na matéria.Já agora como sei que é uma pessoa sábia e bem informada diga-me uma coisa nós em Portugal temos arquitectos navais (penso que se chama assim) que projectem navios de raiz, porta contentores, ferrys etc?
Um Abraço
Manuel

Rui Amaro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Amaro disse...

Amigo Manuel
Pelo que sei e confirmei na Net, no Dicionário Náutico e no Priberam da Língua Portuguesa
CACHORRO ou ESCORA são os toros também chamados de esteios que suportam as embarcações quando varadas ou na carreira de estaleiro em construção ou em reparação.
PICADEIRO é a armação de madeira ou metálica que apoia a quilha ou o fundo da embarcação durante a sua construção ou reparação.
ARQUITECTO NAVAL, PROJECTISTA NAVAL, ENGENHEIRO CONSTRUCTOR NAVAL– pois certamente existem e julgo que pelo menos são formados pela Universidade Técnica de Lisboa, e também na Marinha de Guerra, e desempenham funções relacionadas com a concepção, projecto, construção, manutenção de embarcações e gestão da operação dos sistemas e regulamentos ligados à autoridade marítima e afins, poderão ser poucos, mas também se compreende pelas dificuldades que a industria de construção naval e afins atravessa,
Agora há projectos encomendados pelos armadores nacionais a técnicos de outros países e depois dá “barracada”, como infelizmente há pouco tempo se deu entre nós, mas também há o oposto, os nossos experimentados projectistas, também são chamados a colaborar em projectos no estrangeiro que nada têm a ver com a industria naval Portuguesa, e têm sido bem sucedidos. È a competitividade internacional!
Em meados da década de 70, quando os contentores começaram a evoluir, fiz um desenho de um novo porta-contentores, desenhado de perfil e à escala em folha A-3 e com as cores da companhia Commodore e o nome característico da mesma COMMODORE ENDEAVOUR, e coloquei-o sobre a minha secretária de trabalho.
Essa nossa representada estava em vias de encomendar um novo navio. Um certo dia um capitão dessa companhia, já veterano na carreira de Portugal, que estava com seu navio em Leixões, teve de ir comigo ao escritório e vendo o desenho, pôs-se a apreciá-lo e a fazer cálculos, que desses eu não entendia nada, e virando-se para mim, disse, Rui vou-te roubar o desenho, vou entregá-lo na companhia, que procura ideias para o projecto do novo navio, e lá o levou, e eu disse cá para mim “È maluco ou faz-se”, mas o certo é que baseado ou não no meu desenho, projectaram o COMMODORE ENTERPRISE, tal e qual o do meu desenho, fora o nome, navio esse, que atendi em Leixões por muitos anos e com o mesmo capitão. Resumindo fui um “projectista roubado sem direitos de autor e ainda por cima para o estrangeiro”.
Disponha sempre.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Rui Amaro, Obrigado por me esclarecer.
Um Abraço
Manuel