O BRO deamandando o porto de Leixões em 1952 / (c) Foto Mar, Leixões /.
O BRO jà a salvo no estuário do Tejo, acompanhado pelo PRAIA DA ADRAGA /Jornal de Noticias /.
O BRO em manobras de acostagem ao cais da Rocha do Conce de Òbidos /Jornal de Noticias/.
O INGER LISE em navegação durante a 2º guerra mundial /autor desconhecido-Lillesand Sjomannsforening/.
O Salvadego PRAIA DA ADRAGA no Tejo em 1964 / autor desconhecido - foto passada por Nuno Bartolomeu, Almada /.
22/11/1962,
como ontem noticiamos em primeira mão, a despeito de termos recebido as
informações mais contraditórias, o vapor Norueguês BRO, em rota de Sevilha para
Roterdão, depois de ter estado em grande perigo a umas três milhas a oeste das
Berlengas sendo então abandonado pelos seus tripulantes cujas vidas correram
sério perigo (um deles foi tragado pelas águas) conseguiu salvar-se em virtude
das ondulação deixar de se fazer sentir.
O vento
rondou do quadrante sul para o de norte, passou a borrasca que açoitara aquela
zona, de madrugada e o mar acalmou-se.
Não fora
esta circunstancia, aliás impressível às primeiras horas da manhã de anteontem,
o BRO nessa altura jazeria no fundo rochoso das águas, nas proximidades dos
ilhéus das Estelas.
Por isso, o
comandante tomou a decisão lógica ante as duras más condições em que o navio
estava, o abandono do navio. Uma só das centenas das voltas de mar que, durante
mais de três horas açoitavam o seu navio, poderia ter acabado com ele, levando
no vértice do afundamento todos os seus vinte tripulantes. Com uma inclinação
de 23 graus (primeiro) e de cerca de 30 (depois) a cada onda, o BRO adornado
sobre bombordo, em consequência da carga de mais de 2.000 toneladas de pirites
se ter deslocado para esse bordo, atingia inclinações maiores e poderia
voltar-se, o que significaria o naufrágio imediato.
Estas, as
condições em que foi decidido o abandono do navio. Não havia outra coisa a
fazer, nem estes casos se compadecem com valentias fáceis de quem está
comodamente em casa a ouvir telefonia de pantufas calçadas.
O que se
passou posteriormente confirma o panorama esboçado.
Os tripulantes Gregos do navio-tanque CALTEX
DURBAN, que subiram a bordo do BRO, acabaram por abandonar o navio com receio
do seu afundamento.
A reportagem
do Jornal de Noticias deixou de ter informações sobre o BRO ontem à noite,
quando o vapor Norueguês já havia sido abordado por quatro membros da tripulação
Grega do navio-tanque Panamiano CALTEX DURBAN, que desfraldaram a bandeira do
Panamá, para garantirem, segundo as leis marítimas internacionais, a posse do
salvado. Estabeleceram um cabo para bordo do petroleiro, e procuravam rebocar o
BRO para o porto de Lisboa.
Perto,
navegava o salvadego Português PRAIA DA ADRAGA, da Sociedade Geral de Comércio,
Industria e Transportes, de Lisboa, que largara para ali de manhã e acompanhava
os outros dois navios desde as 14 horas.
Já na
madrugada de ontem, a oeste da Ponta da Lamparoeira, o mar piorou muito, A
carga, que as anteriores condições favoráveis tinham permitido arrumar melhor,
voltou s deslocar-se toda para bombordo. Açoitado de todos os lados, o BRO
esteve de novo prestes a afundar-se, à medida que a crista de cada vaga
rebentava nas suas amuras. Rebentou o cabo que o ligava ao CALTEX DURBAN e o
comandante deste começou a recear pela sorte dos seus homens, que ainda
permaneciam a bordo do navio em dificuldades.
Pouco depois
de uma hora, o navio-tanque Panamiano solicitava do capitão do PRAIA DA ADRAGA,
comandante Joaquim da Silva Oliveira, a recolha dos quatro marinheiros Gregos.
O receio pelos perigos que as suas vidas corriam, venceu a ânsia do lucro, e os
marítimos do navio-tanque retiraram-se, arriando a sua bandeira. O BRO era de
novo um salvado sem nacionalidade.
Do PRAIA DA
ADRAGA os marinheiros Gregos recolheram ao CALTEX DURBAN, que pouco depois
seguia o seu rumo, abandonando aquelas águas.
O PRAIA DA ADRAGA salvou o vapor BRO.
Foi então a
vez do comandante Joaquim da Silva Oliveira examinar a situação, o BRO
mantinha-se com dificuldade ao de cima de água. Andava sinistramente, mas
resistia. Perfeitamente conhecedor daquelas águas e dispondo de uma embarcação mais
habilitada para reboques e salvamentos, o capitão do PRAIA DA ADRAGA, resolveu
tentar a sua sorte.
Passou
tripulantes para bordo e estabeleceu quatro cabos de reboque ao BRO. Começou
então o reboque para o porto de Lisboa. Com mil cautelas os Portugueses que
ficaram no BRO, depois de içarem a bandeira Portuguesa (era a segunda vez que o
BRO mudava de pavilhão, em pouco mais de meio dia) procuraram escorar a carga
o, tanto quanto possível estivá-la melhor.
Embora
voltasse a passar por momentos muito difíceis, especialmente nas zonas dos
cabos da Roca e Raso, o BRO aguentou-se e entrou na barra do Tejo cerca das 13
horas de ontem.
Cerca das 15
horas, o BRO surgiu ante o cais de Alcântara e atracava ao cais da Rocha do
Conde de Óbidos, meia hora mais tarde. Foi ali visitado, pouco depois da
atracação, pelos representantes dos armadores e começou logo a ser aliviado da
carga. Mais tarde foi visitado pelas autoridades marítimas.
De acordo
com as leis marítimas internacionais, o navio e a carga pertencem agora à
empresa do navio salvador, neste caso a Sociedade Geral de Comércio, Industria
e Transportes, de Lisboa.
E assim
terminou a odisseia do vapor BRO que custou a vida ao seu imediato e que esteve
prestes a afundar-se por duas vezes, e também por duas vezes mudou de
nacionalidade.
BRO – imo 6505356/ 77,6m/ 1.582tb/ 9,5nós;
11/1939 entregue pelo estaleiro Porsgrunds Mekaniska Verksted, Porsgrunn, como INGER LISE a Alf
Mortensen, Oslo; 1939/45 tomou parte em vários comboios marítimos e em navehação isolada ao lado das
forças navais Aliadas; 1947 BLINK, Skibs A/S Monitowoc, Oslo; 1951 BRO, Berger
Pedersen & Sons Rederi A/S, Haugesund; 04/1967 BRO, enquanto em operações
de descarga em Sturesund, sofreu um forte
incêndio na sala das caldeiras, pelo que retirado de serviço, entranso em “laid
up” em Haugesund; 06/06/1 967 BROR, Torsten Johannisson, Gotemburgo, que o
empregou como um “store ship”; 06/1968
chegava a Santander para desmantelamento em sucata.
Fontes;
Jornal de Noticias, Norwegian Merchant Fleet, Miramar Ship Index, Lillesand
Sjomannsforening.
Rui Amaro
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