terça-feira, 26 de novembro de 2013

O VAPOR NORUEGUÊS “BRO” MUDOU DUAS VEZES DE NACIONALIDADE EM POUCO MAIS DE MEIO DIA E ENTROU NO TEJO COM A BANDEIRA PORTUGUESA IÇADA

O BRO deamandando o porto de Leixões em 1952 / (c) Foto Mar, Leixões /.

O BRO jà a salvo no estuário do Tejo, acompanhado pelo PRAIA DA ADRAGA /Jornal de Noticias /.

O BRO em manobras de acostagem ao cais da Rocha do Conce de Òbidos /Jornal de Noticias/.

O INGER LISE em navegação durante a 2º guerra mundial /autor desconhecido-Lillesand Sjomannsforening/.


O Salvadego PRAIA DA ADRAGA no Tejo em 1964 / autor desconhecido - foto passada por Nuno Bartolomeu, Almada /.

22/11/1962, como ontem noticiamos em primeira mão, a despeito de termos recebido as informações mais contraditórias, o vapor Norueguês BRO, em rota de Sevilha para Roterdão, depois de ter estado em grande perigo a umas três milhas a oeste das Berlengas sendo então abandonado pelos seus tripulantes cujas vidas correram sério perigo (um deles foi tragado pelas águas) conseguiu salvar-se em virtude das ondulação deixar de se fazer sentir.
O vento rondou do quadrante sul para o de norte, passou a borrasca que açoitara aquela zona, de madrugada e o mar acalmou-se.
Não fora esta circunstancia, aliás impressível às primeiras horas da manhã de anteontem, o BRO nessa altura jazeria no fundo rochoso das águas, nas proximidades dos ilhéus das Estelas.
Por isso, o comandante tomou a decisão lógica ante as duras más condições em que o navio estava, o abandono do navio. Uma só das centenas das voltas de mar que, durante mais de três horas açoitavam o seu navio, poderia ter acabado com ele, levando no vértice do afundamento todos os seus vinte tripulantes. Com uma inclinação de 23 graus (primeiro) e de cerca de 30 (depois) a cada onda, o BRO adornado sobre bombordo, em consequência da carga de mais de 2.000 toneladas de pirites se ter deslocado para esse bordo, atingia inclinações maiores e poderia voltar-se, o que significaria o naufrágio imediato.
Estas, as condições em que foi decidido o abandono do navio. Não havia outra coisa a fazer, nem estes casos se compadecem com valentias fáceis de quem está comodamente em casa a ouvir telefonia de pantufas calçadas.
O que se passou posteriormente confirma o panorama esboçado.

Os tripulantes Gregos do navio-tanque CALTEX DURBAN, que subiram a bordo do BRO, acabaram por abandonar o navio com receio do seu afundamento.
A reportagem do Jornal de Noticias deixou de ter informações sobre o BRO ontem à noite, quando o vapor Norueguês já havia sido abordado por quatro membros da tripulação Grega do navio-tanque Panamiano CALTEX DURBAN, que desfraldaram a bandeira do Panamá, para garantirem, segundo as leis marítimas internacionais, a posse do salvado. Estabeleceram um cabo para bordo do petroleiro, e procuravam rebocar o BRO para o porto de Lisboa.
Perto, navegava o salvadego Português PRAIA DA ADRAGA, da Sociedade Geral de Comércio, Industria e Transportes, de Lisboa, que largara para ali de manhã e acompanhava os outros dois navios desde as 14 horas.
Já na madrugada de ontem, a oeste da Ponta da Lamparoeira, o mar piorou muito, A carga, que as anteriores condições favoráveis tinham permitido arrumar melhor, voltou s deslocar-se toda para bombordo. Açoitado de todos os lados, o BRO esteve de novo prestes a afundar-se, à medida que a crista de cada vaga rebentava nas suas amuras. Rebentou o cabo que o ligava ao CALTEX DURBAN e o comandante deste começou a recear pela sorte dos seus homens, que ainda permaneciam a bordo do navio em dificuldades.
Pouco depois de uma hora, o navio-tanque Panamiano solicitava do capitão do PRAIA DA ADRAGA, comandante Joaquim da Silva Oliveira, a recolha dos quatro marinheiros Gregos. O receio pelos perigos que as suas vidas corriam, venceu a ânsia do lucro, e os marítimos do navio-tanque retiraram-se, arriando a sua bandeira. O BRO era de novo um salvado sem nacionalidade.
Do PRAIA DA ADRAGA os marinheiros Gregos recolheram ao CALTEX DURBAN, que pouco depois seguia o seu rumo, abandonando aquelas águas.

O PRAIA DA ADRAGA salvou o vapor BRO.
Foi então a vez do comandante Joaquim da Silva Oliveira examinar a situação, o BRO mantinha-se com dificuldade ao de cima de água. Andava sinistramente, mas resistia. Perfeitamente conhecedor daquelas águas e dispondo de uma embarcação mais habilitada para reboques e salvamentos, o capitão do PRAIA DA ADRAGA, resolveu tentar a sua sorte.
Passou tripulantes para bordo e estabeleceu quatro cabos de reboque ao BRO. Começou então o reboque para o porto de Lisboa. Com mil cautelas os Portugueses que ficaram no BRO, depois de içarem a bandeira Portuguesa (era a segunda vez que o BRO mudava de pavilhão, em pouco mais de meio dia) procuraram escorar a carga o, tanto quanto possível estivá-la melhor.
Embora voltasse a passar por momentos muito difíceis, especialmente nas zonas dos cabos da Roca e Raso, o BRO aguentou-se e entrou na barra do Tejo cerca das 13 horas de ontem.
Cerca das 15 horas, o BRO surgiu ante o cais de Alcântara e atracava ao cais da Rocha do Conde de Óbidos, meia hora mais tarde. Foi ali visitado, pouco depois da atracação, pelos representantes dos armadores e começou logo a ser aliviado da carga. Mais tarde foi visitado pelas autoridades marítimas.
De acordo com as leis marítimas internacionais, o navio e a carga pertencem agora à empresa do navio salvador, neste caso a Sociedade Geral de Comércio, Industria e Transportes, de Lisboa.
E assim terminou a odisseia do vapor BRO que custou a vida ao seu imediato e que esteve prestes a afundar-se por duas vezes, e também por duas vezes mudou de nacionalidade.

BRO – imo 6505356/ 77,6m/ 1.582tb/ 9,5nós; 11/1939 entregue pelo estaleiro Porsgrunds Mekaniska Verksted, Porsgrunn, como INGER LISE a Alf Mortensen, Oslo; 1939/45 tomou parte em vários comboios marítimos e em navehação isolada ao lado das forças navais Aliadas; 1947 BLINK, Skibs A/S Monitowoc, Oslo; 1951 BRO, Berger Pedersen & Sons Rederi A/S, Haugesund; 04/1967 BRO, enquanto em operações de descarga em Sturesund, sofreu  um forte incêndio na sala das caldeiras, pelo que retirado de serviço, entranso em “laid up” em Haugesund; 06/06/1967 BROR, Torsten Johannisson, Gotemburgo, que o empregou como um  “store ship”; 06/1968 chegava a Santander para desmantelamento em sucata.  
Fontes; Jornal de Noticias, Norwegian Merchant Fleet, Miramar Ship Index, Lillesand Sjomannsforening.
Rui Amaro

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